Jiboia de aproximadamente dois metros foi vista na calçada Reprodução / Instagram
Publicado 02/02/2023 12:04
Rio - Moradores da Rua Bombaim, em Bangu, Zona Oeste do Rio, levaram um susto e tanto após terem suas casas invadidas por jiboias na última quarta-feira (1). O Corpo de Bombeiros foi chamado duas vezes em um espaço curto de tempo e resgatou os animais, levando-os de volta para a natureza. Nas redes sociais, vídeos das cobras sendo resgatadas viralizaram. Segundo quem mora na região, as visitas desses animais são recorrentes.

De acordo com informações do Corpo de Bombeiros, militares do quartel de Realengo foram acionados às 14h55 para resgatar uma serpente de mais de dois metros de comprimento, que estava no portão de uma residência, localizada na esquina com a Rua Tibagi.

A presença do animal, se locomovendo pela calçada, em plena luz do dia, chamou a atenção dos moradores das duas ruas que, assustados e surpresos, filmaram a cobra 'passeando' pelo local. Os vídeos viralizaram na internet.



O estudante Tiago Castro, de 25 anos, morador de uma rua próxima, passou pelo local onde a serpente estava e relatou o susto de ter encontrado a serpente.

"Poxa, foi um tanto assustador. Eu passei de bicicleta na hora que já estava uma galera aglomerando e filmando, tinham até carros parados.

Segundo ele, a região é conhecida por possuir bastantes áreas de mato e os moradores já estão acostumados a conviver com os animais que habitam o local.

"O que aconteceu não foi nada de novo sob o sol, mas sempre chama a atenção, eu mesmo me assustei, bate aquele receio. Aqui nessa área é bem comum esse tipo de coisa. Tem de tudo, gambá, sapo, cobra, chega a ser engraçado porque, pra quem é de fora, parece absurdo, mas, para nós, já é algo um tanto normal", contou.

Horas antes, por volta das 2h da madrugada, bombeiros da mesma unidade já haviam sido chamados, pelo dono de outra casa da Rua Bombaim, na altura do número 350, para retirar uma cobra que invadiu a residência e tirou o sono da família que mora no local.
Ainda de acordo com o Corpo de Bombeiros, os animais, despois de resgatados, foram levados de volta para o Parque Estadual da Pedra Branca, área conservação ambiental situada na Zona Oeste do Rio.

Cobra devora gato em bairro próximo

No dia 25 de dezembro do ano passado, outra jiboia invadiu o terraço de uma casa, na Rua Paulo Roberto da Silva Nogueira, em Sulacap, na Zona Oeste e atacou a gata dos moradores da residência.

O bichano acabou devorado pela cobra, fato que foi presenciado pela matriarca da família com bastante tristeza. Os bombeiros foram acionados e a serpente foi retirada e transportada para um local próprio.


Segundo a matriarca da família, a autônoma Ângela Azevedo, de 45 anos, a serpente teria entrado subindo pelas árvores que ficam atrás da casa, cujos galhos acabam por chegar até o último andar da casa.

"Eu moro bem próximo a Vila Militar e atrás da minha casa é o terreno do Exército, que tem bastante mato e também tem o BRT, a Transolímpica passa por aqui. A cobra simplesmente estava no terraço, ela subiu pelas árvores que tem nesse terreno aqui atrás da minha casa. Era uma cobra bem grande, uma jibóia amarela, deveria ter uns dois metros".

Ângela contou que, ao chegar no terraço, para a tristeza dela, encontrou a cobra engolindo seu animal de estimação e nada pôde fazer.

"A minha gatinha estava no terraço, como ela estava doente, e não sabíamos o que era, eu a deixei lá para não fugir e nem passar nenhuma doença para os outros que vivem na minha casa. Era uma gata adulta, grande e, quando eu subi, a cobra já tinha engolido metade. Não mexi, não fiz nada porque sabia que a gatinha já estava morta, porque a jiboia estrangula para depois engolir"

Sem poder intervir e com a gata já morta, ela esperou a serpente se alimentar e acionou os bombeiros, que resgaram o réptil. Segundo a autônoma, a presença desse tipo de animal na região é comum.

"Esperei ela terminar o processo e ela se arrastou, tentou sair mas não conseguiu e então eu chamei o Corpo de Bombeiros. Aqui não é a primeira vez que aparece cobra na minha casa, já tiveram outras vezes e até na frente da minha casa também, com jiboias e outros tipos de cobra, algumas até peçonhentas.

Para ela, o caso poderia ter tido um desfecho ainda pior, pois o filho dela também mora na residência e tem acesso ao terraço. Mesmo em meio a tristeza, ela descreve que a família passou por um livramento.

"Foi um susto enorme, eu tenho um filho de seis anos, fiquei muito assustada porque meu filho poderia ter subido no terraço e a cobra agarrado nele. Pode ter sido até um livramento, pois poderia ter sido um de nós, a cobra poderia ter atacado qualquer um de nós e, se fosse meu filho, por ser criança, poderia até tê-lo matado", finalizou.
Especialista explica o fenômeno
Albedi Junior, biólogo, mestre e doutor pela URFJ em herpetologia, área dedicada a estudar répteis, e pesquisador do Museu Nacional, explicou que o principal motivo para a entrada das cobras nas residências se deve pela procura de alimentos e abrigo.

"As cobras são ectodérmicas, isto é, não são capazes de controlar a temperatura corporal e precisam de termorregulação, ou seja, elas precisam de calor e de calor para se aquecerem e fazer com que seu metabolismo entre em funcionamento e elas poderem fazer as atividades diárias da vida delas, que é se locomoverem para procurarem alimento e abrigo"

Segundo Albedi, o avanço das construções em áreas de natureza, desmatando e acabando cada vez mais com o habitat natural dos animais, é um dos fatores que contribuem para o aparecimento das serpentes.

"Dois fatores causam o aparecimento dessas cobras na região de Bangu. O primeiro é a perda de habitat, já que, cada vez mais, nós estamos entrando para o ambiente natural desses animais, cada vez mais nós estamos desmatando e fazendo construções próximas dessa região de mata, então esses animais começam a entrar nas casas à procura de abrigo e alimento.

Outro ponto que estaria levando as cobras a circularem pela região, segundo Junior, se dá pelo fato de que esses animais se tornam mais ativos durante o verão.

"O segundo fator está relacionado com a alimentação. Agora, no verão, esses animais estão se locomovendo mais porque agora é quente, tem sol, elas estão mais ativas e começam a procurar mais alimentos. Como o principal alimento dessas serpentes são roedores e gambás, que tem uma população maior nessa época, elas começam a sair das matas e procurar comida"

Ele destacou que, no ponto de vista da biologia, desmatar e construir prédios e casas, os seres humanos é que estão invadindo a área que já pertencia aos animais.

"O que acontece na maior parte da região sudeste é isso, elas estão atrás de alimentos e abrigo e acabam entrando nas casas das pessoas. Como especialista, não entendo isso como invasão, já que nós é que estamos construindo na natureza, tomando o habitat delas"

O hepetólogo apontou que, para evitar a entrada de serpentes nas residências, é necessário evitar deixar restos de alimentos espalhados e o lixo orgânico deve ser retirado com frequência.

"Nessa época do ano, os moradores precisam ficar um pouco mais atentos quanto a limpeza no entorno das suas casas, principalmente relacionada a questão do lixo orgânico, que é o resto de comida e alimentos, porque isso atrai ratos e gambás, que são os principais alimentos de jiboias e jararacas, as principais cobras que aparecem nessa época do ano. O principal ponto é não deixar restos de alimentos, para evitar a presença desses animais"
O que fazer nesses casos

O Corpo de Bombeiros alerta para os procedimentos corretos em ocorrências de cobras entrarem nas residências:

- Não tentar matar o animal.
- Não tentar tocar no animal, pois ele pode se sentir ameaçado e atacar.
- Retirar crianças e idosos do local.
- Acionar o Corpo de Bombeiros através do telefone 193.
*Reportagem do estagiário Jorge de Mello, sob supervisão de Iuri Corsini
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