Publicado 06/02/2023 07:00
Rio - Até onde vai o amor de uma mãe pelos filhos? Para Claudia Lima, 47 anos, não há limites. Mãe de dois jovens, ela sustenta a família vendendo doces gourmets pelas ruas da Zona Oeste do Rio para conseguir levá-los a competir fora do estado. Matheus Lima, de 16 anos e Débora Lima de 13, são atletas juvenis de Kickboxing na categoria point fight. Para vê-los trilharem o caminho do sucesso esportivo, a moradora de Curicica deixou de lado a psicologia e investiu em um curso de confeitaria. Hoje banca todas as viagens, sem ajuda de patrocínio, e o objetivo principal é levá-los ao mundial.
"Em 2021 a minha filha foi classificada para o sul-americano. Eu não tive condição de comprar passagem aérea e pagar as inscrições e os hotéis escolhidos pela confederação. Eu vi a tristeza dela. Uma atleta classificada, que chegou na porta da competição, mas não foi porque não tem condições de pagar. Eu guardei a sensação de impotência dela e me levantei no ano seguinte", lembrou.
Claudia estudou enquanto os jovens seguiam vencendo competições no Rio e em São Gonçalo. Quando teve a ideia de fazer doces para ajudar nos custos tinha apenas R$ 279, que era o dinheiro da conta de luz, e decidiu investir no material para começar. A oportunidade de ir para o torneio estadual em Vitória, no Espírito Santo, fez ela bater de porta em porta junto com os filhos, inclusive durante as competições.
"Fiz os doces de madrugada e vendemos até fecharem os ginásios, inclusive nas ruas. Assim conseguimos dinheiro para a competição. E eu não consegui parar", disse a confeiteira, que não sabia fazer bolos, apenas brigadeiros. Para aprender, contou a sua história para os instrutores e recebeu ajuda do Instituto Gourmet.
"Depois que comecei no curso, me apaixonei pela doceria, e hoje nossos doces são caprichados, tudo fresquinho e muito gostoso. As crianças quando chegam da escola me ajudam na finalização e na embalagem", comenta.
Campeões e destaques no ranking internacional
Matheus e Débora seguiram competindo e subindo ao pódio. Foram campeões do estadual, Taça Guanabara, Campeonato Brasileiro e Pan-Americano. Na Copa do Brasil sub 17, ele foi medalha de ouro e ela medalha de prata. O ano de 2022 foi tão bom que em março eles vão receber o Oscar do Kickboxing, em São Gonçalo, como os melhores no estado do Rio de Janeiro. No ranking internacional, Débora e Matheus aparecem em 9º lugar e 12º lugar.
O objetivo principal da dupla é o campeonato mundial de 2023. Mas para que isso aconteça, eles precisam de patrocínio e passar por todas as competições, sem perder, sem faltar, e se manter no ranking. “As crianças são determinadas, treinam muito, e amam o esporte. Eu sou árbitra, pratico lutas e dou aula de kikboxing. O pai treina eles e é faixa preta em taekwondo, então eles já cresceram na academia”, lembra a mãe.
O kikboxing foi reconhecido pelo Comitê Olímpico em 2021 e deve ser incluído nas Olimpíadas de Los Angeles. Matheus e Débora sonham em disputar o torneio e dividem a rotina entre a venda de doces, a escola e os treinos. Pai e treinador, Paulo Roberto Oliveira, acredita na classificação dos filhos para os torneios internacionais. "Eu acredito muito que eles tem potencial para o mundial e as olimpíadas. E nós vamos fazer o possível", promete.
Com bons exemplos em casa, a dupla de ouro tem esporte na veia. Matheus conta que a luta funciona como uma terapia. "O kinboxing pra mim é vida, porque sempre que eu me sinto pra baixo, com algum problema, independente do que for, ele é a solução. A luta em sí é a solução. Eu aprendi com o meu pai. E foi a minha mãe que me levou aos mais altos níveis e hoje eu sou campeão Pan-Americano. O kinboxing está na veia. Ele me completa", afirma. Já Débora revela que tem sonhos ainda maiores e mais radicais. "Eu quero chegar nos campeonatos de MMA e UFC. Quero ser campeã!"
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