Alunos da E.M. Paulo Maranhão, em Realengo, em visita à parte poluída do PiraquaraDivulgação
Publicado 03/04/2023 06:00
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Rio - Desde o fim do ano passado, a coordenadora pedagógica da Escola Municipal Paulo Maranhão, em Realengo, vai à porta da unidade colher assinaturas de alunos e responsáveis para um abaixo-assinado. O objetivo de Laudicéria Reis é conseguir que sejam instaladas caçambas de lixo próximas à parte poluída do Rio Piraquara e que a placa em que se lê: 'Lixo nos rios causa enchentes e doenças', que está pichada, seja trocada por outra nova. A ação é um dos reflexos da participação da escola no programa 'Esse rio é meu', que trabalha a conservação dos cursos d'água próximos às unidades municipais de uma forma integrada ao currículo escolar. Neste ano letivo de 2023, serão 68 rios contemplados e 773 escolas participantes: 646 a mais que no ano passado.
"É um trabalho interdisciplinar, que não necessita de horas extras, e coloca os alunos como protagonistas de um processo de transformação de consciência que resulta em ações práticas. Percebemos que essa integração da causa dos rios ao currículo ainda contribui para desatar alguns nós de aprendizagem que havíamos mapeado em uma pesquisa com quatro mil professores. Os alunos passam a ver, na prática, a importância daquilo que está sendo ensinado em sala de aula", diz Silvana Gontijo, presidente da Oscip Planetapontocom, criadora do projeto.

Na escola de Realengo, o engajamento de alunos e profissionais envolveu a comunidade. Pais e alunos foram juntos conhecer a nascente do Rio Piraquara, no Parque Estadual da Pedra Branca, onde as águas jorram ainda limpas. Depois, visitaram os pontos em que o curso d'água é poluído. Em 2020, o rio transbordou num grande enchente que invadiu casas, arrastou carros e destruiu o pavimento das ruas.

"Todos puderam ver in loco o processo de destruição do rio. E isso muito por conta da ação das pessoas de jogar lixo em seu curso. Os alunos plantaram árvores perto da nascente, e foi uma oportunidade de falarmos também, na prática, como funciona o processo de fotossíntese", diz a professora Jocileia Macêdo.

A mobilização no bairro ainda resultou em uma passeata em que alunos carregaram cartazes e distribuíram panfletos de conscientização. Um dos participantes foi Guilherme de Almeida, de 8 anos, que, junto com os colegas, entrevistou moradores do bairro sobre a história do rio.

"A pessoa que eu entrevistei contou que antigamente brincavam no rio, que tinha peixinhos. Eu fico muito triste quando vejo o rio sujo. Aprendi que não devemos jogar lixo nele, nem móveis ou animais mortos", diz Guilherme.

A entrevista dos moradores é uma das ações que podem ser aplicadas na fase inicial do projeto, em que os alunos vão até o rio, fazem o diagnóstico do problema e pesquisam sobre sua história. Na Escola Municipal Antônio Pereira, em Tomás Coelho, o processo resultou em uma peça teatral, que foi apresentada à comunidade em várias sessões no fim do ano. A unidade voltou ações para o Rio Timbó.

"Na encenação, mostramos toda a história do rio, desde quando escravos alforriados pescavam nele até o momento em que surgiram construções irregulares e passou-se a despejar lixo em seu curso, culminando em uma grande enchente nos anos 1970, uma tragédia que marcou a região. Colocar as coisas dessa forma por meio do teatro foi impactante e gerou muitas reflexões entre pais e alunos", diz a professora Karina Vargas.

Projeto piloto no Rio Carioca

Presidente da Oscip Planetapontocom, Silvana Gontijo explica que a metodologia para integrar a preservação dos rios às disciplinas do currículo escolar foi desenvolvida entre 2014 e 2020, durante o projeto-piloto que envolveu 27 escolas situadas na bacia do rio Carioca. O material fica disponível aos professores na plataforma esserioemeu.org, onde há um mapa em que é possível clicar em cada escola e ver informações do rio que está perto.

No Carioca, Silvana conta que em um ano e seis meses foi possível recuperar trechos do rio, como a queda d'água situada no Silvestre, entre Santa Teresa e Cosme e Velho, e acabou virando um ponto de lazer e convivência entre moradores de uma comunidade da região.

"Também conseguimos o tombamento do Carioca pelo Inepac (Instituto Estadual do Patrimônio Cultural). Foi a primeira vez que um rio urbano teve este reconhecimento", acrescenta.
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