Djavan tem mesmo o dom de escrever para universos tão únicos e, ao mesmo tempo, compartilhados por todos nós. Os direitos autorais são todos dele, mas os direitos sentimentais são nossosArte de Paulo Márcio sobre foto de Dantas Jr./Divulgação
Publicado 04/06/2023 09:00
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Você vai ao show do Djavan hoje, né? Quando tocar 'Samurai', lembre-se de mim', pediu o meu amigo Macarrão, no domingo passado, na nossa tradicional conversa matinal por telefone. Logo depois, ele começou a cantarolar alguns versos da música, contando com a minha ajuda no coro. Ele de um lado da linha; eu do outro: "Eu quis lutar/ Contra o poder do amor/ Caí nos pés do vencedor/ Para ser o serviçal/ De um samurai..." Logo me lembrei de um relato visto nos Stories do Instagram da atriz Sheron Menezzes, que havia conferido o espetáculo dois dias antes e não segurou as lágrimas em 'Pétala', canção que ela chama de sua e embala o laço com o filho de cinco anos desde a gestação.
Djavan tem mesmo o dom de escrever para universos tão únicos e, ao mesmo tempo, compartilhados por todos nós. Os direitos autorais são todos dele, mas os direitos sentimentais são nossos. Isso ficou ainda mais claro para mim durante o show de domingo, com pista e coro livres, numa casa de espetáculos na Barra da Tijuca. Sem mesas, era possível sentir ainda mais a amplitude dos sucessos através dos incontáveis celulares que gravavam trechos da apresentação ou emprestavam as suas luzes para enfeitar a linda música 'Iluminado': "Canta aí/ Pra tudo aqui seguir/ Iluminado..." Ou ainda através de tantas mãos, que eram jogadas para o alto ou ecoavam palmas no compasso das canções.
Da multidão para a particularidade, logo percebi a emoção da mulher ao meu lado ainda no início do show. Ela usava óculos e recorria às mãos na tentativa de enxugar as lágrimas que insistiam em cair. Nem as lentes de grau eram capazes de disfarçá-las. Como não dizer que algumas das músicas do Djavan são também dela? Estão autenticadas naquele coração e em vários outros presentes ali. Juntos, tendo em comum aquelas letras, cantamos muitas músicas, especialmente 'Flor de Lis': "Valei-me, Deus!/ É o fim do nosso amor..." Talvez a chance de cantarolar em coro o desencontro de um afeto nos dê a compreensão de que somos iguais e humanos.
A família, é claro, também tem vez na apropriação das canções. Tanto que Djavan incluiu 'Amor Puro' no setlist dos shows do Rio a pedido de uma de suas filhas. A música também é dela, claro. Assim como muitos versos são meus, seus, nossos... Ainda mais quando Djavan nos lembra da luta, em vão, contra o poder do amor. Aliás, para quê? O cantor mesmo responde. E eu logo concordo: "Mas eu tô tão feliz/ Dizem que o amor atrai..."
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