Publicado 18/02/2023 09:31 | Atualizado 18/02/2023 09:57
Rio - A comitiva do Conselho Internacional de Museus (Icom) visitou as obras de restauração do Paço de São Cristóvão, que abriga o Museu Nacional. Com a presença de representantes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), os visitantes conheceram artefatos arqueológicos resgatados no curso das obras, como a “sala das conchas”, onde foram encontradas 26 mil conchas sobre um piso de pedra espessa; vestígios de pisos e calçamentos que ligavam o pátio principal ao Jardim das Princesas; e a área da antiga Capela Imperial de São João Batista, onde foram localizadas partes da estrutura de uma antiga capela em bom estado de conservação. A visita foi realizada na última segunda-feira (13).
“Visitando o museu, percebo o quanto foi perdido, mas sinto que vocês mantiveram a resiliência e o entusiasmo”, reflete a presidente do Icom, a italiana Emma Nardi. “Além da reconstrução, vocês vem recuperando até mesmo elementos que não se conhecia antes da tragédia. Por isso, sei que os esforços da equipe darão certo”, celebra. Entre outras atividades, o Icom veio ao Brasil para lançar a “Red List”, lista com bens culturais protegidos pela legislação e que estão sob grande risco.
Alexander Kellner, diretor do MN, enfatizou a importância da definição de uma agenda positiva com o Icom. "Temos totais condições de devolver o Museu Nacional/UFRJ à sociedade civil. E a colaboração do Icom, como a de outras organizações nacionais e internacionais, fortalece ainda mais o nosso projeto e o nosso caminho pelos próximos quatro anos. Sabemos que recompor um acervo original não é uma tarefa fácil, mas temos certeza de que, com o apoio que estamos recebendo, alcançaremos as metas e reabriremos o nosso Museu com todos os elementos e atrações que nossa população espera”, finaliza.
As ações de monitoramento, prospecção e resgate arqueológico começaram em maio de 2021, sob acompanhamento do núcleo de arqueologia da Superintendência do Iphan-RJ. A equipe de arqueólogos da UFRJ vem descobrindo uma série de artefatos relacionados ao cotidiano do palácio, elementos que já não estavam visíveis antes do incêndio e que devem ser reincorporados ao prédio, como pinturas murais e um antigo forno, por exemplo. Esse requintado fogão, atípico para o Brasil Imperial, fica ao lado da sala de jantar usada por Dom Pedro I.
Esta frente de trabalho busca revelar informações culturais relacionadas ao edifício, seus ocupantes em diferentes momentos da história e aqueles que ali trabalharam. A arqueologia também contribui com o desenvolvimento do projeto de arquitetura e restauro do palácio, em curso no âmbito do projeto Museu Nacional Vive.
"O Iphan tem acompanhado e orientado o desenvolvimento do projeto de recuperação do Museu Nacional desde o dia seguinte ao incêndio”, explica o superintendente do Iphan-RJ, Paulo Vidal. “No processo de restauro é fundamental entender a evolução do prédio e, nesse sentido, as estruturas reveladas e pesquisas arqueológicas nos permitem compreender todos os processos pelos quais passou o Paço de São Cristóvão. Esta edificação que começou a sua história como casa rural, depois tornou-se residência oficial da coroa portuguesa, e hoje o trabalho de arqueologia nos permite ler as etapas dessa história nas estruturas do prédio”, complementa.
As atividades arqueológicas são permanentes e continuam sendo desenvolvidas em sintonia com a coordenação do projeto, que envolve arquitetos, projetistas e o Comitê Curatorial para as futuras exposições do Museu. Arqueólogos da UFRJ e estudantes estão envolvidos nas ações arqueológicas.
Histórico
Instituição científica mais antiga do País, o MN também foi o primeiro museu brasileiro. Criado por D. João VI em 1818, funcionou, a princípio, no Centro do Rio. Após a proclamação da República, mudou-se para o Paço da Quinta da Boa Vista em 1892. O palácio abrigou a residência oficial da família real portuguesa e, depois, da família imperial brasileira. Ao longo desse período, testemunhou momentos emblemáticos da história do Brasil.
O prédio atual, em estilo neoclássico, representa um dos mais significativos exemplares da arquitetura brasileira. Tombados em 1938, o palácio e os jardins da Quinta foram inscritos em dois Livros do Tombo do Iphan: o Histórico e o das Belas Artes. Projetado por Auguste François Marie Glaziou, o parque de estilo romântico apresenta lagos, pontes, elevações e depressões, cascatas artificiais e quiosques. A Quinta da Boa Vista é um espaço de cultura e lazer bastante frequentado por cariocas e turistas.
Em setembro de 2022, inaugurou-se a fachada principal restaurada, no bojo das celebrações do Bicentenário da Independência do Brasil. Após a reabertura do MN, o Paço vai abrigar apenas espaços de exposição: as atividades de ensino e de pesquisa serão deslocadas para um campus, conforme recomendação do Iphan.
Recentemente, o Iphan passou a integrar o Comitê Executivo Museu Nacional Vive. Tombado pelo Iphan, o bem cultural sofreu um incêndio de grandes proporções em 2018. Embora o Comitê já existisse, até agora o Iphan não o integrava.
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