Publicado 17/01/2023 14:43
Rio - Moradores de São Gonçalo denunciam recorrentes abandonos de animais que acontecem no Piscinão e na Praia das Pedrinhas, localizados no bairro Boa Vista. Diversos relatos feitos por pessoas dos locais dão a dimensão da quantidade de crimes ambientais cometidos por lá, como conta Adriana da Rosa, de 47 anos, protetora animal atuante na região. Ela é categórica ao afirmar que a área "se tornou um ponto de descarte de indesejados".
Bastantes animais mutilados, com membros quebrados e o corpo infestado de vermes e parasitas transitam pelos arredores das duas áreas. Alguns gonçalenses realizam trabalho de acolhimento e assistência veterinária, mas depois que essas ações se tornaram conhecidas, cada vez mais pessoas têm abandonado cães e gatos na região.
Adriana atua fazendo resgates há vários anos e, todos os dias, presencia o sofrimento dos animais. Ela conta que cuida de tantos animais quanto consegue e, os que não leva para casa, fornece tratamento veterinário e destina para adoção.
"Eu estou nessa luta há seis anos, alimentando, resgatando, cuidando, medicando. Hoje eu cuido de 30 animais aqui em casa, só daquela região, fora os que eu já castrei e doei nas feiras de adoção, que foram muitos. Infelizmente, só da segunda-feira retrasada, até ontem, no intervalo de uma semana, eu já perdi quatro, que jogaram muito doentes aqui no meu portão e eu não consegui salvar", contou.
Adriana atua fazendo resgates há vários anos e, todos os dias, presencia o sofrimento dos animais. Ela conta que cuida de tantos animais quanto consegue e, os que não leva para casa, fornece tratamento veterinário e destina para adoção.
"Eu estou nessa luta há seis anos, alimentando, resgatando, cuidando, medicando. Hoje eu cuido de 30 animais aqui em casa, só daquela região, fora os que eu já castrei e doei nas feiras de adoção, que foram muitos. Infelizmente, só da segunda-feira retrasada, até ontem, no intervalo de uma semana, eu já perdi quatro, que jogaram muito doentes aqui no meu portão e eu não consegui salvar", contou.
Da Rosa se disse frustrada ao ver tantos animais desamparados e não conseguir salvar a todos. Ela conta que "diversos morrem sem que ninguém saiba como" e fala que a pior parte é ver o sofrimento dos bichos e não poder fazer mais.
"Já cuidei de uns 500 ou até mais, contando resgates que eu fiz, ou que ajudei na castração e adoções. A sensação que eu tenho vendo tantos abandonos é de tristeza total e impotência por não poder fazer mais do que eu faço. São muitos animais abandonados, cada dia um pior do o outro. Meu coração se parte por não poder fazer mais, por não conseguir pegar todos".
Em meio a falta de ação das autoridades e o recente aumento dos casos, Adriana faz uma súplica às pessoas que planejam dar o mesmo destino cruel aos companheiros de quatro patas.
"Suplico às pessoas para que não abandonem, tanto gatos quanto cachorros ou qualquer animal, porque eles sofrem, são atropelados, sentem fome e frio e muitos também morrem de depressão. Se não querem mais, procurem protetores locais que consigam adoções. Castrem seus animais. Para a saúde deles e para não sofrerem na rua, como as fêmeas no cio e os machos que brigam por causa delas".
"Peço ao poder público que ponha câmeras na praia e no Piscinão porque é todo dia um monte de abandonos. Placa não adianta, ninguém deixa de abandonar porque vê uma placa de proibição. Peço um local para por esse animais e ajuda com veterinário também. Na verdade, nós, protetores de São Gonçalo, estamos todos lotados porque temos feito o serviço da prefeitura", desabafou.
Segundo os denunciantes, é de conhecimento público que os bairros sofrem com o problema há muitos anos e, até agora, nada foi feito por parte das autoridades. Alguns citam que a situação já se mantém por décadas sem nenhuma solução.
"Eu moro aqui desde que tinha dois anos, então a minha vida inteira eu presenciei os abandonos aqui na praia. Eu tenho 32, então tem 30 anos que eu vejo esse tipo de situação aqui. Já perdi as contas de quantos apareceram aqui e eu e os vizinhos ajudamos. Para você ter ideia, só aqui na minha rua tem uns 4 abandonados que todo mundo cuida", relatou Joelma Ramos, de 32.
Pablo Abreu, de 37, atua como instrutor de uma autoescola do Piscinão e, devido a profissão, percebe no dia a dia a triste realidade de abandonos.
"Isso já acontece há bastante tempo. Estou no ramo da autoescola e trabalho nessa região há muito tempo. São 16 anos e nunca parou essa situação, mas, de um tempo para cá, piorou bastante. A gente faz o que pode, fazemos divulgação de adoção, compramos ração, remédio para carrapato, spray para evitar bicheira, estamos nessa luta. Já levei quatro para casa e, quem também quiser adotar, nós levamos até a pessoa. Queremos arrumar uma família para eles, afirmou"
Para o instrutor, presenciar todos os dias a dor dos bichos acaba afetando também a ele próprio e pede que as pessoas se conscientizem e compreendam o impacto desse tipo de crime.
"É horrível essa sensação de descaso, é uma tristeza gigante ver o sofrimento dos animais. Quem faz isso com eles não vale nada. Gostaria de pedir que fizessem castração e não abandonassem. Peço para as pessoas se conscientizarem em fazer a castração para que os bichos não procriem e os filhotes não sejam abandonados. Eles chegam a ficar em estado de depressão por conta da falta da família", comentou.
Abreu também cobrou dos órgãos de fiscalização uma maior atuação nesses casos. Para ele, há pouca ação das instituições que deveriam coibir a prática.
"Acredito que, se as autoridades fizerem o que falam, seria ótimo. Eles mandam fazer a denúncia, aí a gente faz e eles nem aparecem para saber das condições. Talvez colocar a lei para valer quando pegar o abandono e fazer o criminoso pagar pelo ato. Falta aplicar a lei, aí, talvez as pessoas parem com essa falta de respeito e humanidade com os bichos indefesos. Sei que é complicado eles tomarem conta dessa parte, mas, quando há uma denúncia de maus tratos, uma filmagem de abandono alguma coisa do tipo, acho que poderiam se interessar e investigar. Peço mais suporte deles nesses casos", apontou.
Alex Figueiredo, de 36 é colega de Pablo e também trabalha como instrutor de direção na região do Piscinão. Ele relata que já presencia os abandonos há mais de uma década e meia, mas, ultimamente, o problema tem piorado.
"Trabalho aqui há oito anos e os abandonos são sempre depois que a gente vai embora, pela noite. São muitos, é uma rotatividade muito grande entre abandono, adoção, e os que acabam mortos. Não conseguimos cuidar de todos e sempre surgem mais. É difícil até de falar alguma coisa, a irresponsabilidade é o pior. Pegam os cachorros quando filhotes, e quando crescem, não querem mais e abandonam como se fosse lixo. O que pedimos é consciência dessas pessoas", contou.
Ele afirma que o problema se repete, sem uma solução, e, justamente pelo trabalho de resgate que as pessoas do local fazem, cada vez mais criminosos tem largado mais bichos na região.
"Virou costume já faz tempo, o pessoal largar os cachorros por aqui, porque eles sabem que tem gente daqui para cuidar, compram comida, ração, remédio e tudo mais. Há uma semana atrás, uma cadelinha aqui pariu oito filhotes, aí, dois dias depois, veio uma pessoa aqui e largou mais sete filhotes. Uma examinadora do Detran acabou pegando todos eles, inclusive a mãe dos filhotes", relatou.
Figueiredo faz um pedido às autoridades para que deem um basta a sofrida realidade dos animais da área, tanto coibindo novos abandonos, quanto resgatando os que já foram deixados por lá.
"Nessa semana largaram dois filhotes em um dia e mais outro no dia seguinte e, domingo, um desses filhotes foi atropelado e quebrou a pata. Ele está na casa de um amigo, que levou ao veterinário e foi informado que não tem jeito de operar ou engessar, será preciso amputar a patinha do cachorro. É muito triste ver essas situações todos os dias. Peço que as autoridades fiscalizem o local e deem um lugar digno para desses animais", finalizou.
O DIA não conseguiu contato com a Prefeitura de São Gonçalo sobre este caso. O espaço está aberto para manifestação.
*Reportagem do estagiário Jorge de Mello, sob supervisão e orientação de Iuri Corsini
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