Matéria sobre meio ambiente. Locais- Parque Lage e lagoa Rodrigo de Freitas. Foto: Cléber Mendes/Agência O DiaCleber Mendes
Publicado 05/06/2023 15:40
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Rio - Celebrado nesta segunda-feira (5), o Dia Mundial do Meio Ambiente serve de alerta para um dos maiores desafios da humanidade: a preservação dos recursos naturais. Criada em 1974 pela Organização das Nações Unidas (ONU), a data, de acordo com especialistas, é marcada por muitas ações governamentais e da sociedade civil. No entanto, para que o futuro das próximas gerações não esteja ainda mais em risco, é preciso agir com mais efetividade.

Para o biólogo Mario Moscatelli, um dos mais importantes ambientalistas do Rio de Janeiro, a missão depende de esforços conjuntos.

"Temos como desafio resgatar os imensos passivos ambientais existentes, o que dependerá de investimentos e parcerias público-privadas bem como a articulação/participação da sociedade, além da proteção efetiva das unidades de conservação já existentes e das demais áreas protegidas legalmente. O tempo é nosso inimigo diante dos extremos climáticos que avançam de forma cada vez mais intensa e precisamos imediatamente ações concretas com investimentos que de fato façam a diferença", explica.
De acordo com Moscatelli, o comportamento da sociedade é um ponto crítico para a preservação, visto que muita grande trata os recursos naturais de forma predatória. "O tempo será nosso algoz, se não mudarmos a cultura e a pouca importância dada ao tema. Dia do ambiente é todo dia", afirma.
Pesquisador do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe) e professor do Instituto de Biologia da UFRJ, Rodrigo Leão ressalta que a degradação do meio ambiente impacta diretamente na saúde da população. 
"Na minha opinião, os principais desafios são àqueles que conectam as questões ambientais à saúde humana, bem como ao risco relacionado aos eventos climáticos extremos. Por exemplo, o grande déficit que temos no saneamento básico compromete não apenas a biodiversidade aquática, mas também a qualidade dos corpos d’água de onde coletamos a água para o abastecimento doméstico e onde se desenvolvem atividades de pesca e recreação. A situação lamentável da Baía de Guanabara ilustra muito bem o tamanho do desafio", analisa.

Segundo Leão, apesar da evolução nas políticas do setor, o sistema ainda é muito precário: "Os órgãos ambientais evoluíram muito nos últimos anos, mas ainda não têm o protagonismo necessário para enfrentar os desafios crescentes. Além disso, na minha opinião, o grande gargalo é a necessidade de incorporar os temas de forma transversal, em todo o serviço público e nas práticas das empresas. Os grandes temas ambientais têm que estar presentes em todas as frentes de atuação, desde o saneamento básico até a infraestrutura."

Na Lagoa Rodrigo de Freitas, habitat natural de diversas espécies, no coração da Zona Sul do Rio, o lixo jogado pela própria população prejudica o ecossistema. "Isso não depende do governo, depende de um mínimo de civilidade", afirma Moscatelli.

Para o ambientalista, no entanto, muito ainda precisa ser feito também por parte das autoridades. "Historicamente tivemos altos e baixos conforme quem está à frente da Secretaria de Ambiente. Atualmente estamos num período de bonança principalmente pela continuidade das políticas públicas iniciadas no governo estadual passado. Reitero que por conta desses altos e baixos, os períodos negativos, acabam comprometendo os avanços obtidos nos períodos de positivos. Portanto, temos enquanto sociedade de exigir políticas públicas de estado, onde independente de quem esteja à frente da Secretaria, não se percam os avanços conseguidos."

Moscatelli também destaca que a participação da sociedade é indispensável em ações pontuais de preservação: "Sem a participação ativa da sociedade, a conta não irá fechar. Atitudes simples como jogar lixo na lixeira já fariam um verdadeiro milagre em termos ambientais. Infelizmente pelos mais variados motivos, nosso estado se tornou um especialista em transformar nossos ecossistemas em lixões, tal como nos rios, baías e lagoas. Portanto, só vamos conseguir reverter essa conta estourada no ambiente com a ação de sociedade, poder público e iniciativa privada. Não existe mágica. Só trabalho, muito trabalho e o resultado aparece."
Os impactos na economia, como ressalta o professor Rodrigo Leão, representam outro aspecto importante, pois todas as principais consequências da falta de preservação são "pagas" com o direito dos impostos. 
"A sociedade ainda precisa compreender que o meio ambiente está diretamente conectado com a saúde e com a qualidade de vida. Não podemos mais negligenciar o fato de que boa parte das ocupações irregulares que colocam a vida das pessoas em risco deveriam ser áreas naturais protegidas. O mesmo se pode dizer com relação ao esgotamento sanitário. É inaceitável que os efluentes da metrópole sigam sendo lançados sem tratamento em riachos e lagoas, e acabem por alcançar a Baía da Guanabara e a zona costeira. Esses ambientes naturais são a alma. Não podem mais ser depósito dos nossos dejetos. Perdemos muito com essa situação. Do ponto de vista econômico, inclusive, é um contrassenso. Gastamos mais com remediação de tragédias e doenças do que com a sua prevenção", opina.
Numa cidade gigantesca como o Rio, a criação de unidades de conservação são importantes. Mario Moscatelli, porém, alerta para a gestão desses locais. 

"Criar unidades de conservação é fácil, agora colocar para funcionar, de fato, é um dos grandes problemas. Regularização fundiária, pessoal em quantidade e devidamente habilitado, insumos materiais e planos de gestão são algumas das etapas necessárias de serem implementadas para que a unidade de conservação criada saia do papel e seja de fato operacional. Já foi pior, mas ainda estamos distantes do que precisamos para de fato gerenciarmos nossas unidades de conservação", revela.

Há 34 anos, ele se dedica a cuidar do ecossistema do entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas: "Destaco que sempre dou o exemplo da Lagoa. Há quatro décadas eu ouvia que a Lagoa não tinha jeito. Eu não acreditei e durante os últimos 34 anos lutei pela naturalização de suas margens e da neutralização dos lançamentos de esgoto em suas águas e... o 'milagre' aconteceu! Não é milagre! É trabalho duro, permanente e articulado, articulando poder público, inciativa privada e sociedade, 'apenas' isso."
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