Fábrica de Singen, na Alemanha, onde será produzida a vacina Qdenga, da Takeda PharmaDivulgação
Publicado 20/03/2023 06:00 | Atualizado 20/03/2023 14:50
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Rio - Aprovada pela Anvisa no início do mês, a vacina contra a dengue Qdenga, produzida pela Takeda Pharma, está sendo tratada como prioridade pelo Ministério da Saúde para inclusão na Rede SUS. A informação foi confirmada ao DIA pela pasta, que afirmou ainda não haver uma data para que isso aconteça. No entanto, segundo a empresa, a previsão é que, no segundo semestre, o imunizante esteja disponível em clínicas e hospitais particulares do país e para aquisição por secretarias municipais e estaduais de saúde.

"No dia seguinte à aprovação pela Anvisa (2 de março) nós fizemos a submissão de proposta de preço à CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos), que irá definir o preço que a vacina será comercializada. Em paralelo, tivemos reunião com representantes do PNI para apresentação dos dados técnicos-científicos. Agora, esperamos novos questionamentos. Vamos responder tudo com agilidade para que a vacina seja disponibilizada na rede pública o mais rápido possível", explica Vivian Lee, diretora executiva de Medical Affairs da Takeda no Brasil.

A vacina Qdenga protege contra os quatro sorotipos da dengue, e foi aprovada para a faixa etária entre 4 e 60 anos de idade, independentemente se a pessoa já teve contato com o vírus ou não. Ela é aplicada em duas doses, com intervalo de 3 meses. Os estudos de eficácia e segurança foram feitos com mais de 28 mil pessoas em países da América Latina e da Ásia. No Brasil, os testes foram realizados em quatro estados: Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul e Bahia, com 1,8 mil participantes.

Os resultados apontaram prevenção de 80,2% dos casos de dengue sintomática em 12 meses após a vacinação e redução de 90,4% de casos de hospitalização em 18 meses. Após quatro anos e meio, esses dados de eficácia atingiram a marca de 61% e 84%, respectivamente.

"São resultados muito satisfatórios e que mostram uma proteção sustentada. O público testado segue sendo acompanhado, para sabermos, por exemplo, se será necessária dose de reforço ou não", diz Vivian Lee.

Segundo o Ministério da Saúde, após a avaliação pela CMED, que definirá o preço teto da vacina, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) deve avaliar a sua incorporação na Rede SUS.

"Nessa análise, a Conitec considera aspectos como eficácia, efetividade, segurança e impacto econômico da nova tecnologia com base nas melhores evidências científicas disponíveis", diz a nota do Ministério da Saúde.

Capacidade de controlar surtos

A Qdenga é a segunda vacina contra a dengue aprovada pela Anvisa no país. Porém, como explica o pediatra infectologista Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), é a única com capacidade de incorporação pelo SUS e aplicação em larga escala capaz de conter surtos da doença, pois a Dengvaxia, da Sanofi, aprovada em 2015 pela Anvisa, só pode ser aplicada em quem já teve contato com o vírus da dengue, sendo necessária a realização de exame prévio para saber se a pessoa já foi infectada ou não pela doença.

"Além disso, a Dengvaxia é uma vacina com aplicação em três doses com um intervalo de seis meses. A pessoa leva mais de um ano para se proteger, o que não serve para controle de surtos. Por essas limitações, ela nunca foi utilizada em larga escala e nunca se cogitou implementá-la em programa de saúde pública, mas está disponível na rede privada", explica Kfouri.

Segundo o médico, após a incorporação pela Rede SUS da Qdenga, segue-se a discussão sobre o melhor esquema de imunização. "Agora a gente deve estudar a melhor estratégia de vacinação no PNI. Dependendo do quantitativo de doses, será preciso estabelecer quais serão as faixas etárias prioritárias para atingirmos o melhor benefício".
Na avaliação de Kfouri, a aprovação da Qdenga é um importante avanço para o controle do problema de saúde pública nacional causado pela dengue: "Ter uma vacina segura, eficaz e que possa ser aplicada para toda a população é, sem dúvida, uma necessidade para nós, já que o controle do mosquito em um país como o nosso, com lixões e problemas de saneamento básico, é muito difícil".
Casos de dengue atingem o maior número desde a década de 1980

Segundo os dados mais recentes do Ministério da Saúde, o ano de 2022 registrou 1,4 milhão de casos prováveis de dengue: um aumento de 162,5% na comparação com 2021. Em relação às mortes, foram 1.016 casos, o número mais elevado desde o início da série histórica, na década de 1980, segundo o infectologista e presidente da Associação Brasileira de Infectologia, Alberto Chebabo.

Para ele, o crescimento está relacionado à covid-19, que monopolizou as atenções da população e dos órgãos públicos, e às mudanças climáticas, que geram um ambiente mais propício para o mosquito Aedes Aegypti, o principal vetor de transmissão da dengue:

"O aumento da temperatura e do período de chuvas têm gerado um ambiente mais propício para o mosquito. Com isso, temos visto casos de surto no Sul do país, que antes não havia. É algo que acontece em outras partes do mundo também, como nos Estados Unidos, com áreas temperadas gradativamente adquirindo características tropicais".

Já os dados da Prefeitura do Rio apontam 4.556 casos de dengue em 2022, um aumento de 385% em relação a 2021. Foram quatro mortes no ano passado, contra duas no ano anterior. Nos três primeiros meses deste ano, há 2.407 casos de dengue registrados, um aumento de 392% na comparação com o mesmo período de 2022, que teve 489 ocorrências.

"No Rio o mosquito está bem adaptado. O que pode acontecer com as mudanças climáticas é a expansão do período de surto, que atualmente é verificado entre novembro e abril e pode passar a ocorrer até maio, por exemplo", alerta Chebabo. 
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