Publicado 22/01/2023 06:00
Rio - Janelas fechadas, bancos quebrados, lotação máxima e sujeira: essa é a situação de muitos dos ônibus do Rio. Além da precarização, os usuários também relatam o sofrimento com o calor nesta estação mais quente do ano. De acordo com a Secretaria Municipal de Transportes, de novembro de 2022 a janeiro de 2023, já foram registradas 8.800 queixas sobre a falta de ar-condicionado.
A administradora Silvana Ornelas, de 47 anos, moradora de Santíssimo, Zona Oeste, faz o mesmo trajeto há 12 anos. Ela pega, todos os dias às 5h20, o ônibus 731 (Campo Grande x Marechal Hermes) para o trabalho e na volta o 790 (Cascadura x Campo Grande). "Aqui na área já é ruim de ônibus, que dirá com ar-condicionado. Os que eu pego são tão quebrados que eu já tive que abrir um guarda-chuva dentro porque estava chovendo e a janela estava lacrada. Isso é um absurdo e nesse calor tem gente até que desmaia! Há também excesso de passageiros, isso quando não vem faltando alguma peça do carro. Andar todo dia de transporte público é um caos".
Para Silvana, o aumento da passagem, que passou de R$ 4,05 para R$4,30 no início deste mês, deveria garantir o mínimo de conforto para os trabalhadores. "Se esse aumento fosse transformado em melhorias, tudo bem, mas não é o caso. Muito pelo contrário, nós estamos andando em frota sucateada e ninguém está nem aí para isso. Não há transporte suficiente para todos e os que existem não tem uma estrutura adequada para o preço".
Ela ressaltou que seus amigos têm ligado constantemente para a Central de Atendimento ao Cidadão (1746) para registrar reclamações. No entanto, alega que não há retorno. "Conheço muita gente que liga e não adianta nada. Antigamente eu reportava direto no aplicativo, hoje eu nem perco mais o meu tempo. Tudo que eu falo de ruim, na prática é ainda pior. Só quem usa todo dia sabe. Estamos esquecidos".
Thassiane Marina, 27, assistente financeira, mora em Brás de Pina, Zona Norte, e precisa ir para a Barra da Tijuca, Zona Oeste, todos os dias. Ela conta que precisa pegar dois ônibus para ir e dois para voltar, numa saga que piora ainda mais com as atuais condições do transporte. ”Não pego só um ônibus, mas sim dois. Um para o BRT, na Penha, e do BRT para a Barra. O primeiro itinerário dura uns 20 a 30 minutos. O segundo, direto para o meu trabalho, já leva 1h30. Saio todo dia no mesmo horário e o transporte sempre vem cheio e quente".
O diretor da FGV Transportes, Marcus Quintella, explicou que essa situação será difícil de ser solucionada em um curto espaço de tempo. "Esse caso é antigo e recorrente no Rio há muitos anos, principalmente durante a pandemia. Já era para estar toda a frota da cidade climatizada. A solução seria uma fiscalização intensa, mas também o apoio do poder público com abertura de linhas de financiamento para as empresas, que estão em recuperação judicial, prazos para cumprimentos e penalizações a partir disso".
Para Marcus, não adianta cortar o subsídio por quilômetro rodado porque só irá agravar a situação. "É um problema sistêmico, vem em decorrência do próprio mercado e falta fiscalização por parte da prefeitura. O Rio não tem transporte de massa de alta capacidade e tenta transportar pessoas com o rodoviário, o que se torna praticamente impossível com o congestionamento absurdo. Então, como resultado, temos superlotação nos ônibus e BRTs, principalmente na Zona Oeste. Infelizmente, é uma questão que não tem solução imediata e precisamos resolver de maneira racional".
A advogada Nathália Neves, 27, afirmou que faz meses que não pega um ônibus com ar-condicionado na cidade. Ela também ressaltou que, em dias de chuva, alguns carros não têm como fechar a janela por estar emperrada. Em dias de sol, os veículos mesmo sinalizando que possuem sistema climatizado, na verdade, estão com os aparelhos desligados. "Os ônibus vêm com as janelas fechadas e quando entramos sentimos aquele forno. Além disso, as frotas estão decadentes, com cadeiras soltas, sem iluminação e sujos".
Nathália ainda enfatizou que o aumento da passagem não condiz com a entrega do serviço. "Para mim, o prefeito parar de pagar subsídio para as concessionárias é a mesma coisa que nada. Isso precisa estar no contrato dele com elas. Não podemos usar a rede social como um Diário Oficial. Não adianta postar no Twitter e Instagram e não fazer nada e continuar a mesma coisa. A gente paga R$ 4,30 para pegar um ônibus quebrado e sem ar-condicionado. Sem condições".
Segundo a Secretaria Municipal de Transportes, nos últimos doze meses foram aplicadas 976 multas por falta de climatização nos ônibus. E, desde a criação do canal exclusivo para denúncias desse tipo na Central 1746, em novembro do ano passado, o órgão intensificou a fiscalização e a quantidade de multas aumentou quase cinco vezes em relação ao restante do ano.
Sobre a limpeza e conserto do veículo, o órgão informou, através de nota, que ações de fiscalização nas ruas e garagens de ônibus fazem parte da rotina diária da Secretaria Municipal de Transportes. Em casos de irregularidades, como a falta de limpeza e ausência do selo de desinsetização, o consórcio responsável é autuado e os veículos, lacrados.
Prefeitura cancela subsídio
Através das redes sociais, a Prefeitura do Rio informou, na última terça-feira (18), que cancelou o pagamento de subsídios diários aos ônibus municipais que possuem ar-condicionado e circulam com ele quebrado ou desligado. A decisão foi oficializada por meio de decreto no Diário Oficial.
Além disso, o órgão também informou que serão descontados os consórcios que não cumprirem com meta de quilômetro rodado, e ainda receberão multa de R$ 563,28 se a operação for inferior a 60% da quilometragem estabelecida. Caso a operação seja abaixo de 40% da determinação, a penalidade será cobrada em dobro.
As alterações já estarão vigentes para o pagamento referente à segunda quinzena de janeiro de 2023.
Para Silvana, o aumento da passagem, que passou de R$ 4,05 para R$4,30 no início deste mês, deveria garantir o mínimo de conforto para os trabalhadores. "Se esse aumento fosse transformado em melhorias, tudo bem, mas não é o caso. Muito pelo contrário, nós estamos andando em frota sucateada e ninguém está nem aí para isso. Não há transporte suficiente para todos e os que existem não tem uma estrutura adequada para o preço".
Ela ressaltou que seus amigos têm ligado constantemente para a Central de Atendimento ao Cidadão (1746) para registrar reclamações. No entanto, alega que não há retorno. "Conheço muita gente que liga e não adianta nada. Antigamente eu reportava direto no aplicativo, hoje eu nem perco mais o meu tempo. Tudo que eu falo de ruim, na prática é ainda pior. Só quem usa todo dia sabe. Estamos esquecidos".
Thassiane Marina, 27, assistente financeira, mora em Brás de Pina, Zona Norte, e precisa ir para a Barra da Tijuca, Zona Oeste, todos os dias. Ela conta que precisa pegar dois ônibus para ir e dois para voltar, numa saga que piora ainda mais com as atuais condições do transporte. ”Não pego só um ônibus, mas sim dois. Um para o BRT, na Penha, e do BRT para a Barra. O primeiro itinerário dura uns 20 a 30 minutos. O segundo, direto para o meu trabalho, já leva 1h30. Saio todo dia no mesmo horário e o transporte sempre vem cheio e quente".
O diretor da FGV Transportes, Marcus Quintella, explicou que essa situação será difícil de ser solucionada em um curto espaço de tempo. "Esse caso é antigo e recorrente no Rio há muitos anos, principalmente durante a pandemia. Já era para estar toda a frota da cidade climatizada. A solução seria uma fiscalização intensa, mas também o apoio do poder público com abertura de linhas de financiamento para as empresas, que estão em recuperação judicial, prazos para cumprimentos e penalizações a partir disso".
Para Marcus, não adianta cortar o subsídio por quilômetro rodado porque só irá agravar a situação. "É um problema sistêmico, vem em decorrência do próprio mercado e falta fiscalização por parte da prefeitura. O Rio não tem transporte de massa de alta capacidade e tenta transportar pessoas com o rodoviário, o que se torna praticamente impossível com o congestionamento absurdo. Então, como resultado, temos superlotação nos ônibus e BRTs, principalmente na Zona Oeste. Infelizmente, é uma questão que não tem solução imediata e precisamos resolver de maneira racional".
A advogada Nathália Neves, 27, afirmou que faz meses que não pega um ônibus com ar-condicionado na cidade. Ela também ressaltou que, em dias de chuva, alguns carros não têm como fechar a janela por estar emperrada. Em dias de sol, os veículos mesmo sinalizando que possuem sistema climatizado, na verdade, estão com os aparelhos desligados. "Os ônibus vêm com as janelas fechadas e quando entramos sentimos aquele forno. Além disso, as frotas estão decadentes, com cadeiras soltas, sem iluminação e sujos".
Nathália ainda enfatizou que o aumento da passagem não condiz com a entrega do serviço. "Para mim, o prefeito parar de pagar subsídio para as concessionárias é a mesma coisa que nada. Isso precisa estar no contrato dele com elas. Não podemos usar a rede social como um Diário Oficial. Não adianta postar no Twitter e Instagram e não fazer nada e continuar a mesma coisa. A gente paga R$ 4,30 para pegar um ônibus quebrado e sem ar-condicionado. Sem condições".
Segundo a Secretaria Municipal de Transportes, nos últimos doze meses foram aplicadas 976 multas por falta de climatização nos ônibus. E, desde a criação do canal exclusivo para denúncias desse tipo na Central 1746, em novembro do ano passado, o órgão intensificou a fiscalização e a quantidade de multas aumentou quase cinco vezes em relação ao restante do ano.
Sobre a limpeza e conserto do veículo, o órgão informou, através de nota, que ações de fiscalização nas ruas e garagens de ônibus fazem parte da rotina diária da Secretaria Municipal de Transportes. Em casos de irregularidades, como a falta de limpeza e ausência do selo de desinsetização, o consórcio responsável é autuado e os veículos, lacrados.
Prefeitura cancela subsídio
Através das redes sociais, a Prefeitura do Rio informou, na última terça-feira (18), que cancelou o pagamento de subsídios diários aos ônibus municipais que possuem ar-condicionado e circulam com ele quebrado ou desligado. A decisão foi oficializada por meio de decreto no Diário Oficial.
Além disso, o órgão também informou que serão descontados os consórcios que não cumprirem com meta de quilômetro rodado, e ainda receberão multa de R$ 563,28 se a operação for inferior a 60% da quilometragem estabelecida. Caso a operação seja abaixo de 40% da determinação, a penalidade será cobrada em dobro.
As alterações já estarão vigentes para o pagamento referente à segunda quinzena de janeiro de 2023.
Linhas com mais reclamações
As linhas com o maior número de chamados e queixas pela falta de ar-condicionado são:
232 (Castelo x Lins)
249 (Água Santa x Carioca)
606 (Engenho de Dentro x Rodoviária)
363 (Vila Valqueire x Candelária)
422 (Grajaú x Cosme Velho)
247 (Camarista Méier x Passeio)
457 (Abolição x Copacabana)
638 (Saens Peña x Marechal Hermes)
908 (Bonsucesso x Guadalupe)
321 (Bancários x Castelo)
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