Inea libera entrada de banhistas na Praia da Bica e no Flamengo, mas não recomenda Leblon

Rio - O boletim do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) sobre a balneabilidade das praias do Rio, divulgado nesta terça-feira (21), apontou que a Praia do Leblon, na Zona Sul, está imprópria para banho, enquanto praias tradicionalmente não adequadas, como a do Flamengo, na Zona Sul, e da Bica, na Ilha do Governador, estão liberadas e com água cristalina.

O levantamento sobre a Praia da Bica chama atenção porque, nesta quarta-feira (22), havia um acúmulo de sujeira na areia e na água, como o de embalagens plásticas que são trazidas pela Baía de Guanabara, fato que acontece corriqueiramente. Mesmo com o flagrante, o Inea avalia que o índice de coliformes fecais está nos padrões aceitáveis. Segundo o instituto, o banho de mar só é recomendável na faixa que compreende a Rua Henrique Lacombe.

O administrador Daniel Cunha, de 39 anos, diz que não se prende em relação a liberação de órgãos para entrar na água. Ele, que mora há 23 anos na Ilha do Governador, treina futevôlei na Praia da Bica e costuma mergulhar no mar para tirar a areia. Contudo, Daniel só faz isso de manhã cedo quando a maré ainda está baixa e ainda não trouxe o lixo de outros locais. Assim, o administrador avalia se o mar está propenso para banho.

"Eu frequento a Praia da Bica e sempre entro na água. Eu treino futevôlei geralmente às 7h da manhã e 90% dos dias eu mergulho, exceto nos dias que a água está muito escura. Como treinamos de manhã cedo, a maré está bem baixa e não está trazendo resíduos. Ela só enche depois de 10h e 11h e aí começa vir um monte de entulho e sujeira que ficam presos na areia. Eu não sairia na minha casa hoje com minha esposa e meu filho para frequentar a praia e mergulhar porque não temos essa cultura, mas se eu tiver na praia jogando futevôlei, eu mergulho. Quando a gente sabe que tá liberado, ficamos mais tranquilos, mas eu vou mais pelo olho. Tem que ter um discernimento e visualmente falando tem como saber", afirmou.

Daniel ainda acrescentou que o que mais afasta as pessoas do local é a quantidade de lixo que toma a areia diariamente. De acordo com o administrador, a Praia da Bica é o ponto final desses entulhos que são oriundos de outros locais e são levados para a região pela Baía de Guanabara.

"O maior afastador de pessoas da praia é a quantidade de lixo que vem na água. Não é nem o tom em si. Todo dia entra muito lixo e detrito. É trabalho de enxugar gelo da Comlurb porque a praia se suja sozinha. O que as comunidades jogam no canal vêm tudo pra cá. Esteticamente a praia está sempre suja", completou o morador.

Questionada sobre como funciona a limpeza, a Comlurb informou que a limpeza da Praia da Bica é feita diariamente. Em média, 3 a 5 toneladas de lixo são retiradas do local por dia. De acordo com o órgão, a área sofre com a chegada dos entulhos pela maré.

"O ponto importante em relação ao lixo de maré é a conscientização, uma vez que é o prejuízo pela colocação do lixo no lugar errado. A população pode colaborar fazendo o descarte correto dos resíduos, não jogando lixo nas encostas de morros ou em rios", disse em nota.

O biólogo Mário Moscatelli explicou que o nível de balneabilidade das praias depende da época quando a coleta for realizada, sendo diferente em épocas de chuva, maré baixa e alta, e com interferência da lua. O especialista sobrevoou nesta terça-feira (21) algumas praias da Zona Sul do Rio e destacou que as águas estavam cristalinas, podendo até ver o fundo.

De acordo com o Inea, no Flamengo, tanto a praia na altura da foz do Rio Carioca, como na altura da Rua Correia Dutra, estão próprias para o banho, algo que havia acontecido apenas duas vezes neste ano. O mesmo acontece no Leme, na Praia Vermelha, em Copacabana, em Ipanema, no Vidigal e em São Conrado.

Já no Leblon, que é bem desejado por banhistas, na Urca e em Botafogo, o instituto não recomenda a entrada de pessoas na água. A praia do Leblon, segundo o órgão, está imprópria pra banho no momento por causa das fortes chuvas que atingiram a cidade do Rio em fevereiro. Ainda há matéria orgânica no mar do bairro depois que as comportas do Canal da Visconde de Albuquerque foram abertas para escoamento da água.

"Como eu digo, não há milagre e tão pouco mágica. São décadas de descaso com o tema ambiental-saneamento e dessa forma foram criados monstros ambientais na Baía de Guanabara, em Sepetiba e no Sistema Lagunar de Jacarepaguá que podem ser revertidos do ponto de vista técnico. Vai dar trabalho, mas é completamente exequível. Não tinha sido, até bem pouco tempo atrás, pois não havia interesse em recuperar coisa alguma. Como não há mal que dure para sempre, a situação mudou com a entrada das novas concessionárias de água e esgoto. Portanto a expectativa é de melhoria gradual na medida que o saneamento for universalizado e o sistema de saneamento recuperado", disse Moscatelli.

Na Zona Oeste, o banho é recomendado na praia da Barra da Tijuca (em frente ao Riviera Country Club e Av. Ayrton Senna), do Recreio dos Bandeirantes, de Grumari, do Pontal e de Barra de Guaratiba. Contudo, os banhistas devem evitar a praia na altura do Quebra-mar e na frente do 2º Grupamento de Bombeiros, ambas na Barra, pois o Inea não recomenda a entrada no mar.