Publicado 11/12/2022 07:00
Rio - Enquanto as tintas verde e amarela começam as desbotar nas ruas do Rio de Janeiro, a decoração natalina já começou colorir a noite da cidade, mas continua desfalcada da sua principal estrela: a árvore de Natal da Lagoa, que não foi montada pelo terceiro ano seguido. Ainda assim, não faltam opções para aproveitar o clima de fim de ano na Região Metropolitana. O maior destaque é a árvore de Natal do BarraShopping, na Zona Oeste, que tomou o posto de maior da capital com seus 70 metros de altura.
Assinada pelo cenógrafo Abel Gomes, a árvore possui 7 fases de iluminação decorativa que contam com 32.000m lineares de mangueiras luminosas de LED. Sem a decoração na Lagoa Rodrigo de Freitas, o shopping tem atraído visitantes de toda a cidade para sentir o clima natalino com uma série de atrativos com o tema Natal dos Sonhos, como detalha a gerente de marketing Daniella Wolf. "Este ano, o público pode ter a experiência de integrar a decoração da árvore, pois ela conta com quatro mini estúdios para que as pessoas tirem fotos com fundos instagramáveis, que serão projetadas em 48 painéis de LED na base da árvore".
Mas nem só de decorações luxuosas se faz um Natal especial. Em Nova Iguaçu, por exemplo, um dos pontos mais visitados para celebrar a chegada da data fica em uma rua residencial, na casa da artesã Bernadete Goulart. Pelo 14º ano seguido, ela enfeitou não apenas a fachada da sua casa, mas também dos vizinhos com itens confeccionados a mão por ela mesma. Tem um pouco de tudo: bonecos de neve, pisca-pisca, Papai Noel, trenó, rena e presépio. Tudo sem receber um centavo, apenas pela pura e simples vontade de manter vivo o espírito natalino.
"O bom disso é você ver que seu trabalho é reconhecido, ver que os jovens, crianças e até pessoas de idade para e tiram foto. O mais importante é ver o sorriso das pessoas naquela hora que estão passando na sua peça, vivendo o espírito natalino. É muito importante isso, me estimula cada vez mais a criar peças e fazer essa decoração", conta a artesã de 59 anos, que trabalha quase o ano inteiro para conseguir decorar a rua. "Termina no fim do ano e quando chega lá para março, já começo a trabalhar. Tem hora que bate um cansaço, mas quando você vê a recompensa, vale a pena. É cansativo, mas prazeroso", revelou.
De tanto sucesso que a decoração começou a fazer na cidade, Bernadete elevou a comemoração a outro nível e passou a organizar uma festa todo ano como abertura para o Natal. A deste ano aconteceu na última sexta-feira, com a presença de comerciantes locais e financiada por uma rifa que passou nos últimos meses. Neste ano, haverá também atrações culturais, como um coral e uma peça realizado pelas crianças da Associação de Pais e Amigos de Excepcionais (Apae) de Nova Iguaçu.
Já para financiar a decoração, Bernadete conta com a ajuda do marido, mas o fato de confeccionar quase todo os itens tornar tudo mais barato. Além disso, ela usa materiais recicláveis para ajudar a preservar o meio ambiente e, de quebra, baratear os custos. A árvore de Natal em seu portão, por exemplo, é feita de garrafas pet. Ainda assim, o investimento necessário não é baixo.
"Tenho algumas peças aqui, mas todo ano vou criando novidades. Só neste ano, gastei 120 metros de fitas de LED. É um custo que não é muito barato, mas desde o início vou comprando e meu marido vai ajudando a pagar. No ano passado, por exemplo, comprei uma máquina de neve. Mas faço também peças com caixotes de feira, tubos de PVC, garrafa pet, que é o meu forte", explicou.
Outra decoração de Natal que já virou tradição é a da Vila do João, no Complexo da Maré. Quem passa pela Passarela 6 da Avenida Brasil logo vê a enorme árvore de Natal que uma empresa da região dá de "presentes" aos moradores. A deste ano tem 18 metros e chegou a pegar fogo por causa de um curto-circuito nos fios, mas já foi devidamente reparada e continua embelezando a comunidade.
Em meio a uma realidade por vezes sofrida, o clima natalino traz ainda mais felicidade para moradores e visitantes da Vila do João há dez anos. Valtemir Messias, presidente da Associação de Moradores e Amigos da Vila do João (Amovijo), conhecido como Índio, logo percebe a diferença no ambiente a cada fim de ano. Além da árvore que fica beirando a Avenida Brasil, ele e outros moradores colocaram mais duas em outros pontos da comunidade.
"É um momento de harmonia, de felicidade. Quando chega esse período do ano, as pessoas logo começam a se reunir perto da árvore para tirar fotos, sorridentes. As pessoas ficam agraciadas, vem muita gente de fora para cá e elas ficam paralisadas com a árvore. Isso é importante porque tem gente que pensa que a comunidade é tudo de ruim, mas não é bem isso. Tem muita coisa boa", analisa Índio.
Há ainda uma série de opções de grandes árvores de Natal para visitar neste fim de ano. Em Niterói, por exemplo, a principal fica na Praça do Rádio Amador, em São Francisco, tem 50m de altura e 8 mil micro lâmpadas. O projeto da prefeitura da cidade chamado Natal do Amanhã espalhou ainda luzes por diversas avenidas e bairros e inaugurou na última quinta-feira a árvore de Natal do Horto da Fonseca, que tem 15 metros de altura e fica em frente ao prédio da Secretaria de Estado de Agricultura. Também há caixas de presentes, um presépio e até um treno com quatro renas um Papai Noel.
Já em Belford Roxo, o chamado Natal Luz organizado pela prefeitura conta com uma árvore de 22m de altura da praça de Heliópolis, além de outros 24 pontos de iluminação espalhados pela cidade. Em Itaguaí, foi inaugurado o Parque do Papai Noel, no Parque Municipal. A programação conta com um Papai Noel para recepcionar crianças da rede municipal de ensino e uma série de atrações culturais da cidade.
É tempo de ir às compras
Quem ainda não decorou a casa para o Natal ainda tem tempo de sobra para comprar os itens necessários. No Saara, no Centro do Rio, as vendas se intensificaram nas últimas semanas depois de um fim de novembro um pouco abaixo do habitual. Josefa Oliveira, que repõe a decoração natalina de uma loja e também atende clientes, já sentiu o fluxo mais intenso em dezembro. E não reclama, afinal, gosta do espírito do Natal de todo fim de ano, tanto que sempre organizou as prateleiras do setor nos sete anos em que trabalha no local.
Com um simpático sorriso no rosto, Josefa recebe cada cliente que chega interessado em comprar itens natalinos. E dá resultado, tanto que tem visto clientes gastarem até R$ 6 mil reais em apenas um dia. A organização praticamente impecável do setor também ajuda.
"Gosto muito do Natal e de vender também, receber bem os clientes na loja, que é o mais importante. Também sempre tenho que repor o mais rápido possível aquilo que está vendendo. E sempre gostei de vender durante o Natal, porque fica mais animado. Tem cliente que já gastou até R$ 6 mil. Outro comprou comigo uma árvore completa por R$ 3.500. Tem uns que até vão pesquisar em outras lojas, mas voltam para comprar comigo", disse Josefa, de 53 anos.
Quem não perdeu tempo e saiu às compras foi a Íris Alves, de 84 anos, sempre com muita energia para decorar a casa para o Natal em família. A casa já está enfeitada, mas ela quis incrementar a decoração com outros itens para deixar tudo ainda mais bonito.
"Sempre faço o meu presépio, que já tenho há muito tempo, mais de 30 anos. Começo por ele e depois enfeito a casa com os outros enfeites e a gente faz uma ceia de Natal em família. Já botei a árvore e o presépio", explicou a funcionária pública aposentada, que estava acompanhada da filha Mônica Alves, de 59 anos.
Árvore da Lagoa faz falta
O designer Felipe Guatiello, de 38 anos, já colocou os enfeites no apartamento para fazer o Natal mais especial, mas do lado de fora, quase no quintal de casa, não terá a tradicional árvore da Lagoa Rodrigo de Freitas para tornar o fim de ano ainda mais especial. Em quatro anos morando no bairro, apenas no primeiro ele pode apreciá-la de perto. Ele não nega os pontos positivos, embora sinta falta.
“Para o morador, a maior vantagem é que evita trânsito. Quando tem árvore, gera muito trânsito, que aqui já é bem ruim. Mas, de qualquer forma, é meio chato. Gosto do clima de Natal que fica. E de fato, neste ano a gente não tem visto quase nada de Natal”, revelou Felipe.
“Também gosto de andar de bicicleta pela Lagoa, e quando tem árvore, se torna quase possível andar pela ciclovia. Mas, pelo evento que é, nem me incomoda. Acho até legal que tenha eventos culturais por aqui”, completou.
Montada desde 1996, a Árvore de Natal da Lagoa foi patrocinada pela Bradesco Seguros durante 20 anos, mas a parceria acabou em 2016. Depois, a Petrobrás e a Light ajudaram a erguê-la. No entanto, em 2020, 2021 e 2022 a pandemia e a falta de patrocínio fizeram com que a tradição não fosse mantida. Não há garantia de que ele voltará a ser montada no ano que vem.
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