Publicado 28/09/2022 13:38
Rio - A campanha nacional de vacinação contra a poliomielite chega ao fim na próxima sexta-feira (30), mas longe de ter alcançado o público-alvo esperado de 95% no estado do Rio de Janeiro que, até 22 de setembro, imunizou apenas 36,51% do grupo com idades entre 1 e 4 anos. Dados do Departamento de Monitoramento e Avaliação do SUS (DEMAS) apontam que desde o início da ação, foram contempladas cerca de 240 mil crianças, entre doses extras oral (gotinha) e da vacina injetável.
De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES), a cobertura vacinal de rotina contra a doença vem caindo ao longo dos últimos cinco anos. Em 2017, a taxa de adesão ficou em 88,76% e caiu para 87,48% em 2018. Em 2019 e 2020 a queda continuou sendo registrada, ficando em, respectivamente, 73,62% e 53,97%. No ano passado, a redução foi ainda maior, tendo alcançado apenas 52,94% do público-alvo no estado do Rio.
"A SES vem reforçando junto às coordenações de imunização dos 92 municípios do estado a importância da realização de busca ativa e outras estratégias, como agendamento e vacinação extramuros, para aumentar a cobertura vacinal no estado", informou a secretaria, em nota.
A baixa adesão à vacinação também afeta a capital fluminense, que espera vacinar 300 mil crianças até o final da campanha. Entretanto, segundo a Secretaria Municipal de Saúde do Rio, foram aplicadas, até o momento, aproximadamente 136 mil doses, o que representa uma taxa de cobertura de apenas 43%. A SMS reforçou que conta com mais de 230 unidades de Atenção Primária, entre Clínicas da Família e Centros Municipais de Saúde, funcionando de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, e das 8h às 12h aos sábados, para aplicar as doses.
"A SMS-Rio reforça a importância dos pais levarem seus filhos aos pontos de vacinação para protegê-los contra a paralisia infantil. A secretaria realiza constantemente ações de divulgação, busca ativa e atividades extramuros, para facilitar o acesso de todas as pessoas à vacinação", afirmou a pasta.
A baixa cobertural vacinal da poliomielite vem causando preocupação não só Rio de Janeiro, mas em todo o país. De acordo com o painel de monitoramento do Ministério da Saúde, há 11.572.563 crianças integrantes do público-alvo da campanha no Brasil, das quais apenas 6.273.472 já foram imunizadas. Dessa forma, a cobertura nacional é de somente 54,21%.
Em 2020, o relatório da Comissão Regional para a Certificação (RCC) da Erradicação da Poliomielite nas Américas (OPAS/OMS) expressou preocupação com a possibilidade de reintrodução do poliovírus no Brasil. Desde então, o país passou a integrar a lista de alto risco para a doença, ao lado de Bolívia, Equador, Guatemala, Haiti, Paraguai, Suriname e Venezuela. A pesquisadora em Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Chrystina Barros, alertou para o risco da pólio voltar a circular entre os brasileiros.
"A doença pode estar erradica por aqui, mas o vírus existe circulando no mundo, em algumas regiões. A gente lembra que o covid mostrou que vírus não conhecem fronteiras. Então, a qualquer momento, esse vírus pode circular novamente e, na medida que a gente tem uma baixa cobertura vacinal, encontrando uma pessoa sem essa proteção, a doença se manifesta e, a partir daí, a gente pode ter o ressurgimento de surtos locais ou da doença voltando de uma maneira prevalente, o que a gente não quer", disse a pesquisadora.
Segundo a consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, a infectologista Tânia Vergara, ao não vacinarem seus filhos, os responsáveis assumem o risco de que as crianças sofram com sequelas graves da poliomielite. "Não levar as crianças para vacinar é como deixá-las a beira de um precipício e contar com a sorte para que não caiam. Que pai ou mãe gostaria de ver seus filhos presos a uma cadeira de rodas? Quem suportaria sem sentimento de culpa ver seu filho sem conseguir respirar, se soubesse que poderia ter evitado esse terrível desfecho. Vacinar é um ato de amor", declarou a infectologista.
Para a especialista em Gestão de Saúde do Instituto de Pós-Graduação em Administração (COPPEAD) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Claudia Araujo, além dos riscos graves à saúde das crianças, a não vacinação pode impactar diretamente no funcionamento do sistema de saúde, por conta da necessidade de deslocar recursos para tratar doenças que poderiam ser prevenidas.
"A não adesão a vacinação é um grande problema para as famílias, é uma irresponsabilidades dos pais, dos responsáveis. Não aplicar vacinas comprovadamente seguras nas suas crianças, (está) colocando suas crianças em risco sem necessidade. Então, tem um problema de ordem individual, no âmbito familiar, que é bastante série, e o impacto que isso tem no sistema de saúde, como isso pressiona os custos do sistema saúde, tendo que deslocar recursos escassos para tratar doenças que não precisariam estar sendo tratadas, porque tem como prevenir. A palavra de ordem é prevenção", alertou a especialista.
A Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite e Multivacinação começou em 8 de agosto e ocorre em todo o país, com o objetivo de atualizar a caderneta de vacinação de pessoas com até 15 anos. Na ação, as crianças de 1 a 4 anos poderão receber uma dose extra da vacina contra a pólio inativada (VIP) ou da vacina contra a pólio oral (VOP - gotinha), conforme a situação vacinal encontrada. O Ministério da Saúde também alerta que, mesmo com o fim da campanha, o imunizante contra a doença fica disponível nos postos de saúde durante todo o ano, já que faz parte do calendário de imunização.
"Vacinem seus filhos. Se hoje nós somos adultos saudáveis e sem sequelas da pólio, é porque nossos pais acreditaram nas vacinas e nos deram essa proteção. Basta uma criança para a gente perder essa luta, que dirá se a gente tiver o ressurgimento dessa doença. O risco é real", completou Barros.
Poliomielite
Segundo o Ministério da Saúde, a poliomielite, também chamada de pólio ou paralisia infantil, é uma doença contagiosa aguda causada pelo poliovírus, que vive no intestino, e pode infectar crianças e adultos por meio do contato direto com fezes ou secreções eliminadas pela boca das pessoas infectadas. A doença pode provocar paralisia e, nos casos graves, quando é muscular, os membros inferiores são os mais atingidos. A falta de saneamento, as más condições habitacionais e a higiene pessoal precária favorecem a transmissão.
As sequelas da poliomielite estão relacionadas com a infecção da medula e do cérebro pelo vírus, normalmente são motoras e não têm cura. Os sintomas mais frequentes são febre, mal-estar, dor de cabeça, de garganta e no corpo, vômitos, diarreia, constipação (prisão de ventre), espasmos, rigidez na nuca e até mesmo meningite. Nas formas mais graves pode ocorrer a flacidez muscular, que afeta um dos membros inferiores.
Ainda segundo a pasta, não existe tratamento específico e todas as vítimas de contágio devem ser hospitalizadas, recebendo cuidados dos sintomas, de acordo com o quadro clínico. O Ministério ressalta ainda que a vacinação é a única forma de prevenção da poliomielite e que todas as crianças menores de cinco anos de idade devem ser vacinadas conforme esquema de vacinação de rotina e na campanha nacional anual. O esquema vacinal contra a poliomielite é de três doses da vacina injetável, aos 2, 4 e 6 meses, e mais duas doses de reforço com a vacina oral bivalente.
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