Publicado 09/10/2022 13:55
Rio - "A gente tem que teimar contra isso, eu nunca mais piso lá". A frase é do bancário Paulo Moreira de Araújo Neto, de 28 anos, que acusa funcionários do Supermercado Zona Sul, na Rua Barão da Torre, em Ipanema, de calúnia e injúria por preconceito racial. O homem havia comprado um barril de chopp e uma garrafa de vinho mas, na saída da loja, precisou retornar e apresentar o comprovante de pagamento a um gerente, na última sexta-feira (7). Segundo o bancário, ele já havia presenciado outras situações de preconceito no dia-a-dia, no entanto, nunca tinha sido perseguido dentro um estabelecimento.
"Um sujeito correr atrás de mim, me segurando, eu nunca tinha passado. Foi uma coisa que nunca vou esquecer", desabafou. De acordo com o bancário, ele foi o único abordado no momento, mesmo com outras pessoas entrando e saindo do supermercado.
"Várias pessoas saíram junto comigo. Uns estavam sem sacola, outros com aquelas bolsas reutilizáveis, sem o logotipo da rede. Por que só me pararam?", indagou.
Paulo se refere ao segurança e do gerente da unidade que, após o pararem na rua e verificarem o comprovante de pagamento das compras, pediram que ele reapresentasse o cupom a um supervisor dentro do estabelecimento.
Outro fato que intrigou o homem foi a abordagem de um homem que, segundo o bancário, não estava na loja, nem utilizava o uniforme da rede. Segundo Paulo, que filmou o momento em que foi parado, ele parecia estar contornando a situação, mas de uma forma intimidatória.
"Ele veio falar no meu ouvido que eu devia ficar tranquilo, mas rindo e tentando me deixar intimidado. Aí eu fiquei com medo e achei que poderia até apanhar", contou.
Paulo, então, chamou a PM e teve uma nova surpresa. De acordo com ele, os militares não se dirigiram a ele quando chegaram ao local.
"O policial de maior patente, Elvis, ria com o gerente do mercado. Ele ouviu o funcionário primeiro, e me pediu para ficar calado. Quando vieram falar comigo, parecia que tentavam me fazer desistir de registrar a ocorrência", reclamou. "Eu acredito que a função da Polícia Militar é mediar o conflito, e não fazer uma acareação no local", continuou.
Com a insistência em ir à delegacia, Paulo seguiu em um carro de aplicativo. Já os funcionários foram na viatura. Foi quando ele teve mais uma surpresa: o homem que estava sem uniforme e falou ao ouvido do bancário não acompanhou os demais.
Já na 14ª DP (Leblon), onde o bancário registrou ocorrência, os funcionários envolvidos na ocorrência prestaram depoimento e saíram pela porta dos fundos, sem falar com a imprensa. Paulo garante que vai "até o final para que todos os envolvidos sejam punidos".
"Depois de tudo que aconteceu, eu me sentiria muito mal de não ir à delegacia. Vou até a última esfera judicial para que todos sejam punidos", disse.
Procurada pelo DIA, a rede de supermercados ainda não posicionou sobre o ocorrido. O espaço segue aberto para manifestação.
A assessoria da Polícia Militar informou, por meio de nota, que "em situações de mediação de conflitos como a relatada, os policiais militares são orientados a conter os ânimos dos envolvidos em busca de uma solução que harmonize o bom senso e o cumprimento da lei".
A PM ressaltou, ainda, que de acordo com a equipe do 23º BPM (Leblon) que atendeu a ocorrência, após "o gerenciamento de um atrito verbal realizado pelos policiais militares no momento em que chegaram ao endereço, a parte reclamante decidiu dirigir-se à delegacia do Leblon, de forma particular para registro".
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