Ex-funcionários da Universidade Gama Filho fazem protesto e cobram verbas rescisórias

Profissionais decidiram se mobilizar depois que prédios do campus Piedade entraram em processo de desapropriação para construção de um parque

Ex-funcionários da Universidade Gama Filho cobram rescisão de 2014 em frente ao campus de Piedade Reprodução
Publicado 08/12/2022 13:25
Rio - Ex-funcionários da antiga Universidade Gama Filho (UGF) se reuniram na frente do Campus de Piedade, na Zona Norte do Rio, na manhã desta quinta-feira (8) para cobrar o pagamento de verbas rescisórias pendentes desde 2014, quando o centro de ensino foi fechado.

Profissionais que atuavam na instituição de ensino resolveram se mobilizar após terem notícia de que os prédios das faculdades seriam demolidos para dar lugar a um parque, em Piedade, em um projeto da Prefeitura do Rio. Os ex-funcionários viram na desapropriação, uma oportunidade de conseguir reaver o que lhes é devido, já que o procedimento implica o pagamento de uma indenização ao antigo dono do terreno, ou seja, ao Grupo Galileo, que controlava a Gama Filho e UniverCidade. Assim, os trabalhadores lutam para que o dinheiro que entre para a empresa falida, seja usado para pagar a dívida com os funcionários.

"Nenhuma verba rescisória foi paga: fundo de garantia, décimo terceiro, salário atrasado. Tudo isso ficou para trás. Hoje conseguimos nos unir, sabendo dessa desapropriação. Vamos continuar fazendo movimento para que as autoridades responsáveis façam o correto. Até o momento ninguém recebeu. A verba tem que ser direcionada aos credores, que somos nós", conta Paulo Trajano, que trabalhou como secretário da Faculdade de Odontologia por 24 anos.
Ex-funcionários da Universidade Gama Filho cobram rescisão de 2014 em frente ao campus de Piedade  - Reprodução
Ex-funcionários da Universidade Gama Filho cobram rescisão de 2014 em frente ao campus de Piedade Reprodução


Os trabalhadores estimam que entre mil e 1,1 mil funcionários estavam empregados quando a universidade fechou. Muitas das famílias tinham a vida entrelaçada com o pólo acadêmico. "A família se empregava, os filhos estudavam na universidade. Essa organização se perdeu. Alguns funcionários já se foram. Outros sofreram problemas de saúde mental, tiveram depressão", conta Paulo.

A desativação da unidade de ensino aos poucos também fez fechar o comércio do entorno. O abandono da região, por sua vez, aumentou a insegurança. Com a promessa de revitalizar a área em que ficava o campus da Universidade Gama Filho, será inaugurado, no lugar da universidade, o Parque Piedade, a exemplo do Parque Madureira, na Zona Norte do Rio.

A demolição do primeiro dos 15 prédios foi iniciada em outubro deste ano. Até agora, dois prédios foram demolidos. A prefeitura trabalha na desapropriação das demais 13 construções do complexo.

Os ex-trabalhadores estão reunidos em um grupo de cerca de 300 pessoas para cobrarem seus direitos. "Fizemos de tudo quando éramos funcionários. Diminuímos nosso salário durante quatro anos. Até isso fizemos para tentar manter a universidade viva e agora precisamos lutar para sermos atendidos", completa Paulo Trajano.
A subprefeitura da Zona Norte informa que os trabalhos de preparação do terreno para a construção do Parque Piedade foram iniciados no último dia 18 de outubro, quando o primeiro prédio da extinta Universidade Gama Filho começou a ser demolido, sob a coordenação da Subprefeitura da Zona Norte. Menos de um mês depois, no dia 17 de novembro, foi derrubada a segunda edificação do complexo.
Desapropriação para construção de parque
O espaço, de aproximadamente 18 mil metros quadrados, estava abandonado desde 2014 e, no ano passado, a administração municipal começou o processo de desapropriação dos imóveis do terreno, que conta com 15 prédios. A demolição foi iniciada por onde funcionava a faculdade de medicina da instituição. 
O projeto do Parque Piedade, que será feito nos moldes do Parque Madureira, prevê área molhada infantil, de convivência e serviços; espaços de lazer para crianças e cães; academia da terceira idade; horta urbana; campo de futebol; pista de skate; além de espaço cultural. Em uma parceria com a Fecomércio, a prefeitura pretende aproveitar as áreas esportivas, o teatro e a piscina da universidade, como forma de manter a vocação educacional do local.
A estimativa é de que o projeto seja finalizado até a segunda quinzena de dezembro, para que as obras comecem no segundo semestre de 2023. Além disso, a proposta fala ainda na revitalização de toda a região, com melhorias de pavimentação, sinalização, iluminação, paisagismo, rampa de acessibilidade na estação de trem da Piedade, pela Rua Goiás, e ciclovia na Rua Manoel Vitorino. A Rua da Capela, onde fica a Capela Nossa Senhora da Piedade, tombada pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), em 1996, devido a sua importância arquitetônica, histórica e cultural, também será contemplada.
Universidade Gama Filho
A universidade foi fundada em 1951 pelo ministro Luiz Gama Filho e, ao longo das décadas seguintes, se tornou uma das mais renomadas instituições de ensino superior privadas, chegando a ter a maior faculdade de medicina do país e sendo reconhecida pela atuação poliesportiva. A instituição permaneceu sendo administrada pela família Gama Filho com o passar do tempo.
Entretanto, a universidade começou a enfrentar problemas financeiros, com divídas de mais de R$ 200 milhões com fornecedores, funcionários e o governo. Dessa forma, o então presidente da instituição, Paulo César Prado Ferreira da Gama, decidiu, em 2010, passar o controle para seu advogado Márcio André Mendes Costa, que criou o Galileo Educacional para reestruturar a Gama Filho.
Na administração do grupo, a universidade recebeu investimentos milionários dos fundos de pensão da Postalis, dos Correios, e da Petros, da Petrobras, além de empréstimos bancários. O Galileo ainda incorporou à sua administração a UniverCidade que também enfrentava problemas financeiros. Nesta gestão, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) chegaram a ser contratados para aulas do curso de Direito, ao passo que outros professores e funcionários eram demitidos.
Em 2012, a instituição também encerrou o contrato com o hospital onde alunos de medicina faziam aulas práticas. Com problemas na estrutura, o Ministério da Educação diminuiu o número de vagas por vestibular e, em 2013, instaurou um processo administrativo contra a Gama Filho, impedindo que novos estudantes se matriculassem. No ano seguinte, a universidade fechou as portas, ao ser descredenciada pela baixa qualidade acadêmica, comprometimento da situação econômico-financeira e falta de um plano de resolução.
Dois anos depois, em 2016, a Justiça do Rio decretou a falência do Galileo, após negar o pedido de recuperação judicial feito pelo grupo, que não recorreu. Desde então, a massa falida ficou sob a responsabilidade de administradores judiciais, até que, em abril deste ano, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, publicou no Diário Oficial um decreto que declarava a utilidade pública, para fins de desapropriação, de 35 endereços ligados à Gama Filho. À época, a massa falida descreveu a medida como benéfica para a comunidade e para os credores prejudicados.
Ainda em 2016, a Polícia Federal prendeu nove pessoas envolvidas em desvios de recursos do Postalis e Petros, que participaram da estruturação da operação fraudulenta do Galileo Educacional. As investigações apontaram que o esquema montado pelo grupo arrecadou cerca de R$ 100 milhões por meio da compra de títulos mobiliários, para recuperar a universidade. Entretanto, quando a empresa quebrou, aproximadamente R$ 90 milhões foram desviados.
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Ex-funcionários da Universidade Gama Filho fazem protesto e cobram verbas rescisórias

Profissionais decidiram se mobilizar depois que prédios do campus Piedade entraram em processo de desapropriação para construção de um parque

Ex-funcionários da Universidade Gama Filho cobram rescisão de 2014 em frente ao campus de Piedade Reprodução
Publicado 08/12/2022 13:25
Rio - Ex-funcionários da antiga Universidade Gama Filho (UGF) se reuniram na frente do Campus de Piedade, na Zona Norte do Rio, na manhã desta quinta-feira (8) para cobrar o pagamento de verbas rescisórias pendentes desde 2014, quando o centro de ensino foi fechado.

Profissionais que atuavam na instituição de ensino resolveram se mobilizar após terem notícia de que os prédios das faculdades seriam demolidos para dar lugar a um parque, em Piedade, em um projeto da Prefeitura do Rio. Os ex-funcionários viram na desapropriação, uma oportunidade de conseguir reaver o que lhes é devido, já que o procedimento implica o pagamento de uma indenização ao antigo dono do terreno, ou seja, ao Grupo Galileo, que controlava a Gama Filho e UniverCidade. Assim, os trabalhadores lutam para que o dinheiro que entre para a empresa falida, seja usado para pagar a dívida com os funcionários.

"Nenhuma verba rescisória foi paga: fundo de garantia, décimo terceiro, salário atrasado. Tudo isso ficou para trás. Hoje conseguimos nos unir, sabendo dessa desapropriação. Vamos continuar fazendo movimento para que as autoridades responsáveis façam o correto. Até o momento ninguém recebeu. A verba tem que ser direcionada aos credores, que somos nós", conta Paulo Trajano, que trabalhou como secretário da Faculdade de Odontologia por 24 anos.
Ex-funcionários da Universidade Gama Filho cobram rescisão de 2014 em frente ao campus de Piedade Reprodução


Os trabalhadores estimam que entre mil e 1,1 mil funcionários estavam empregados quando a universidade fechou. Muitas das famílias tinham a vida entrelaçada com o pólo acadêmico. "A família se empregava, os filhos estudavam na universidade. Essa organização se perdeu. Alguns funcionários já se foram. Outros sofreram problemas de saúde mental, tiveram depressão", conta Paulo.

A desativação da unidade de ensino aos poucos também fez fechar o comércio do entorno. O abandono da região, por sua vez, aumentou a insegurança. Com a promessa de revitalizar a área em que ficava o campus da Universidade Gama Filho, será inaugurado, no lugar da universidade, o Parque Piedade, a exemplo do Parque Madureira, na Zona Norte do Rio.

A demolição do primeiro dos 15 prédios foi iniciada em outubro deste ano. Até agora, dois prédios foram demolidos. A prefeitura trabalha na desapropriação das demais 13 construções do complexo.

Os ex-trabalhadores estão reunidos em um grupo de cerca de 300 pessoas para cobrarem seus direitos. "Fizemos de tudo quando éramos funcionários. Diminuímos nosso salário durante quatro anos. Até isso fizemos para tentar manter a universidade viva e agora precisamos lutar para sermos atendidos", completa Paulo Trajano.
A subprefeitura da Zona Norte informa que os trabalhos de preparação do terreno para a construção do Parque Piedade foram iniciados no último dia 18 de outubro, quando o primeiro prédio da extinta Universidade Gama Filho começou a ser demolido, sob a coordenação da Subprefeitura da Zona Norte. Menos de um mês depois, no dia 17 de novembro, foi derrubada a segunda edificação do complexo.
Desapropriação para construção de parque
O espaço, de aproximadamente 18 mil metros quadrados, estava abandonado desde 2014 e, no ano passado, a administração municipal começou o processo de desapropriação dos imóveis do terreno, que conta com 15 prédios. A demolição foi iniciada por onde funcionava a faculdade de medicina da instituição. 
O projeto do Parque Piedade, que será feito nos moldes do Parque Madureira, prevê área molhada infantil, de convivência e serviços; espaços de lazer para crianças e cães; academia da terceira idade; horta urbana; campo de futebol; pista de skate; além de espaço cultural. Em uma parceria com a Fecomércio, a prefeitura pretende aproveitar as áreas esportivas, o teatro e a piscina da universidade, como forma de manter a vocação educacional do local.
A estimativa é de que o projeto seja finalizado até a segunda quinzena de dezembro, para que as obras comecem no segundo semestre de 2023. Além disso, a proposta fala ainda na revitalização de toda a região, com melhorias de pavimentação, sinalização, iluminação, paisagismo, rampa de acessibilidade na estação de trem da Piedade, pela Rua Goiás, e ciclovia na Rua Manoel Vitorino. A Rua da Capela, onde fica a Capela Nossa Senhora da Piedade, tombada pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), em 1996, devido a sua importância arquitetônica, histórica e cultural, também será contemplada.
Universidade Gama Filho
A universidade foi fundada em 1951 pelo ministro Luiz Gama Filho e, ao longo das décadas seguintes, se tornou uma das mais renomadas instituições de ensino superior privadas, chegando a ter a maior faculdade de medicina do país e sendo reconhecida pela atuação poliesportiva. A instituição permaneceu sendo administrada pela família Gama Filho com o passar do tempo.
Entretanto, a universidade começou a enfrentar problemas financeiros, com divídas de mais de R$ 200 milhões com fornecedores, funcionários e o governo. Dessa forma, o então presidente da instituição, Paulo César Prado Ferreira da Gama, decidiu, em 2010, passar o controle para seu advogado Márcio André Mendes Costa, que criou o Galileo Educacional para reestruturar a Gama Filho.
Na administração do grupo, a universidade recebeu investimentos milionários dos fundos de pensão da Postalis, dos Correios, e da Petros, da Petrobras, além de empréstimos bancários. O Galileo ainda incorporou à sua administração a UniverCidade que também enfrentava problemas financeiros. Nesta gestão, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) chegaram a ser contratados para aulas do curso de Direito, ao passo que outros professores e funcionários eram demitidos.
Em 2012, a instituição também encerrou o contrato com o hospital onde alunos de medicina faziam aulas práticas. Com problemas na estrutura, o Ministério da Educação diminuiu o número de vagas por vestibular e, em 2013, instaurou um processo administrativo contra a Gama Filho, impedindo que novos estudantes se matriculassem. No ano seguinte, a universidade fechou as portas, ao ser descredenciada pela baixa qualidade acadêmica, comprometimento da situação econômico-financeira e falta de um plano de resolução.
Dois anos depois, em 2016, a Justiça do Rio decretou a falência do Galileo, após negar o pedido de recuperação judicial feito pelo grupo, que não recorreu. Desde então, a massa falida ficou sob a responsabilidade de administradores judiciais, até que, em abril deste ano, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, publicou no Diário Oficial um decreto que declarava a utilidade pública, para fins de desapropriação, de 35 endereços ligados à Gama Filho. À época, a massa falida descreveu a medida como benéfica para a comunidade e para os credores prejudicados.
Ainda em 2016, a Polícia Federal prendeu nove pessoas envolvidas em desvios de recursos do Postalis e Petros, que participaram da estruturação da operação fraudulenta do Galileo Educacional. As investigações apontaram que o esquema montado pelo grupo arrecadou cerca de R$ 100 milhões por meio da compra de títulos mobiliários, para recuperar a universidade. Entretanto, quando a empresa quebrou, aproximadamente R$ 90 milhões foram desviados.
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