Publicado 10/04/2023 08:00
Rio - Mais de dois anos depois do início da pandemia, infectologistas e pesquisadores avançam sobre o entendimento da chamada síndrome da covid longa, quando os sintomas da infecção demoram a desaparecer. Eles são diversos, e envolvem problemas respiratórios, neurológicos, psicológicos e até mesmo sexuais. Em alguns casos, podem durar até mais de um ano. No entanto, a vacinação também previne contra essa fase da doença, como explica o infectologista e pesquisador do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI-Fiocruz), André Japiassú. Nesta entrevista ai DIA, ele conta o que se sabe até o momento sobre a síndrome, de acordo com pesquisas recentes e sua experiência diária de consultório.
O DIA - O que caracteriza a chamada síndrome da covid longa?
André Japiassú - Podemos caracterizar como covid longa quando verificamos que os sintomas persistem por mais de oito semanas após terem sido detectados pela primeira vez. Ele permanecem por um período entre três e seis meses e a maioria dos pacientes melhoram, mas há relatos em que os sintomas perduram por mais de um ano.
Quais são os principais sintomas da covid longa?
Entre 30% e 40% dos casos, o sintoma mais comum é o da fadiga crônica. A pessoa se sente pouco estimulada a fazer as tarefas que realizava normalmente no dia a dia. E, ao fazê-las, se sente muito cansada, pode ficar irritada mais facilmente ou sonolenta. Outros casos que os pacientes mais manifestam são problemas neurológicos ou psicológicos; esses tendem a durar mais. A covid ataca vários tecidos, inclusive os do cérebro, por isso os problemas como esquecimento e dificuldade de raciocínio. É como se o pensamento ficasse 'nublado'. Já os psicológicos envolvem casos de depressão e transtorno de ansiedade. Mas ainda não sabemos até que ponto isso está relacionado ao vírus ou aos efeitos da pandemia, como o isolamento social ou uma internação.
Há outros sintomas?
Sim. Eles são muito diversos. A perda do olfato também pode se prolongar e caracterizar a covid longa, assim como falta de ar, asma, falta de apetite, distúrbios hormonais e até mesmo sexuais. Tenho ouvido relatos de homens que se queixam de disfunção erétil e mulheres com alteração no ciclo menstrual. Comum aos dois, a perda de libido é também um sintoma da covid longa.
Quais os fatores de risco que contribuem para que a pessoa desenvolva a covid longa?
Aquelas que tiveram infecção grave e precisaram de internação estão três vezes mais propensas a desenvolver um quadro de covid longa. Outros fatores de risco são outras doenças crônicas, como câncer ou insuficiência cardíaca. Sedentarismo e descontrole do peso também influem. Em relação à idade, percebemos que ela acomete mais os idosos, após 65, 70 anos, mas há estudos que mostram casos em crianças.
A vacinação também previne contra a covid longa?
Sim. As pessoas plenamente vacinadas, ou seja, que tomaram todas as doses preconizadas pelo Ministério da Saúde, ou as que têm duas doses e, pelo menos, uma de reforço têm menores chances de desenvolver a covid longa. A vacina previne contra a forma grave da doença e ainda evita o prolongamento dos sintomas. Também estamos constatando que aqueles pacientes que não tomaram nenhuma dose têm a mesma chance de desenvolver a pneumonia grave da covid como verificamos lá atrás, no início da pandemia, naqueles casos agudos de falta de ar.
O que mais está se comprovando em relação à vacina?
A proteção nos idosos, de fato, dura menos tempo, a resposta imune reduz mais rapidamente. Temos verificado um número muito menor de casos de internação por covid. E aqueles que estão internando são, em grande maioria, idosos, mesmo vacinados. Daí a importância dessa nova campanha de vacinação com a dose bivalente. Dá para fazermos um paralelo com a gripe. A partir do início da campanha de vacinação, em meados dos anos 1990, conseguimos reduzir bastante os casos de pneumonia gripal, especialmente internação. Todo ano temos a campanha, com as doses sendo atualizadas. Os casos continuam acontecendo, mas a gripe vem mais leve. Acho que estamos caminhando para a mesma tendência em relação à covid.
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