Carlos Kaik, de 17 anos, foi morto por um tiro de fuzil no pescoço em QueimadosArquivo Pessoal
Publicado 06/12/2022 19:57
Rio - A Polícia Militar instaurou um procedimento apuratório para investigar os supostos responsáveis pela morte do adolescente Carlos Kaik, de 17 anos. A comerciante Kelly Medeiros afirma que o filho foi morto por policiais militares em Queimados, na Baixada Fluminense.
De acordo com a mãe, Carlos estava sob custódia quando os agentes o mataram com um tiro de fuzil no pescoço. O caso aconteceu no final de abril deste ano.
"Meu filho estudava no horário da manhã, chegava em casa ao meio-dia. No período da tarde, de 15h às 22h, trabalhava comigo na padaria. Ele tinha um amigo em um morro aqui perto. Esse amigo chamou meu filho e meu filho foi. Chegando lá, ele estava com um pente e meu filho com nada. Teve uma abordagem dos policiais e prenderam três", conta.
Um vídeo gravado por testemunhas mostra Carlos algemado próximo a uma escada na Estrada Carlos Sampaio. Segundo Kelly, os policiais levaram um outro preso, de 22 anos, para o alto do morro. Lá, teriam agredido o jovem e cobrado uma propina de R$ 5 mil para que ele fosse liberado. O pai dele teria pagado, deixando a culpa pelo porte da munição para o adolescente.
"Pediram R$ 5 mil para o pai do menino e mais R$ 5 mil pelo meu filho, mas não chegou a tempo para mim. Só fui saber quando chegou o vídeo, por volta das 19h. O menino relata que fizeram ele jogar tudo para cima do meu filho e o soltaram por causa da propina", relata.
O jovem liberado relata que, em seguida, Carlos foi levado para o mesmo local e baleado. "Então, o que matou ele estava de farda. O outro estava de coturno, farda, tudo. Quem estava de fuzil foi o cara que matou ele, estava fardado, polícia", relata.
Após os disparos, o adolescente foi levado para a UPA de Queimados, mas já teria chegado morto na unidade. Câmeras de segurança da unidade mostram a chegada do adolescente. Enrolado em um pano, ele aparece com as mãos para trás. Kelly afirma que ele ainda estava algemado.
 
A comerciante também relata que ainda não sabia sobre a morte do filho quando chegou na delegacia.
"Eu cheguei na 52ª DP (Nova Iguaçu) e eles disseram que não sabiam do meu filho. Eu falei que meu filho estava lá e o policial falando que não estava. Com muita insistência, ele disse 'vai na UPA porque tem um baleado'. Eu disse que não poderia ser meu filho, porque eu tinha o vídeo dele vivo. Quando eu mostrei, começaram a falar que meu filho estava trocando tiro. Meu filho vivo apareceu na UPA morto. Disseram que foi troca de tiros, mas não houve troca de tiros", desabafa.
A mãe diz que não falou sobre o caso anteriormente por medo de represálias. Ela afirma que foi ameaçada durante o velório de Carlos. "Eles ainda foram me ameaçar. No velório do meu filho, me falaram para não botar na mídia. Eu fiquei com muito medo, não sabia o que fazer. Mas agora não tem essa, eles vão ter que pagar pelo que fizeram".
A Polícia Militar afirmou que o 24º BPM (Queimados) iniciou um procedimento apuratório. Além disso, acrescentou que os canais da Corregedoria e da Ouvidoria estão "disponíveis para formalização de denúncias a fim de que os setores responsáveis possam iniciar os procedimentos de apuração".
O caso foi registrado na 55ª DP (Queimados). Procurada, a Polícia Civil ainda não se manifestou sobre a situação.
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