Enfoque Papelaria, no Ilha Plaza ShoppingReprodução
Publicado 28/12/2022 19:31 | Atualizado 28/12/2022 20:24
Rio – Duas adolescentes negras relataram que foram acusadas, na última sexta-feira (23), de terem furtado uma caneta na loja Enfoque Papelaria, localizada no Ilha Plaza Shopping, na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio. A mãe de uma das meninas afirma que foi um caso de racismo.
De acordo com a garota de 12 anos, ela e a amiga, de 13, estavam experimentando os produtos em um papel - atividade que afirmam ser normal no estabelecimento e que outros clientes também realizavam na hora - quando um funcionário da loja começou a segui-las de forma "estranha". Assustadas, resolveram sair do local e foram paradas pelo homem.
"Ele falou 'vem aqui por favor' num tom grosso, e pediu para eu abrir a minha bolsa. Na minha bolsa tinha dinheiro, eu nunca ia roubar uma caneta, pelo amor de Deus. Depois disso, ele falou para eu abrir o bolso da minha saia, sendo que ela nem tinha bolso. Eu puxei a minha amiga, fomos para o fundo da loja, e fui falar com uma funcionária. Ela foi falar com o gerente, chegou para mim e disse que eu teria que ir lá para dentro para ser revistada", afirmou uma das meninas.
A cena chamou a atenção de uma mulher que conhecia as garotas e que foi à praça de alimentação do shopping chamar as responsáveis por elas. As mães chegaram no local a tempo de impedir que as filhas fossem revistadas em outra sala.
"Ele (o gerente) pediu desculpas e falou que o funcionário se excedeu, mas que estava tendo muito furto na papelaria", disse a mãe, adicionando que o gerente checou as câmeras de segurança e confirmou que as garotas não cometeram nenhum crime.
Logo após, a polícia foi acionada ao local e, segundo a responsável pela adolescente de 12 anos, o gerente da papelaria ofereceu "brindes" como desculpas, tentando convencê-las a não levar o caso à delegacia.
"Ele (o funcionário) alegou que desde o momento em que elas chegaram, estavam em atitude suspeita. Atitude suspeita por quê? Por que são negras? Tinham várias outras meninas na loja, verificando canetas, testando canetas, que não estavam em atitude suspeita - meninas, essas, brancas. Você não quer falar do racismo, mas não tem como, é notório, em pleno século XXI a gente continua passando por essa situação", declarou a mãe da jovem mais nova.
A ocorrência foi registrada na 37ª DP (Ilha do Governador) e está sendo investigada. Segundo o delegado titular da distrital, Mario Jorge Ribeiro, as garotas foram intimadas a comparecerem na delegacia novamente para relatarem de forma mais detalhada o incidente.
Em nota, o Ilha Plaza Shopping informou que "não compactua com o episódio ocorrido dentro da loja, lamenta por ele e reforça a total disponibilidade às clientes e às autoridades". Ainda conforme a assessoria, o centro comercial tentou contato com a responsável pela adolescente via Instagram, mas não obteve resposta.
Em resposta à equipe do O DIA, a Enfoque Papelaria afirmou que fez um questionamento interno em forma de auditoria, no qual "não se constatou qualquer injúria racial". A loja também informou que cerca de 60% dos seus funcionários são negros, entre eles o segurança e a gerente da loja na qual a situação aconteceu, e que aguarda o desenrolar do inquérito policial, com o qual irá colaborar totalmente. Caso esteja certa e apurada a existência de uma denunciação caluniosa, a empresa declara que vai buscar o ressarcimento à sua imagem.
*Reportagem do estagiário Luca Tornaghi, sob supervisão de Thiago Antunes
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