Gabriel Henrique dos Santos, de 18 anos, morreu depois de participar de uma sessão de treinamento no 1º Batalhão de Polícia do Exército (PE)Reprodução
Publicado 22/03/2023 18:00 | Atualizado 23/03/2023 19:05
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Rio – "É mentira que o Exército está dando apoio. No dia do enterro me deram uma bandeira. Troquei a vida do meu filho pela bandeira nacional. Ninguém ligou, nenhuma assistente social, nada". A fala indignada é de Carlos Henrique Lima, pai de Gabriel Henrique dos Santos, de 18 anos, que morreu no último dia 3, depois de participar de uma sessão de treinamento no 1º Batalhão de Polícia do Exército (PE), na Tijuca, Zona Norte. Ele alega que não é verdade o que o Exército diz sobre ajudar a família.  
Em entrevista ao DIA, Carlos Henrique, professor de História, afirmou ainda que o Exército não colaborou com a situação de Gabriel. "Não tiveram solidariedade com o meu filho. Quatro jovens passaram mal naquele dia. Infelizmente, o meu faleceu. O tenente do batalhão é sem caráter, sem moral e não honre a farda que usa. Não posso aceitar que esse infeliz acorde todo dia e beije a mãe, o pai e vá para o quartel maltratar o filho dos outros", desabafou.
O homem acusa o Exército de ter apreendido o celular da vítima para fazer perícia e não ter devolvido o aparelho até o momento, além de a investigação não estar sendo realizada junto com a Polícia Civil, como deveria ser, segundo a família.
Formado no curso de técnico da informática, Gabriel alistou-se no Exército para trabalhar com tecnologia da informação. Ele tinha sido selecionado, com outras quatro pessoas, para trabalhar na área, no Museu do Exército, na Central do Brasil, no Centro do Rio. "Meu filho não precisava ir para as Forças Armadas para ser um homem. Ele só queria trabalhar na área dele", disse.
Carlos denunciou que o Exército maquiou o inquérito do filho para esconder dados e ainda não passaram para ele o número do processo de investigação, embora ele o peça diariamente. Disse ainda que irá confrontar o Exército sobre o caso: "Quem enterra um filho já perde metade do coração. Meu filho não morreu em vão, ele evitará que filhos dos outros morram lá na frente. Eu vou lutar, eu não vou me acovardar".
Para enterrar o Gabriel, o Exército cobrou uma taxa de mais de R$ 700. Porém, a família optou por um sepultamento à parte, custeando ela mesma a cerimônia. Ainda assim, conforme Carlos Henrique relatou, a instituição cobra a taxa diariamente: "Querem cobrar mais de R$ 700 pelo enterro que não fizeram, o avô que pagou. Queriam enterrar com outras pessoas que não conhecemos. Mas mandam mensagem para o meu outro filho cobrando o valor". 
Sobre a responsabilidade pelos fatos, Carlos Henrique esclareceu que não quer vingança, apenas quer justiça: "Eu só quero justiça. Nada no mundo vai mudar a dor que estou sentindo. Eles têm que ser responsabilizados. Essa é a segunda morte em menos de um ano neste lugar que me recuso a chamar de quartel. Pois lá não é quartel. Lá é centro de tortura", disse referindo-se ao falecimento de Pedro Henrique Pereira dos Santos, de 18 anos, que morreu em março de 2022, após um treinamento no quartel do 1º PE, depois de passar mal durante os exercícios físicos.
O deputado federal Tarcísio Motta (Psol) fez um discurso, nesta terça-feira (21), na Câmara dos Deputados, a favor da atribuição das Forças Armadas ao tipo de treinamento abusivo que levou Gabriel à morte. "Treinamento não é tortura", defendeu o parlamentar em sua fala. Ele também pede pelo fim do alistamento obrigatório.
Em nota, o Comando Militar do Leste (CML) informou que "em 3 de março de 2023, no quartel do 1º Batalhão de Polícia do Exército (BPE), o soldado Gabriel Henrique dos Santos Lima, ao sentir-se mal durante instrução teórica, sem exigência de esforço físico intenso, foi prontamente atendido pela equipe médica do batalhão e evacuado, em seguida, para o Hospital Central do Exército (HCE), maior e mais especializado hospital militar da guarnição do Rio de Janeiro, onde veio a falecer.
Após a constatação do óbito, por solicitação da família, a autópsia deixou de ser realizada no HCE, sendo o corpo encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML), acompanhado por militares do 1º BPE e do Arquivo Histórico do Exército (AHEx), de modo a prestar o apoio adequado aos familiares.
Conforme previsto na legislação do Exército, todas as despesas previstas para a realização do velório/enterro foram custeadas pela instituição. Exceção feita ao jazigo permanente adquirido pela família, no momento do sepultamento, por decisão da mesma. Não foi solicitado à família o pagamento de qualquer valor para o custeio das despesas funerárias.
Durante o velório/enterro, o soldado Gabriel Henrique recebeu todas as honras militares previstas no cerimonial militar, contando com a presença de aproximadamente 200 militares do Exército.

Foi designado um oficial superior para realizar o contato com o irmão e o pai do soldado Gabriel Henrique, além do advogado indicado pela família, de modo a orientar os parentes acerca das medidas administrativas necessárias para o recebimento do seguro de vida a que fazem jus.
Desde o momento do ocorrido, bem como durante todo o tempo do velório e sepultamento, estiveram presentes nos locais uma equipe médica, um psicólogo, um capelão militar e uma assistente social. Tal apoio permanece à disposição dos familiares, podendo ser solicitado a qualquer momento junto ao oficial superior designado para contato com os parentes.
O celular do soldado Gabriel Henrique foi encaminhado à perícia pelo encarregado do Inquérito Policial Militar (IPM), conforme os dispositivos legais vigentes, e estará à disposição da família assim que forem encerrados os trabalhos de investigação.
Em relação ao IPM, o 1º BPE, Organização Militar responsável, está à disposição para prestar os esclarecimentos aos familiares e advogado.
Por fim, reforçamos que os valores do Exército Brasileiro estão fundamentados no respeito ao próximo, na prática consciente dos deveres e da ética militar, repudiando veementemente qualquer tipo de constrangimento físico ou moral".
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