Publicado 14/05/2023 09:00 | Atualizado 14/05/2023 09:11
"Minha mãe adorava a Palmirinha": foi a reação imediata da minha irmã ao saber da partida da 'vovó mais querida do Brasil', no domingo passado. Era mesmo assim: a nossa mãe gostava de assistir aos programas de culinária na televisão, como o da Rita Lobo, ou de ir a um restaurante e ficar matutando sobre a receita de algum prato para tentar fazê-lo em casa depois.
Outro dia, aliás, minha mente destravou outra lembrança incrível da minha mãe, de quando íamos a uma costureira, aqui mesmo em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Havia por lá várias revistas de moda, que as clientes folheavam para tirar o modelo de uma peça nova. Todo esse ritual, incluindo o dia da prova, era bem gostoso. Para a minha formatura do antigo Segundo Grau, encomendei a essa costureira um macacão preto, que tinha um delicado detalhe em dourado no decote em V. Não consigo encontrar nenhum registro fotográfico da cerimônia, mas sei que a minha mãe estava orgulhosa de mim naquele momento, como já ficou em outras ocasiões com os feitos dos meus irmãos.
Falando deles, aliás, minha mãe sempre nos dizia que nós seríamos os nossos melhores amigos para sempre. Filha única, ela quis ter uma família grande. E conseguiu. Assim, num dia desses, quando eu e minha irmã saímos juntas, eu me lembrei dessa missão: jamais nos desgrudarmos.
Quando paramos numa cafeteria para tomar um cafezinho, escolhi o que a minha mãe chamaria de 'bolo de bolo', bem caseiro. Comer essa iguaria ainda quentinha num lanche da tarde era um de seus programas preferidos. Assim como curtir a casa de praia — inclusive, também nos lembramos da minha mãe numa conversa antes do último Réveillon à beira do mar, em Rio das Ostras. Na verdade, a gente nunca se esquece dela — mãe para a gente, Luizinha para família ou a professora Maria Luiza para tantos alunos. E acredito que essa permanência eterna se repita em muitos corações de outras famílias por aí.
Assim, mesmo não tendo mais a sua presença física, a lembrança da minha mãe é bem viva e constante. Quando perco algo pelo quarto, por exemplo, recorro a São Longuinho e ao que ela me falava: "Não tem perna, vai ter que aparecer". Se durmo na casa de uma amiga, sua lição também está lá: "A primeira coisa que a gente faz quando se levanta é arrumar a cama".
Curiosamente, no dia do cafezinho com bolo, eu e minha irmã fomos a uma dermatologista que a minha mãe costumava frequentar. Chegando ao consultório, o abraço afetuoso da médica simbolizou toda essa ligação entre nós. E quando ela nos deu pequenas embalagens com sabonetes líquidos para o rosto, eu não resisti: "A minha mãe adorava essas amostras grátis!" A dermatologista, então, abriu um sorriso e disse: "Ah, que saudades que eu sinto dela..." Sorri também e senti que são nesses momentos que a gente se orgulha de quem nos criou.
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