Parentes e amigos realizaram um protesto na região do ocorrido contra a prisão do jovemReprodução/TV Globo
Publicado 24/03/2023 15:48
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Rio - O adolescente de 16 anos baleado na mão direita e apreendido na terça-feira passada (21) durante uma ação da Polícia Militar no Morro do Fubá, no Campinho, foi solto em audiência de custódia na tarde de quinta-feira (23). Ele responderá em liberdade por fato análogo ao tráfico e associação ao tráfico. Moradores e familiares realizaram protestos pedindo justiça ao adolescente. A Secretaria estadual de Educação do Rio confirmou que o estudante é aluno da rede e informa que ele já retornou às aulas nesta sexta-feira (24).
Segundo o cunhado do adolescente, o rapaz, que terá a identidade preservada, mora em Cascadura. Ele voltava do colégio estadual no Méier para a casa da namorada, no morro, quando começaram disparos. A Polícia Militar realizava uma ação para enfrentar a nova facção criminosa que disputa o domínio do território. O adolescente foi atingido por disparos na mão e sangrou. "Ele foi para a casa da sogra e deixou um rastro de sangue", diz Jean Roger, amigo e cunhado do jovem.
A polícia encontraria drogas, uma pistola e um radinho a quem atribuiu ao adolescente. A família nega e afirma que o jovem era estudante e atleta. Os policiais, conforme relato de familiares, detiveram o rapaz na casa da sogra. Naquele momento, a tia da namorada, de 53 anos, estava no local e tentou proteger o adolescente. A mulher foi agredida verbalmente e fisicamente com uma coronhada na cabeça que provocou um galo, conforme o relato.
"Na abordagem dos policiais dentro da casa da sogra dele, os policiais foram super grosseiros a todo tempo alegando que o jovem era criminoso e que os itens que acharam eram dele. Essa minha tia foi defender ele. Estava com medo que atirassem nele e foi agredida com uma coronhada na testa e com palavreados", conta.
Para Jean, o cunhado não foi preso por racismo, mas por ser jovem e estar na favela no momento da ação, que coincidiu com a hora de retorno do colégio.
"Não vou dizer que é racismo porque creio que não foi questão de raça. Foi por ser um jovem de comunidade em horário de pico. Acho que foi porque a polícia não tinha ninguém pra levar e levaram a pessoa mais fraca no momento", considera.
O adolescente vai passar por uma nova audiência de custódia. Descrito como caseiro e sociável, o amigo conta que o rapaz está abalado por conta da apreensão. "Está muito abalado. Foram super brutos ao colocá-lo dentro do caveirão. A todo momento diziam que ele era criminoso", afirma.
Após apreenderem o adolescente, o levaram para o Hospital Carlos Chagas por conta do ferimento na mão. A mulher de 53 anos, que afirmou ter sido ferida na testa, também foi atendida no hospital por ser hipertensa e ter ficado com a pressão alta no episódio. A família afirma que foi à 29ª DP (Madureira) realizar um registro de ocorrência contra a agressão apresentando um laudo médico, mas que o policial não teria realizado o registro alegando que seria necessário um Boletim de Atendimento Médico (Bam).
A reportagem pediu uma nota de esclarecimento à Polícia Civil sobre o protocolo para este tipo de registro em delegacia, mas não obteve retorno a até a publicação deste texto.
A Polícia Civil informou que o caso foi registrado na 29ª DP (Madureira). "O menor foi encaminhado à delegacia pela Polícia Militar e autuado em flagrante por fato análogo ao tráfico e associação ao tráfico de drogas".
A Polícia Militar afirmou que de acordo com os policiais que conduziram a ocorrência, uma equipe do 9º BPM (Rocha Miranda) realizava policiamento pela Comunidade do Fubá, em Campinho, quando criminosos armados atiraram contra a guarnição. Após confronto, os policiais estabilizaram a área e avistaram um homem correndo para uma residência. Tratava-se de um adolescente ferido na mão, que foi detido e socorrido ao Hospital Estadual Carlos Chagas, em Marechal Hermes. A PM afirmou que no local, foram apreendidos 145 pinos de cocaína, sem especificar o tal local.
"Em continuidade à varredura, os policiais apreenderam uma pistola calibre 9mm. Posteriormente, o batalhão foi informado que um segundo homem deu entrada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Irajá. O ferido foi transferido ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, onde permaneceu custodiado. As ocorrências foram registradas na 29ª DP e na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), onde o adolescente permaneceu acautelado", afirma a PM em nota.
A Polícia Militar ressalta que não compactua com desvios de conduta praticados por seus integrantes e que a Ouvidoria está à disposição pelo telefone (21) 2334-6045 ou e-mail ouvidoria_controladoria@pmerj.rj.gov.br, assim como a Corregedoria pode ser contactada pelo telefone (21) 2725-9098 ou pelo site https://www.cintpm.rj.gov.br/. O anonimato é garantido.
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