Maria Thereza venceu o câncer de mama em estágio inicial fazendo o tratamento e conciliando com hábitos saudáveisReginaldo Pimenta / Agência O DIA
Publicado 17/10/2022 07:00
Rio - Ao descobrir que estava com câncer de mama em estágio avançado, Maria Thereza Santos Rodrigues, de 59 anos, teve duas opções: se prostrar diante da doença ou lutar pela sua recuperação. Ela escolheu lutar e, após sua segunda sessão de quimioterapia em 2017, começou a fazer caminhadas em casa. Hoje, Maria Thereza já correu quatro maratonas de 15 km, sendo a sua primeira durante o tratamento.
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, o número de casos da doença segue aumentando no Rio. Em 2021, foram registrados 2.868 novos casos em mulheres com idades entre 30 e 69 anos, sendo considerado 6,34% maior do que em 2020, com 2.697 novos casos. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), são cerca de 66.280 novas notificações para cada ano do triênio 2020-2022 no Brasil. Esse valor corresponde a uma estimativa de 61,61 novos diagnósticos de câncer de mama a cada 100 mil mulheres. Durante todo este mês, as campanhas do Outubro Rosa promoverão ações e iniciativas para conscientizar e alertar a população sobre a doença, principalmente as mulheres.



Maria Thereza descobriu o câncer de mama já em seu estágio avançado em 2016. Segundo ela, foi em um dia comum, durante o banho, que sentiu um caroço, mas ficou com medo e não falou para ninguém. "Eu nunca tinha feito mamografia porque falavam que doía muito. Quando percebi que tinha um caroço, não disse para ninguém e evitava passar a mão naquele local. Até que chegou um ponto que ele cresceu e passou a ser visível, chegando a machucar com o uso do sutiã", contou. Nesse momento, Maria se viu obrigada a procurar um médico para saber exatamente o que era. Foi quando recebeu o diagnóstico que ninguém quer ouvir: câncer. "O médico ficou surpreso porque estava muito avançado. A partir daí, comecei o meu tratamento. Foi muito complicado o início da quimioterapia, eu fiquei muito enjoada, vomitei muito. O corpo fica fraco, um horror", completou.

Foi correndo que ela encontrou um escape para o tratamento da doença. Como se sentia muito fraca, seu médico a incentivou a tentar andar dentro de sua casa, dando voltas na sala. Depois que conseguiu vencer essa etapa, passou a andar no corredor. Em seguida, 15 minutos na rua e logo alcançou os 30 minutos diários de caminhada. "Eu comecei a correr por causa do câncer. Meu primeiro passo foi caminhar em volta da mesa da sala, porque quando a gente faz quimioterapia, não temos condições nem de levantar da cama", explicou. "Meu médico pedia para que eu não deixasse o meu corpo se acostumar com a cama. No início, ao andar eu me segurava nas paredes. Depois, tomei coragem e consegui ir além, até que fiz a minha primeira caminhada de 5km, em junho de 2017, no Aterro do Flamengo. Após isso, nada mais me parou", completou.

A primeira maratona São Silvestre que Maria Thereza fez foi em 2017. "Eu fui muito orientada pela oncologista, porque era muita coisa para mim, né? Ele me acompanhou durante todo meu processo", concluiu. "Foi a melhor sensação do mundo, uma alegria que não consigo mensurar. Vi muitas pessoas emocionadas vendo a gente ali, firme. Eu sempre falo: diagnóstico não é sentença, então o câncer não veio para me matar, veio para modificar minha vida", acrescentou. "A corrida ajudou a me salvar e a vencer a batalha dessa doença", finalizou.

De acordo com a mastologista do Hospital Badim, Tainara Miranda, o câncer de mama é a neoplasia mais incidente nas mulheres, depois do câncer de pele. "Cerca de 28% dos cânceres diagnosticados nas mulheres são de mama. No Brasil, os registros apontam mais de 66 mil novos casos por ano, com 18 mil mortes pela doença", declarou. Tainara explicou que 70% desses cânceres são esporádicos, ou seja, não possuem relação com histórico familiar ou mutação genética. "Nesse caso, é importante se atentar aos fatores de risco, como tabagismo, exposição a radiação ionizante, consumo de álcool elevado, sedentarismo, obesidade pós-menopausa e a exposição ao estrogênio. Esses fatores podem aumentar a chance do câncer de mama", completou.

Ainda segundo Tainara, um dos fatores agravantes da doença é o diagnóstico tardio dela. "A gente sabe que quanto mais avançado, menor a chance de cura. Por isso, falamos tanto da importância do papel da mamografia anualmente para toda mulher com mais de 40 anos", acrescentou. A mastologista também destacou que hábitos saudáveis, como atividade física regular pelo menos 30 minutos por dia e uma alimentação equilibrada, podem ajudar a prevenir o câncer de mama. "A responsabilidade é de cada um de nós. Vamos juntos nessa luta", concluiu.

Com uma vida mais saudável, praticando exercícios físicos e se alimentando melhor durante a quimioterapia, Maria Thereza conseguiu reverter seu quadro. Ela teve 100% do câncer reduzido e não precisou fazer cirurgia para retirá-lo. "Quando eu descobri que estava doente, pensei que fosse morrer. Hoje, eu sou um milagre. O tratamento e a minha mudança de vida me permitiram viver a minha melhor versão. O câncer me mudou tanto por dentro quanto por fora", finalizou ela.
Cristiane Rocha, de 50 anos, descobriu o câncer de mama fazendo o autoexame, em 2018. "Eu estava passando sabonete quando senti um caroço na mama direita. Logo procurei ajuda e comecei a quimioterapia", contou. "Assim que eu descobri foi horrível a sensação. O lado positivo é que ele estava superficial, mas cresceu muito rápido. Com o tratamento, ele foi diminuindo e sumiu quando fiz a cirurgia. Tive que retirar a mama e a refiz colocando prótese", completou. "O processo foi muito duro. Foi difícil me ver no espelho, após a retirada, sem uma mama. Meu psicológico ficou abalado, quase não comia, ficava muito mal, meu cabelo caiu todo", afirmou. Cristiane declarou que a parte mais dolorosa não foi a do cabelo, mas de se ver sem sua mama."Quando finalizei o tratamento, fiquei em casa de repouso e depois voltei a ter minha vida normal, fazia as coisas, andava na rua", completou. 

A médica oncologista e coordenadora do comitê de Tumores Mamários da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Daniela Dornelles Rosa, afirmou que o cenário para o tratamento da doença é positivo por causa do avanço das pesquisas e dos tratamentos mais modernos. "Quando o câncer de mama é diagnosticado em seu estágio inicial, a chance de cura é de mais de 90%. Mesmo pacientes com tumores já em estágio avançado, conseguimos controlar a doença ainda assim", disse. "Apesar de ser mais frequentemente no mundo inteiro e nas mulheres, isso faz com que tenha muitos estudos de remédios novos e também muitas definições do que pode ser feito para melhorar. Por exemplo, a atividade física tem um impacto positivo na saúde de quem teve câncer de mama e de quem está em tratamento. Ela diminui sintomas da quimioterapia e aumenta a chance da pessoa não desenvolver mais depois do tratamento", acrescentou.
Outubro Rosa 
A data é celebrada anualmente, com o objetivo de compartilhar informações sobre o câncer de mama e promover a conscientização sobre a doença, proporcionando maior acesso aos serviços de diagnóstico e contribuindo para a redução da mortalidade.

Ações e iniciativas para a prevenção do câncer de mama no Rio

Uma campanha da Fundação do Câncer, chamada Outubro + que rosa, tem como objetivo alertar mulheres sobre a necessidade de cuidado permanente. A atriz e cantora Isabel Fillardis, embaixadora da ação, acredita que o foco não é só no câncer de mama, mas na saúde. "Quando se fala de outubro rosa, estamos focando não só no câncer, mas na saúde em geral da mulher. Por isso, precisamos alertá-las sobre a importância de se cuidar o ano inteiro, mantendo hábitos saudáveis, além de acompanhamento médico", destacou.

Dentre as ações previstas para o mês estão a palestra do diretor executivo da Fundação para os colaboradores da concessionária Ecoponte, roda de conversa virtual para os colaboradores da empresa Furnas e entrevistas com os especialistas da instituição.

A Secretaria de Estado de Saúde do Rio, com o intuito de reforçar a importância dos cuidados diários e da realização de exames preventivos para a doença, instalou mamógrafo móvel, que esteve em São Pedro da Aldeia, Região dos Lagos, e irá expandir a unidade do Rio Imagem para a Baixada Fluminense.

O Mamógrafo Móvel já passou por quatro cidades, sendo elas São Gonçalo, Rio de Janeiro, Nova Iguaçu e Magé. Ele já realizou 2.024 exames, sendo 1.127 mamografias e 897 ultrassonografias.

O Palácio Tiradentes, no Centro do Rio, recebeu iluminação especial em adesão ao Outubro Rosa. A iniciativa tem a finalidade de utilizar o prédio histórico para chamar a atenção das pessoas para essa campanha em prol da saúde e defesa da vida.
Além do câncer de mama, outros tipos mais incidentes nas mulheres são o do colo do útero, com estimativa de 16.700 casos; o colorretal, com 20 mil casos novos; e o câncer de pulmão, que responde por mais de 12 mil casos a cada ano, no triênio 2020-2022, segundo o Inca.
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