Publicado 04/01/2023 16:53 | Atualizado 04/01/2023 20:48
Rio - Com 31 anos de história, a Livraria Galileu, localizada na Tijuca, Zona Norte do Rio, fechou as portas na última sexta-feira (30). A concorrência de lojas virtuais teria impactado na decisão da direção da empresa.
Em contato por telefone, uma funcionária, que preferiu não se identificar, disse que a livraria, que fica localizada na Rua Major Ávila, estava com dificuldades de competir com as vendas online.
"O motivo seria a concorrência com as lojas virtuais e o patrão, que já está com uma idade avançada, decidiu por isso. Hoje, a gente não tem mais tanta loja física. As lojas virtuais estão acabando com tudo. É uma concorrência forte e desonesta. Para a cultura, o fechamento é uma grande perda. Para os funcionários também, já que serão demitidos", comentou a funcionária que estava no local nesta quarta-feira (4) para guardar os livros que estavam para ser vendidos.
O fechamento da Galileu também é motivo de tristeza para moradores da Tijuca. Carlos Rodrigues, de 78 anos, que mora no bairro há 24, contou emocionado que a livraria deixará saudades. Ele disse que comprou um livro junto com o neto na última semana e costumava passar a cultura da leitura para outras gerações da família.
"Quando eu vim para a Tijuca, eu fiquei contente que vi a Galileu e outras livrarias. Parece que o tempo passou depressa. Sempre frequentei a livraria e sempre comprei livros pro meu neto. Foi uma surpresa pra mim ter fechado. Era uma excelente livraria e é muito ruim isso. Vai dar saudade", disse Carlos.
O idoso ainda ressaltou que o interessante de uma livraria é o cliente poder pegar fisicamente o livro, escolher e procurar por um que o interesse. Segundo ele, o livro virtual não permite isso. Para a jornalista Clarissa Souto, 45, filha de Carlos, o local deixa um legado para o bairro.
"Papai sempre estimulou a leitura na gente. Ele é frequentador de livrarias e bibliotecas. Já leu milhares de livros. Sempre tem um e imagina em 78 anos. A Galileu faz parte da memória afetiva da Tijuca. Não sei quantas décadas tem, mas faz parte sem dúvidas da vida cultural da cidade. Os vendedores são maravilhosos. São pessoas que entendem e sugerem. É uma pena", completou Clarissa.
Alerta social
O fechamento de livrarias preocupa a presidente da Associação Estadual de Livrarias do Rio de Janeiro (AEL), Danielle Paul. Segundo ela, esses ambientes auxiliam na sociabilidade e contribuem para a formação de conhecimentos passado entre gerações através de palavras escritas nos livros.
"Penso que o fechamento de livrarias a qualquer momento é motivo de alerta social. Livrarias não existem para vender apenas livros. São ambientes de sociabilidade, diálogos através de escritos que dizem dos seus tempos. São muitas as vozes que falam em livrarias, e podem ser incríveis os encontros que ambientes como esses propiciam", disse a presidente.
Danielle ainda ressaltou que uma livraria dentro de um bairro serve para contribuir com os interesses locais e o encerramento de uma unidade significa uma perda marcante.
"Penso que uma livraria num bairro, é como um espaço para o mapeamento de interesses locais na forma de livros. As livrarias tendem a compor seus acervos de acordo com demandas locais. Quando um espaço como esse fecha, acho que o bairro perde o que eu pensaria como 'um espelho em textos'", completou.
No ano passado, a rede Galileu já havia fechado a unidade de Ipanema. Atualmente, a empresa continuará em funcionamento apenas com a loja do Largo do Machado, na Zona Sul do Rio.
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