Publicado 21/05/2023 07:00 | Atualizado 21/05/2023 15:51
Rio - Era uma tradição no Rio. Se você quisesse encontrar qualquer ator depois de uma estreia teatral na cidade, não precisava procurar muito para descobrir onde o elenco do espetáculo estaria jantando e comemorando. Sim, bastava ir ao La Fiorentina, no Leme, onde se reuniam os maiores nomes dos palcos, da TV, da música e do jornalismo. Na próxima quinta-feira (25), no entanto, o icônico restaurante da Avenida Atlântica passará a funcionar na charmosa Rua Aníbal de Mendonça, 112, em Ipanema, após encerrar suas atividades no antigo endereço.
Fechado desde fevereiro por conta de imbróglios judiciais decorrentes de uma dívida de R$ 10 milhões do proprietário da marca, o empresário Omar "Catito" Peres, o restaurante espera dias melhores, após a chegada dos sócios Delorme Lima e Caio Burke. A próxima meta é abrir franquias em Portugal e na Espanha.
Patrimônio afetivo da memória dos cariocas, o La Fiorentina está se mudando com quase toda a "bagagem" que acumulou em mais de 60 anos de história. O acervo, formado por móveis, talheres, 250 fotografias raras de personalidades, troféus doados por artistas e outros itens, já foi transportado para Ipanema.
As famosas pilatras, porém, que guardavam autógrafos de ícones como Bibi Ferreira, Tônia Carrero, Marília Pêra, Fernanda Montenegro e outros grandes nomes das artes, não puderam ser "retiradas", já que o imóvel é tombado. A solução foi fotografar toda as assinaturas e "levá-las" em quadros. Muitos dos garçons da casa, com seus trajes sempre impecáveis, também serão realocados, assim com o maître.
Fechado desde fevereiro por conta de imbróglios judiciais decorrentes de uma dívida de R$ 10 milhões do proprietário da marca, o empresário Omar "Catito" Peres, o restaurante espera dias melhores, após a chegada dos sócios Delorme Lima e Caio Burke. A próxima meta é abrir franquias em Portugal e na Espanha.
Patrimônio afetivo da memória dos cariocas, o La Fiorentina está se mudando com quase toda a "bagagem" que acumulou em mais de 60 anos de história. O acervo, formado por móveis, talheres, 250 fotografias raras de personalidades, troféus doados por artistas e outros itens, já foi transportado para Ipanema.
As famosas pilatras, porém, que guardavam autógrafos de ícones como Bibi Ferreira, Tônia Carrero, Marília Pêra, Fernanda Montenegro e outros grandes nomes das artes, não puderam ser "retiradas", já que o imóvel é tombado. A solução foi fotografar toda as assinaturas e "levá-las" em quadros. Muitos dos garçons da casa, com seus trajes sempre impecáveis, também serão realocados, assim com o maître.
'Vamos nos adaptar', diz autor Flavio Marinho
Apesar da mudança de endereço, a continuação do restaurante é motivo de comemoração entre a classe artística. Para o autor, diretor e crítico teatral Flavio Marinho, é importante que a cidade não perca uma de suas grandes "referências".
"Entre o sumiço total e a mudança para Ipanema, é obvio que a mudança é super bem-vinda. Naturalmente, não será a mesma coisa. Será outra. O charme será diferente. Os tempos mudam, tudo muda. Vamos nos adaptar. O importante é que voltaremos a ter um espaço para nos reunir, discutir, falar sobre projetos. Afinal, Ipanema pode não ser o Leme, mas foi o que surgiu para abrigar uma referência artística e turística carioca", destaca Flávio, que, além de cliente assíduo, lançou diversos livros no antigo espaço.
Estrela do elenco da novela "Escrava Isaura", de 1976, e dono de premiada carreira no teatro, o ator paulista Edwin Luisi conta que quando chegou ao Rio, há 46 anos, não tinha tempo para fazer amizades, até que passou a frequentar o local. Ele também não esconde a tristeza com o fechamento no Leme, mas diz que torce para que o novo endereço tenha seu "charme".
"Vamos sentir muitas saudades, mas faremos o possível para erguer o nome em Ipanema também. "Fiora sempre apoiou o teatro, então quando abrir em Ipanema nós, da classe artística, faremos o possível para frequentar e voltar com o charme", afirma.
Edwin recorda, ainda, em especial, de um evento beneficente promovido para arrecadar dinheiro para o Retiro dos Artistas. Na ocasião, ele, Ney Latorraca, Lucélia Santos, Alcione Mazzeo e outros nomes se vestiram de garçons e serviram as mesas.
Para Eduardo Barata, produtor cultural e presidente da Associação de Produtores de Teatro (APTR), a notícia da volta deve ser muito comemorada.
"Desde que fechou, a classe teatral carioca ficou órfã de um ponto de encontro. O La Fiorentina não era só um restaurante, era um espaço onde nos encontrávamos. Depois de espetáculos, tínhamos certeza de que encontraríamos alguém ali, tinha uma troca forte de vivência sobre arte. Era um espaço de visibilidade, muito frequentado por quem não era da classe artística para estar em contato com os artistas e aquela atmosfera, e acabava sabendo dos espetáculos em cartaz", destaca.
Barata acredita a "nova" casa poderá continuar sendo um reduto de artistas e intelectuais. "O ritual do jantar faz parte da celebração teatral. O Fiorentina era o espaço deste ritual. Não importa em que bairro esteja, se esta energia permanecer e se mantiverem o olhar para a conversação e para o culto dos nossos entes que se foram, a classe teatral frequentará. O que importa é o encontro, respeito e tradição", pondera.
O produtor teatral João Luiz Azevedo engrossa o coro: "Lá, comemorei vários aniversários meus e de amigos queridos da classe, além de lançamentos de livros. Caio Bucker chegou ao local com novo gás, para levar a galera mais jovem para o local. Modificou o cardápio, trocando nomes de Tônia Carrero e Paulo Autran por Paulo Gustavo ou Claudio Botelho, ou até mesmo João Fonseca. Conseguiu atrair os mais jovens da classe artística. Tirou o 'ranço de local dos antigos' do restaurante. Fico feliz com a notícia da reabertura em Ipanema", revela.
Histórico de recomeços
Este não é o primeiro fechamento do restaurante, e sim o quarto. O primeiro durou dez anos, de 1990 a 2000, quando houve um incêndio. O restaurante retornou às atividades após ser comprado por "Catito", enteado do fundador e então dono do La Fiorentina, Sylvio Hoffman, jogador de futebol que defendeu a Seleção na Copa de 1934.
A segunda interrupção durou cinco meses, em 2020, e a terceira, em 2021, por quatro meses, ambas por conta de problemas financeiros gerados pela pandemia. Nesse período, o imóvel chegou a ir a leilão, em 2021, mas não houve interessados. A assessoria de Catito garante que todas as dívidas foram quitadas.
Entre os clientes mais famosos que já sentaram nas cadeiras do Leme, estão Simone de Beauvoir (1908-1986) e Jean Paul Sartre (1905-1980), quando os intelectuais franceses passaram dois meses no Brasil a convite do escritor Jorge Amado (1912-2001), em 1960. Pelé, que morreu em dezembro de 2022, também deixou seu autógrafo no local. Resta saber agora quem será o novo vizinho (sortudo) da estátua do compositor Ary Barroso, instalada na porta da antiga sede do restaurante.
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