Publicado 16/10/2022 09:00
Comecei a última semana pensando na força da vida ao vivo, longe das interações virtuais e das mensagens trocadas na efemeridade da internet. Na minha mente vinham os dias que fazem toda a nossa jornada por aqui realmente valer a pena: aqueles em que abraçamos as pessoas fisicamente, adotamos o olho no olho e nos despimos dos filtros das redes sociais. Onde não estamos divididos por uma tela e precisamos ter a disposição do encontro.
Talvez esse sentimento tenha ficado ainda mais claro após encontrar duas amigas de longa data do jornalismo. Quando abracei uma delas, tentamos buscar na mente qual tinha sido a última vez que havíamos nos encontrado. E acredito que já fazia mais de um ano. "Não pode ser!", pensamos em voz alta e conjunta. Mas o tempo é mesmo assim: vai passando e, nessa de a gente se iludir com o compartilhamento da vida por mensagem e nas redes sociais, os dias ficam para trás. E os meses também...
Nesse enlace de universos, fiquei refletindo e constatando que os nossos melhores sentimentos parecem ter nascido mesmo para o convívio. É incrível como a gente se percebe, em alguns momentos, dando o real valor a alguns instantes na vida. Senti isso ao rumar, na terça-feira, para uma noite de samba ao lado da minha irmã. Moramos bem perto uma da outra, mas, por rotinas diferentes, nos falamos mais por mensagens durante a semana. No engarrafamento de Caxias até a Barra, tivemos, enfim, um tempo de colocar o papo em dia.
Naquela noite, inclusive, uma daquelas amigas do jornalismo estava lá. E eu fui até a sua mesa para dar um rápido abraço — afinal, quantos momentos a gente adia na ilusória certeza do amanhã? No palco, logo no primeiro show, o mestre Jorge Aragão me confirmou que a vida presencial será sempre inigualável. Percebi que a sua voz toma conta do espaço de um jeito bem particular. Para sempre me lembrarei da forma como ele declama os encontros e desencontros de amor, regendo os cantos através de gestos e acalentando docemente até as nossas lembranças mais duras: "Ainda me lembro bem/ Estava escrito assim/ Não me procure/ Nosso amor chegou ao fim..."
E assim constato que um show tem o poder de modificar todas as outras vezes que a gente venha a escutar um cantor em casa. Ou até mesmo a nossa cantoria solitária. Em menos de 24 horas, lá estava eu, entoando 'Papel de pão' pela casa, relembrando a energia do espetáculo. Aliás, acredito que despertamos a real potência dos nossos sentimentos quando estamos de corpo e alma num lugar. As nossas expressões mais embasbacadas surgem quando a vida se faz presente diante de nós em poesia, boas conversas, brindes e abraços. Que a gente possa se (re)encontrar, dia após dia, com tudo o que vale a pena sentir.
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