Publicado 19/04/2023 21:20 | Atualizado 19/04/2023 22:44
Rio - A defesa de Gleice Kelly, de 24 anos, que teve a mão e o punho esquerdos amputados após ir ao Hospital da Mulher Intermédica de Jacarepaguá, na Zona Oeste, dar à luz, afirma que a unidade de saúde omitiu informações importantes à Polícia Civil. De acordo com o exame do corpo de delito do Instituto Médico Legal (IML), ao qual o DIA teve acesso, não foi encontrado pelo perito registro de qualquer procedimento no membro superior esquerdo, como punção venosa profunda. Também não foi descrito no prontuário nenhuma anormalidade, sinais ou sintomas do membro na madrugada do dia 11 de outubro.
No entanto, Gleice afirma que ter provas de que o membro foi submetido a um acesso venoso às 4h38 do dia 11 de outubro, horas antes de ser transferida para a unidade em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. A paciente fez fotos do acesso venoso na mão esquerda.
Veja as imagens:
O perito também apontou no laudo que houve demora no procedimento de emergência, tendo a urgência, então, da amputação do membro. "O longo tempo de evolução da isquemia [presença de um fluxo de sangue e oxigênio inadequado no membro, neste caso, na mão esquerda da paciente] até a realização do procedimento de emergência, cerca de 20 horas, impede que o quadro seja revertido. Nada mais podendo ser feito, a amputação é a única opção", escreveu o profissional.
O perito concluiu no laudo que a hemorragia uterina pós-parto e a isquemia do membro superior esquerdo causaram a necessidade da amputação da mão e punho da paciente.
Gleice Kelly disse que recebeu o resultado do laudo com indignação e que a omissão do hospital em fornecer todas as provas e documentos só aumentam sua revolta. "Se houve erro ou não, eles têm que falar. Espero que esse laudo ajude a acelerar esse caso. Já vai fazer seis meses desde que amputaram minha mão e até agora eu não sei o que aconteceu naquela sala de parto. Não sei se foi erro ou fatalidade, mas eu quero que sejam justos, chega de omissão! Agora é a hora da verdade", pediu a vítima.
A paciente contou ainda do sofrimento que passou assim que voltou para casa. "Eles tiraram tudo que eles puderam de mim, me tiraram a chance de amamentar meu filho e cuidar integralmente de um bebê recém-nascido. Eu não conseguia pegar meu filho nos braços porque tinha medo. Não estou falando que não vou me adaptar, mas no começo tudo é mais difícil", desabafou.
A advogada de Gleice Kelly, Monalisa Gagno, criticou a demora no andamento do processo na Polícia Civil e a falta de resposta do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj). "Já se passaram quatro meses e não temos resposta do Cremerj e o inquérito ainda não foi concluído pela Polícia Civil. Recentemente conseguimos uma liminar na Justiça para que o hospital custeasse o tratamento da Gleice em um outro hospital, já que ela não tem condições psicológicas de frequentar a unidade deles. O pedido foi aceito inicialmente, mas o hospital recorreu da decisão. Agora estamos aguardando".
Procurada, a 41ª DP (Tanque) informou que o laudo está sendo analisado e que outras diligências estão em andamento para esclarecer os fatos. O caso foi registrado como lesão corporal culposa.
Já o Cremerj abriu no dia 16 de janeiro uma sindicância de ofício para apurar o caso e, após a conclusão da sindicância, um processo ético-profissional (PEP) poderá ser instaurado para julgar o ocorrido. O processo segue em andamento no conselho.
Por meio de nota, o Hospital da Mulher Intermédica de Jacarepaguá se manifestou sobre o assunto.
"O processo judicial está em segredo de Justiça. Desta forma, o hospital não pode se manifestar. A unidade reforça que está totalmente empenhada no esclarecimento dos fatos e à disposição da paciente e de sua família", informa a nota.
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