Flordelis e mais quatro réus são julgados pela morte do pastor Anderson do CarmoBrunno Dantas/TJRJ
Publicado 09/11/2022 21:37 | Atualizado 09/11/2022 22:24
Rio- A última testemunha a depor nesta quarta-feira (9) foi a neta de Flordelis, Raquel Silva, também filha de Carlos Ubiraci, um dos envolvidos no crime e já julgado. Em depoimento, ao ser questionada pelo Ministério Público do Estado do Rio (MPRJ), sobre como foi o comportamento da ex-deputada após o falecimento do pastor Anderson do Carmo, ela alegou que foi de fingimento, pois a avó parecia estar satisfeita com a situação. Além da Flordelis, estão em julgamento Simone Santos, filha biológica da pastora; Rayane dos Santos Oliveira, neta; e Marzy Teixeira da Silva e André Luiz de Oliveira, filhos adotivos.

"Ela estava bem calma. A cara dela, aliás, era de satisfação. Teve até umas ligações que ela fez, em que ela fingiu choro e depois ficava tudo normal", lembrou.

O MPRJ questionou ainda se a família possuía algum lema, e Raquel confirmou: “O lema era negar até a morte”.

A testemunha comentou também sobre o caso dos cachorros da casa da família terem sido dopados. "Na minha opinião, eles estavam dopados. Estavam muito lentos, esquisitos. Eles não eram assim. Quatro dias depois , um deles morreu. Enterraram ele no quintal lá da casa. O médico até falou que estava na cara que os cachorros estavam dopados, mas aqui no Brasil não tinha o exame que poderia comprovar", informou.

Sobre os comentários na casa em relação aos planos para a morte do pastor, ela disse que ouviu a Isabel, filha adotiva de Flordelis, falar sobre o assunto. "Eu ouvi da Isabel. Eu estava conversando com ela, fomos para o quarto dela e ela disse: 'Minha mãe quer matar meu pai'. Então perguntei: 'Mas porque Isabel?'. E ela disse que seria porque ele (Anderson) estava fazendo muita merd*, mas eu falei para ela que devia contar para ele. Ela falou que não ligava e queria mais era que ele morresse mesmo", contou.

Envenenamento

Raquel relembrou as tentativas de envenenar Anderson. "Ela (Cristiane, filha adotiva) tomou um suco que era para o Anderson e foi parar no hospital. Quase morreu. Teve o episódio da Taiane, que bebeu o iogurte e foi parar no hospital. Os dois eram para o Anderson. Depois que soube que minha mãe passou mal, a Flordelis chegou a falar que se tivessem avisado ela, isso não teria acontecido", relatou.
Ela contou também que o pastor costumava passar mal depois das refeições, e que chegou a ver documentos de Flordelis e Simone serem queimados em uma fogueira atrás da casa, logo após a morte.
"Depois das comidas ele passava mal. No dia da carreata da vitória dela, ele passou mal também. Nem terminou a carreata porque passou mal", contou.
A sessão foi encerrada por volta das 21h. Antes disso, durante uma pausa na audiência, Simone Santos, filha biológica de Flordelis, passou mal e precisou ser retirada da sala carregada por dois PMs. Ela foi atendida pelo Samu. A oitiva foi encerrada após conflito da defesa dos réus com o MPRJ para incluir a jornalista autora do livro "O Plano Flordelis: Bíblia, filhos e Sangue", Vera Araújo, como testemunha referenciada. Isso porque o MPRJ citou o trecho do livro onde sugeriu que a advogada de defesa Janira Rocha estaria influenciando a testemunha, o que foi contestado pela advogada. A juíza, no entanto, indeferiu o pedido e ainda decretou multa de 15 salários mínimos para a equipe de defesa de Flordelis.
Além de Raquel, também depuseram nesta quarta-feira (9), Dayane Freires, filha adotiva de Flordelis, que trabalhava como tesoureira na igreja da ex-deputada, Daniel dos Santos de Souza, filho adotivo, ambos por videoconferência, Luana Vedovi Rangel Pimenta, nora de Flordelis e casada com Wagner Pimenta, também conhecido como Misael, filho adotivo da pastora.
Relembre o caso
Anderson do Carmo foi atingido por mais de 30 tiros na madrugada de 16 de junho de 2019, na garagem da casa onde morava com Flordelis e os filhos em Pendotiba, Niterói, na Região Metropolitana do Rio.

Logo depois do crime, a ex-deputada relatou que se tratava de uma tentativa de assalto. No velório, Flávio dos Santos, filho biológico de Flordelis, foi preso apontado como autor dos disparos que mataram o pastor. Enquanto, Lucas dos Santos de Souza, filho adotivo da pastora, foi preso horas depois do irmão, acusado de ter conseguido a arma do crime. A pistola foi encontrada na casa da família.

As investigações demonstraram que, antes mesmo da execução, o grupo já vinha tentando matar a vítima por envenenamento. A motivação do crime, segundo as autoridades, foi o controle que a vítima fazia das finanças e a administração rigorosa da casa, o que desagradava ex-parlamentar e outros integrantes da família.

Flordelis foi presa em sua casa, em Niterói, por volta das 18h40 do dia 13 de agosto de 2021, pela Polícia Civil do Rio. Ela foi levada para a Delegacia de Homicídios de Niterói, onde chegou por volta das 19h15. De lá, a ex-deputada seguiu para o Instituto Médico Legal de Niterói, onde passou por um exame de corpo de delito, e depois foi para Benfica, na Zona Norte do Rio.
Acusações
Flordelis é acusada de ser a mandante do crime e poderá responder por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima), tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada.

Já a filha biológica, Simone dos Santos Rodrigues, e os filhos adotivos Marzy Teixeira da Silva e André Luiz de Oliveira poderão responder por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa armada. Enquanto, a neta Rayane dos Santos Oliveira, por homicídio triplamente qualificado e associação criminosa armada.
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