ESPECIAL - Centenário da cantora Marlene. Na foto: Cantora Mona Vilardo e Cezar Sepúlveda, presidente da Associação MarlenistaPedro Ivo/ Agência O Dia
Publicado 21/11/2022 07:00
Rio- Considerada uma das maiores cantoras da história da MPB, Marlene completaria 100 anos nesta terça-feira (22). Para homenagear a memória da artista, que faleceu em 2014, aos 91 anos, uma missa será celebrada na Igreja de Santa Luzia, no Centro, ao meio-dia, com a presença de fãs e amigos da eterna rainha do rádio. A data especial também é marcada pelo lançamento de um documentário, livro, shows e um álbum.

Nascida em São Paulo, Victória de Martino Bonaiutti, nome de batismo de Marlene, virou estrela no final da década de 1940 ao vencer o concurso de rainha do rádio, em 1949. A partir daí nascia a folclórica "rivalidade" com Emilinha Borba (1923-2005).

Intérprete de clássicos como "Lata d'água", "Se É Pecado Sambar", "Zé Marmita", "Que nem Jiló", entre outros, Marlene também se destacou como atriz, brilhando no carnaval, no cinema, em peças e na TV. Dona de uma personalidade marcante, a cantora também quebrou barreiras ao se apresentar com calça comprida, por exemplo, numa época os vestidos reinavam nos palcos e fora deles.
Legado eterno

Seu legado, hoje, permanece vivo através do trabalho incansável promovido pela Associação Marlenista do Rio de Janeiro (Amar), fundada nos anos 80 e presidida por César Sepúlveda, o Cezinha. A entidade se originou de um fã-clube criado em 1952.

Cezinha, de 70 anos, que acompanha Marlene desde os 9 anos, acredita que as ações de preservação são fundamentais para as futuras gerações. “Nós conseguimos realizar bastante coisa ao longo do período de existência da Amar, mesmo com tantas dificuldades para projetos que visem lembrar os grandes ícones da nossa cultura”, afirma.

Em 2007, a Associação, através de leis de fomento, conseguiu patrocínio para o DVD “Marlene: a Rainha e os Cantores do Rádio”, gravado no auditório da Rádio Nacional, com a participação de Carmélia Alves, Ademilde Fonseca e outros ícones do rádio.

Novos e antigos fãs também podem exaltar a memória da artista vendo um documentário que está disponível no YouTube, realizado pela cantora Márcia Calmon.

Outro destaque dentro dos festejos é o livro “Marlene, a voz que se fez escutar”, escrito pela cantora Mona Vilardo. Dedicada ao público infantil, a obra começa mostrando a chegada de Marlene chega no Rio. A publicação assume um carácter lúdico a partir do momento em que o enredo desenvolve-se com a autora contando a história de Marlene para sua sobrinha.

Com previsão para ser lançado em janeiro no Teatro da UFF, em Niterói, o texto retrata a inquietude de Marlene, o aspecto revolucionário de sua obra no sentido da construção do feminino muito antes do feminismo ser um movimento com uma identidade consolidada.

"Eu conto um episódio em que ela foi multada na Rádio Nacional por estar usando calça. Além disso, as canções que marcam a identidade nacional com uma perspectiva de luta para a afirmação desta identidade. Eu falo dessa mulher que não teve medo de ir além do rádio", afirma Mona, que recentemente fez uma apresentação histórica no Teatro Municipal, dedicada a nomes como Marlene, Emilinha, Dalva de Oliveira e Linda Batista.

Outra homenagem importante veio da cantora Nina Wirtti, com a regravação de "Catedral do Inferno", de Cartola e Hermínio Bello de Carvalho, já disponível nas plataformas digitais. O single irá fazer parte de novo álbum de Nina, "Flor da Estrada", previsto para ser lançado em 2023.

"Eu tenho uma identificação muito grande com essas cantoras da era do rádio, em especial com a Marlene. Sou gaúcha e estou no Rio há 17 anos; então tem essa questão de alguém que vem de fora e busca construir seus caminhos numa nova cidade", revela Nina, que completa: "É uma mulher que nunca parou no tempo e isso me inspira."

Além do single, ela está produzindo o show "Viva Marlene", com a participação de Marcos Sacramento.

Fã especial

Quem também tem lembranças marcantes de Marlene é Maria Eugênia de Souza, 62. Ela começou a acompanhar a cantora através de sua mãe, Judith de Souza, que era membro ativa do fã-clube e frequentava o auditório da Rádio Nacional.

"Eu vejo que este pessoal da era do rádio marcou a história da música do Brasil. Eles foram realmente precursores para tudo que se fez depois. Me marcou muito o fato de que ela não ficou parada no tempo. Foi uma artista que estava sempre se atualizando, adicionando novos elementos na sua atuação", destaca Maria Eugênia, moradora de Copacabana, bairro onde também residia a diva.

A fã também faz questão de lembrar a generosidade de Marlene no trato com os fãs. Segundo ela, a artista dava muita atenção a todos e fazia questão de estar presente nos eventos organizados pelo fã-clube. "Era um grupo muito unido, sempre que tinha algum evento sobre a Marlene, uma data comemorativa, um lançamento de algum produto sobre ela, o fã-clube estava presente, e tínhamos a oportunidade de conviver diretamente com ela, que era muito acessível. Conversava, tirava fotos, sempre muito atenciosa e muito simpática", lembra.
'Mito popular', diz pesquisador

Para o musicólogo e escritor Ricardo Cravo Albin, que conviveu com Marlene durante muitos anos, a artista tem importância fundamental para a história da música por conta de seu repertório e sua expressividade. “Os fãs queriam vê-la, nunca se cansavam de Marlene. No Brasil inteiro eram plateias lotadas em razão do charme pessoal dela. Foi uma artista inesquecível, um mito popular", exalta.
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