Gabriela Vitória da Silva, de 7 anos, sofreu ofensa racial na escola Municipal Antônio AustregésiloArquivo Pessoal
Publicado 02/05/2023 13:25 | Atualizado 02/05/2023 23:05
Publicidade
Rio - A mãe da menina Gabriela Vitória da Silva, de 7 anos, vítima de ofensa racial por parte de um colega de classe na Escola Municipal Antônio Austregésilo, em Bangu, na Zona Oeste, retornou à unidade com a filha, nesta terça-feira (2), para um encontro com o secretário de Educação Renan Ferreirinha. O caso foi registrado na 35ª DP (Campo Grande) no domingo passado (30).
Ferreirinha conversou com o corpo técnico da escola, além de prestar pessoalmente solidariedade à Gabriela e a sua família. O secretário deixou claro que casos de ofensa racial, assim como qualquer tipo de preconceito ou violência, não cabem principalmente no ambiente escolar, onde deve prevalecer convivência harmônica, afeto, empatia e tratamento igualitário. Ele reafirmou que Gabriela é bem-vinda na rede municipal de ensino.
O secretário esteve na unidade de ensino acompanhado da gerente da GERER, a Gerência de Relações Étnico-Raciais da Secretaria Municipal de Educação (SME), Luiza Mandela, do professor e escritor Ricardo Jaheem, que deu uma aula sobre tolerância no ambiente escolar para crianças, e do subprefeito da Grande Bangu, Robson Gomes Santos, o Robson Chocolate.
Segundo Gláucia da Silva, de 40 anos, a filha foi chamada de 'macaca preta' por um coleguinha da escola e, ao intervir, a professora justificou que o menino tinha o tom de pele só um pouco mais claro que o de Gabriela e por isso não deveria ter usado termos racistas. "Minha filha foi para o banheiro e chorou sozinha. Se o garotinho fosse branco, ele poderia chamar ela assim?", questionou.

A mãe da Gabriela disse ao DIA que avalia a necessidade da menina trocar de colégio, porque ainda está muito abalada com tudo que aconteceu. Em nota, a Secretaria Municipal de Educação informou que a rede de ensino está de portas abertas para a aluna e que a decisão sobre a mudança cabe à família.
"Ela não quer ir pra escola mais. Eu me senti muito doída, porque uma criança de 7 anos ser chamada de macaca preta e ir pro banheiro chorar sozinha me dói muito. Ela não teve ninguém para socorrê-la, a palavra da professora foi totalmente equivocada. Agora, eu estou tendo uma rede de apoio do município, que fez um muro e colocaram minha filha dentro, protegendo ela", afirmou.

Gláucia explicou ainda que só soube do incidente dias depois pela filha e que não foi procurada pela educadora. "Eu me senti muito impotente nessa situação, eu só soube do caso no dia 18 de abril, mas isso aconteceu antes. A professora achou que podia combater o racismo entre quatro paredes, mas não pode. Se ela tivesse chamado a mim ou o pai da outra criança, com certeza eu não estaria nessa situação. Eu fiz a queixa contra ele no domingo, eu só descobri quando minha filha perguntou o que era ata e eu expliquei, e ela disse que o amiguinho tinha xingando ela", disse.

A mãe relatou também que, ao questionar a docente sobre o caso, recebeu um áudio de 7 minutos e uma mensagem, que ela compartilhou com a reportagem de O DIA.
Confira:

"Imagino a sua dor, inclusive semana passada falei superficialmente sobre a história do Brasil e que nós não somos um povo puro, mas de sangue misturado. Pois uns são de pele mais escura, outros são com a cor mais clara. Eu chamei a atenção dele!!! Eu falei com ele: 'por que estava fazendo isso?' Que cor ele tem? Pra ficar chamando Gabriela de macaco ou preta? Eu falei: Você sabe que cor você tem?' Ele me respondeu: 'Sei que sou preto'. Eu falei: 'Você só é um pouco mais claro que Gabriela. Por que faz isso?'"

Após a repercussão do caso, Gláucia reforçou que foi ouvida, e que a situação "não é mimimi". Ela considera a atitude da professa equivocada e reforçou que o menino que xingou sua filha é apenas uma criança.

"Antigamente, a gente não tinha voz. Agora temos. Eu fui tocada, fui ouvida e me sinto mais um pouco aliviada. Eu fiz uma queixa crime contra a professora da 35ª DP. Vou tirar minha filha dessa escola, porque não dá pra ela ficar mais. Primeiro eu me senti impotente e depois impulsionada a lutar e pedir pela minha filha e também por esse garotinho, porque ele é só uma criança da mesma idade dela. Pior foi a palavra da professora", finalizou.

O caso foi encaminhado para a delegacia da área, a 34ª DP (Bangu), onde está sendo investigado.
O que diz a Secretaria Municipal de Educação
A SME informou que uma sindicância foi instaurada para apurar os fatos e que não compactua com atitudes racistas na comunidade escolar, nem com qualquer preconceito ou violência. Uma sindicância foi instaurada para apurar os fatos e terá um prazo para chegar às conclusões. A GERER também está acompanhando os fatos.
Publicidade
Leia mais