Débora Couto de Mendonça, de 38 anos, irmã do papiloscopista, esteve no Fórum para a primeira audiência Pedro Ivo/Agência O Dia
Publicado 19/09/2022 21:51 | Atualizado 20/09/2022 08:17
Rio - Terminou, nesta segunda-feira (19), o primeiro dia de audiência de instrução do assassinato do papiloscopista da Polícia Civil, Renato Couto de Mendonça, aos 41 anos, morto em maio deste ano por três militares da Marinha e pelo dono de um ferro-velho na Praça da Bandeira, Zona Norte do Rio. A audiência aconteceu no Fórum Central do Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ).


Segundo a irmã do policial, Débora Couto de Mendonça, de 38 anos, a primeira audiência ficou marcada como uma “grande peça de teatro”, e que a defesa dos acusados teria alegado que o motivo da morte seria do próprio papiloscopista.

"A defesa deles tentando o tempo inteiro colocando a culpa no meu irmão de que foi ele a arrumar confusão, sendo que isso não justifica o homicídio. O crime foi muito cruel, muito cruel. Meu irmão realmente teve uma discussão, mas ele estava em busca de algo que era dele. Ele foi em busca de algo que ele trabalhou para ter sendo tirado dele de forma ilícita", disse Débora, em entrevista ao DIA.

De acordo com o Tribunal de Justiça, um dos acusados pelo caso, Lourival Ferreira de Lima, não compareceu à audiência, devido há um problema com a viatura que faria seu transporte da unidade prisional em que se encontra acautelado até o tribunal. Apesar de sua ausência, a Defesa do acusado não se opôs à realização da audiência sem a sua presença por meio de videoconferência.

A ausência de Lourival não foi a única no tribunal. Segundo o TJ, outras testemunhas não estiveram presentes para a audiência de instrução, o momento em que as partes são ouvidas por um juiz ou uma juíza para colheita de depoimentos de partes e/ou testemunhas. "Faltaram algumas testemunhas de defesa e de acusação e a gente vai aguardar uma nova data, esperando que a Justiça seja feita", disse Débora.

Uma nova audiência será marcada para ser finalizada a colheita dos depoimentos. O Ministério Público reiterou durante a audiência de que todas as testemunhas fossem ouvidas, tanto de defesa quanto de acusação. Apenas duas pessoas prestaram depoimentos neste primeiro dia.

Indignada com o caso, a irmã do papiloscopista se mostrou revoltada com o posicionamento da esposa de um dos acusados, Bruno Santos de Lima, alegando que foi o próprio policial que incitou a confusão.

"Achei ridículo a esposa do Bruno falando e chorando do vídeo de que meu irmão teria batido no Lourival quando meu irmão nem agrediu ele e sim o Adriano. Falando que eles têm um filho pequeno, sabendo que meu irmão deixou dois filhos pequenos. Meu irmão foi um ótimo policial, anteriormente ele foi do exército, inclusive militar da marinha e em todas as instituições que ele passou, todos só falam coisas boas dele. Nunca teve um mau comportamento. Já todos os acusados têm passagem por lesão corporal, receptação, entre outras coisas. Só disso dá para ver as diferenças de pessoas", afirmou.

Até o momento, o juiz Alexandre Abrahão Dias Teixeira, não definiu uma nota data para a próxima audiência.

Como foi o crime

O papiloscopista fazia uma obra na Praça da Bandeira e, segundo as investigações, foi vítima de uma sequência de furtos, todos registrados em delegacia. Na sexta de manhã, Renato acabou achando materiais dele no ferro-velho de Lourival e chegou a obter dele uma promessa de ressarcimento pela receptação das peças levadas.

Instruído pelo dono do local a retornar em outro horário, Renato foi vítima de uma emboscada armada por Lourival, que chamou o filho, Bruno Santos de Lima, sargento da Marinha, e dois colegas de farda: o cabo Daris Fidelis Motta e o terceiro-sargento Manoel Vitor Silva Soares. Nessa ocasião, o papiloscopista foi baleado e colocado dentro de uma van, onde foi baleado três vezes e sofreu ferimentos no abdômen e membros inferiores, conforme a perícia preliminar.

Do local do sequestro, os militares seguiram para o Arco Metropolitano, de onde atiraram a vítima de uma ponte, na altura de Japeri, na Baixada Fluminense. Apesar disso, o policial teria morrido por afogamento, já que o documento da análise apontou que foi encontrada água em seus pulmões.

O veículo pertencia à Marinha, e teria sido levado para um quartel após a desova do corpo. Dentro da unidade militar, a van teria sido ainda lavada.
*Colaborou Pedro Ivo
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