Publicado 26/03/2023 09:00 | Atualizado 26/03/2023 11:34
Logo no primeiro dia do outono, na terça-feira, um ritual se repetiu na minha casa. Quando cheguei à cozinha para preparar o meu café da manhã, ouvi o miado do gato adotado pelo Bryan, o nosso pastor canadense que nos deixou no inverno do ano passado. Todos os dias, o gatinho nos chama na área de casa, à espera de abrirmos a porta. E, assim, ele nos lembra que um dia o quintal teve a alegria do Bryan, mas agora é a lembrança dele que corre solta dentro de nós.
Dei o tradicional 'bom dia' ao felino e fui preparar o café da manhã, na tentativa de retomar a rotina passada pela nutricionista, mas sem muita cobrança. Afinal, aprendi em outras estações que às vezes nos falta disciplina, mas há uma época para tudo, até para retomá-la.
Tomei banho, coloquei a roupa de ginástica e, já pronta para ir ao pilates, eu me lembrei de ir até a janela do quarto, onde as suculentas me avisavam que já era hora da sua rega periódica. A vida é assim: sazonal, como os cuidados que as plantinhas nos pedem de tempos em tempos, e ao mesmo tempo perene, como os sentimentos que se mantêm ao longo dos anos. A saudade é um deles.
Entre dias solares e outros nublados, acumulei histórias ao longo da trajetória. Ao notar que os meus sobrinhos já dão adeus ao famoso 'nevou', que virou moda nos cabelos no verão 2023, lembro que também já aderi a várias tendências, principalmente de vestuário. Hoje acho graça da maioria delas. Provavelmente, daqui a alguns anos, estarei rindo dos meus trajes atuais.
Assim, de roupas a sentimentos, guardo lições dos diferentes períodos dos meus 45 anos. Aliás, nesses últimos meses de sensação térmica nas alturas, percebi a insistência dos primeiros fios brancos nos meus cabelos escuros. Confesso que tive o ímpeto de arrancar os pioneiros, mas eu me dei conta de que logo eles serão muitos. Aprendi também, após certa resistência, que ciclos permeiam a nossa trajetória.
Sobre os verões da minha vida, já vivi momentos de paz e outros nem tanto com eles, cismada com "imperfeições" que teimava em apontar no meu corpo. Hoje, finalmente, curto as horas à beira do mar sem vergonha de quem sou. Afinal, também aprendi que a gente precisa ser solar para aproveitar o tempo lá fora, em qualquer época do ano. E esse também é um entendimento que só conquistei depois de um vaivém de estações dentro de mim.
Leia mais
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.