Publicado 09/11/2022 19:47
Rio - Policiais da 166ª DP (Angra dos Reis) investigam a morte de Oliver Gimenez, de 27 anos, morto a tiros de fuzil durante uma festa no dia 24 de setembro em Angra dos Reis, na Costa Verde do Rio. Familiares da vítima e testemunhas apontam que os policiais militares Gleidson de Abreu e Marcelo Calegari, lotados no 33º BPM (Angra dos Reis), são os responsáveis pelo crime.
Oliver estava acompanhado de familiares e amigos em um clube no bairro do Frade quando os dois agentes chegaram armados e fardados no local. Uma testemunha relatou que Gleidson e Marcelo teriam consumido bebidas alcoólicas e estavam "dando em cima de algumas meninas". No entanto, já na madrugada, houve uma confusão.
Os PMs teriam dado um soco na vítima, que se afastou com as mãos no rosto. Ainda de acordo com o depoimento, Marcelo puxou o fuzil e atirou contra Oliver na altura da barriga. Em seguida, os policiais foram embora na viatura.
A testemunha também narra que, no dia do fato, foi conduzida por policiais militares à 166ª DP (Angra dos Reis) para prestar depoimento. Ela relata que se sentiu coagida e, por isso, não contou o que realmente aconteceu. Quatro dias depois, retornou à delegacia e prestou uma nova declaração.
Em depoimento, Marcelo disse que foi à festa para separar uma briga generalizada. Chegando lá, cerca de trinta pessoas teriam avançado nele e em Gleidson. O agente afirma que, durante a confusão, ambos conseguiram puxar o fuzil e efetuaram um disparo no chão. Os estilhaços, então, teriam atingido os dois homens. Em seguida, os policiais retornaram para a viatura, que teria sido danificada pelos "baderneiros".
Um outro homem também foi baleado na perna. Ele conta que não estava envolvido no caso e contesta a versão de Marcelo.
"Como morador, sem ter nada a ver com o que aconteceu, tomei um tiro. Esses policiais ainda estão dizendo que tentaram tomar as armas deles. Não tem lógica isso. Os policiais estavam bebendo lá dentro do clube. Quem vai ser maluco para tomar a arma de um policial? Nunca vi isso acontecer. Ainda dizem que rolou briga. Eles estavam batendo nos outros à toa, sem ninguém estar fazendo nada. Final de tudo, estou aqui baleado, sem receber nenhum remédio", desabafou.
A advogada responsável pela representação da família da vítima, que preferiu não ter a identificação revelada, afirma que a vida de Oliver não pode ser restaurada, mas os autores precisam ser responsabilizados.
"Todas as medidas necessárias para que os responsáveis sejam levados à justiça e paguem por seus crimes serão buscadas, pois é o mínimo que se pode oferecer a família, uma vez que a vida do Oliver não pode ser restaurada. Seus pais não terão o filho de volta, suas filhas não crescerão sob os cuidados do pai e nada pode mudar o que aconteceu. Responsabilizar os autores, ainda mais por se tratar de quem deveria proteger a população e manter a segurança das pessoas, é o mínimo que podemos buscar", explicou.
Em depoimento, um familiar da vítima afirma que os agentes retornaram à casa de festas para fazer uma "limpeza no local". Além disso, também relatou que, antes do enterro da vítima, uma viatura parou em frente à casa do pai de Oliver. Dois policiais teriam descido do veículo e olhado pelo portão.
Oliver deixa duas filhas, sendo uma de 6 e outra de 8 anos. Thales Ramos, pai do jovem, conta que o filho era muito apegado a família e amado por todos. "A gente sempre espera partir na frente de nossos filhos. Além de meu filho, era meu melhor amigo. A primeira e a última mensagens do dia eram sempre dele. Ele era extremamente família, muito ligado a todos... meu Deus, um apego... Muito carinhoso com as filhas. Era um menino muito sorridente, de bem com a vida, trabalhador. Fazia todo tipo de trabalho, de obra, jardins... Odiava ficar desempregado", comentou.
Thales também disse que ficava preocupado com a violência quando o filho saía à noite. Ele, porém, não esperava que uma situação como essas poderia acontecer.
"Sexta-feira era o dia que ele gostava de sair. Eu, como pai, impliquei muitas vezes por preocupação, tendo em vista a realidade do nosso Brasil. Sempre falei para ter cuidado com o horário, mas jamais imaginava que seria uma tremenda covardia por parte de dois policiais. Eles deveriam estar zelando pelos cidadãos e não bebendo, fazendo uma série de coisas, como foi declarado por todos", lamentou.
Segundo o comando do 33º BPM (Angra dos Reis), os "policiais militares foram submetidos a um procedimento apuratório disciplinar no âmbito da unidade, que ainda está em andamento".
A Polícia Civil informou que o caso segue em investigação na 166ª DP (Angra dos Reis). Novas testemunhas, incluindo familiares da vítima, ainda serão ouvidas.
De acordo com o Tribunal de Justiça do Rio, o policial militar Gleidson de Abreu reprovou na última etapa do concurso para a Polícia Militar, denominada pesquisa social. Isso porque testemunhas teriam afirmado que ele estaria envolvido com o tráfico de drogas da região. Entretanto, não havia nenhum registro de ocorrência e Gleidson nunca tinha respondido pelo crime, não havendo comprovações do envolvimento. Por meio de uma apelação, ele conseguiu ingressar na corporação.
Investigação no 33º BPM
Em agosto deste ano, a Polícia Militar iniciou um procedimento para a apurar a veracidade de vídeos e áudios que revelariam um esquema de pagamento de propina no valor de R$ 24 mil mensais para policiais do 33º BPM (Angra dos Reis).
O material publicado aponta que o dinheiro seria entregue para que a quadrilha chefiada pelo traficante Hélder da Silva, o HD, recebesse informações sobre operações policiais na área onde ele atua – Sapinhatuba I e Belém.
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