Grupo Conexão do Bem no Hospital Estadual da Criança. Sebastian Alves se diverte com encenação de pescariaCleber Mendes/Agencia O Dia
Publicado 20/03/2023 07:00 | Atualizado 20/03/2023 21:41
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Rio - A pequena Ester Francisco, de 2 anos, estava um pouco desconfiada no início. O grupo usava máscaras e a impressão inicial que teve era que tratavam-se de enfermeiros. "Calma, filha, não vai ter injeção nao", disse o pai. Mas ela logo percebeu a diferença. O pessoal usava roupas coloridas e, tocando instrumentos musicais, cantavam e dançavam. Era o conjunto Conexão do Bem que, formado por cinco músicos e atores, voltou a realizar cortejos nos hospitais da cidade. A visita da última sexta-feira foi no Hospital Estadual da Criança, em Vila Valqueire.
Aos poucos, Ester começou a sorrir, enquanto era envolvida em uma cena teatral improvisada pelo grupo, que cantava a música 'Alecrim Dourado' na chegada ao ambulatório oncológico, onde Ester estava. Felipe Haiut deu início à cena, enquanto todos se abaixavam ao redor da criança, tocando em volume cada vez mais baixo:

"Gente, sabe que vocês assim parecem até uma sementinha?", disse o ator.

Seguiu-se um diálogo entre eles:

"Eu tive uma sementinha em casa uma vez. Coloquei na terra, peguei um regador e fiz assim, querem ver"?, disse Nina Reis.

Felipe sugeriu:

"Você poderia fazer a sementinha e nos mostrar o que houve".

Todos ficaram ao redor de Nina e alguém falou: "Aí veio a chuva". Todos ficaram ao redor dela e, com os braços, simularam a água caindo sobre a sementinha. Nina foi se erguendo até que ficou de pé e o grupo voltou a cantar: "Alecrim, alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado..."

A essa altura Ester já gargalhava.

E o grupo seguiu adiante. Na sala em que as crianças internadas têm aulas para não se atrasarem na escola, o grupo entrou formando um trenzinho. Ester veio atrás, e se juntou a Myllena Bastos, de 5 anos, na brincadeira. Myllena foi na frente tocando o chocalho que, na encenação, simbolizava o apito do trem. Mais uma vez, Ester gargalhava e pulava durante a apresentação.

"Quando vocês voltarem, vocês avisam?", perguntou a menina quando o grupo já deixava o espaço.

A próxima parada foi o setor de imagem, onde Sebastian Alves, de 8 anos, aguardava em uma cama hospitalar o momento de passar por exame. O grupo o rodeou e, cantando uma música de pescador, fazia encenações de uma pescaria.

"Pescador quando quer peixe grande joga a rede no mar", disse a atriz Laura Araújo.

E o que aconteceu? Pegaram um tubarão! Com o violão, Pedro Nêgo fez a vinheta típica da aproximação do animal. Sebastian não tirava o sorriso do rosto e até mesmo não sabia para onde olhar. Movimentava a cabeça para todos os lados para não perder um só momento da encenação. Sua bisavó, Maria José, chorava e abraçava os médicos ao ver a alegria do menino, diagnosticado com microcefalia.

"Ver o meu menino sorrindo assim é lindo. Muito obrigado. Ele tem sentido muitas dores. Mas parece que toda a dor desapareceu. Até mesmo a médica se espantou", disse Maria José.

Espaço ressignificado

O Grupo Conexão do Bem acaba de completar 10 anos de fundação. Ele surgiu da reunião de cinco amigos que se conheceram na escola de teatro O Tablado, de Maria Clara Machado, considerado o templo do teatro infantil. Quando se apresentam em hospitais com crianças, Felipe conta que procuram torná-las protagonistas das cenas improvisadas:

"Mesmo que momentaneamente, elas estão afastadas dos espaços de brincar. A gente procura trazer esse universo para elas para que possam recuperar os momentos bons da infância".

A atriz Mag Pastori explica que a comunicação é imediata e eficaz, já que a capacidade imaginativa dos pequenos facilmente os conduz para um outro universo:

"Rapidamente eles conseguem ressignificar o espaço do hospital e se transportam para outras realidades

As primeiras apresentações do grupo foram no Hemorio, onde também aconteceram episódios que mostram na prática o quanto a arte pode contribuir para a recuperação física e emocional dos pacientes:

"Teve o caso de uma senhora com Alzheimer que nos marcou. Havia tempo que ela não falava. Quando chegamos, ela começou a cantar conosco e, depois, a conversar com a filha. Foi algo impressionante. Todos se emocionaram. Parece mesmo que a arte é capaz de acionar outras camadas do espírito", lembra a produtora Juliana Trimer.
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