Publicado 26/09/2022 19:57
Rio - João Candido Portinari, filho único e herdeiro do artista plástico Candido Portinari, foi homenageado na Casa D'Itália, o Consulado Italiano no Centro do Rio. Diretor-geral do Projeto Portinari, ele recebeu o título de Oficial da Ordem da Estrela da Itália, entregue pelo embaixador Francesco Azzarello na noite desta segunda-feira (26). A honraria foi concebida pelo presidente italiano Sergio Mattarella por intermédio do ministro das Relações Exteriores da Itália Luigi di Maio.
A homenagem foi conferida em reconhecimento à promoção e consolidação das relações entre o país europeu e o Brasil. Filho de imigrantes da região de Veneta, no nordeste da Itália, Portinari carregou a influência de traços italianos em suas obras.
"A cultura italiana nas obras de Portinari tem uma importância ímpar. Quando ele faz 'A Primeira Missa no Brasil', em 1948, estávamos autoexilados no Uruguai porque o governo começou a perseguir violentamente as pessoas de esquerda. Foi uma revolução cromática. O grande crítico Mário Pedrosa escreveu um texto dizendo: 'finalmente Portinari encontra suas origens venetas'. Você vê um cromatismo inaugural, totalmente diferente de tudo que Portinari tinha feito até então", explicou João Candido.
Na época, o crítico Mário Pedrosa declarou que o artista carregava a herança dos grandes pintores italianos. João Candido conta que a forte união dos dois países carregada por Portinari foi presente até nos últimos momentos da vida do pintor.
"O médico dele relatou para nós que, nos últimos momentos de vida de Portinari, as última palavras que ele pronunciou foram em dialeto veneto. O que é impressionante porque ele nunca tinha falado em dialeto veneto durante a vida toda. Deve ter sido uma visita às memórias de infância, quando meus avós falavam veneto em casa", relatou.
Apesar da influência italiana, as obras de Portinari tinham as questões sociais brasileiras como principal tema. O filho do artista ressaltou a atemporalidade das obras. Esse aspecto é visível no painel 'Guerra', feito em 1956, que mostra o contexto da população civil nas situações de conflito. Portinari, para apresentar a situação de calamidade, não retratou os "objetos" de confronto, mas sim as vidas afetadas por eles.
"A obra de Portinari é absolutamente atual. Há quantos anos que ele denunciou a desigualdade, a miséria e a injustiça social no Brasil... Como os painéis 'Guerra' e 'Paz', de 1956, que são a obra máxima, a grande síntese do que ele quis expressar em sua vida. A humanidade está entrando em uma situação de insanidade e ele já havia denunciado isso. Por exemplo, no painel da guerra, você não vê tanques, metralhadoras e soldados. Só vê os sofrimentos das populações civis. Acho que ele já tinha essa visão da violência, dessa situação caótica em que o mundo se encontra hoje em dia", destacou.
O embaixador Francesco Azzarello também exaltou a honraria entregue. "Hoje a Itália quer agradecer a João Cândido com uma honraria que tem o significado simbólico particular. É uma forma de agradecer o que você tem feito com uma imensa paixão e dedicação em divulgar a obra de seu pai, um dos maiores pintores brasileiros, de origem italiana, do século XX. É um reconhecimento pessoal ao infatigável João Cândido e sua contribuição para a cultura, a arte e, por que não, à poesia e à religiosidade que caracterizam as relações entre dois povos ligados pelo sangue, Itália e Brasil".
Candido Portinari nasceu em 1903 em uma fazenda de café próximo a Brodowski, no interior de São Paulo. Filho de imigrantes italianos de origem humilde, ele teve uma infância pobre e começou a pintar aos nove anos. Suas obras tinham o objetivo de retratar o Brasil - a história, o povo, a cultura, a flor, a fauna... Entre suas principais pinturas estão os painéis 'Guerra' e 'Paz', feitos em 1956, e "Primeira Missa no Brasil", de 1948.
Portinari morreu em 1962, vítima de intoxicação pelas tintas que usava. Em 1979, João Candido, filho único do artista, funda o 'Projeto Portinari' com o objetivo de resgatar a vida e a obra do pai. Além disso, o projeto também busca a preservação da memória nacional e a identidade cultural brasileira. Entre outros materiais, já foram levantados 5,3 mil pinturas, desenhos e gravuras atribuídos ao pintor, mais de 25 mil documentos sobre sua obra, sua vida e sua época.
'Portinari Raros'
A exposição inédita 'Portinari Raros' aconteceu entre os dias 22 de junho e 12 de setembro no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), no Centro do Rio. Foram mais de 45 obras de Candido Portinari que foram pouco ou nunca vistas. Dividida em nove núcleos, a mostra ocupou o primeiro andar do CCBB e revelou a diversidade do artista. A exposição foi vista por mais de 100 mil pessoas.
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