Publicado 10/06/2023 21:24 | Atualizado 11/06/2023 21:42
Rio - A reabertura da Igreja de Nossa Senhora dos Mercadores da Lapa, na Rua do Ouvidor, Centro do Rio, aconteceu na noite deste sábado (10) com uma missa ministrada pelo cardeal-arcebispo Dom Orani Tempesta. Diversos fiéis compareceram ao templo para celebrar a fé e a retomada do local, que ficou quatro anos fechado para reformas após ser interditado pela Defesa Civil.
A igreja, inaugurada em 1750, é uma das primeiras construções tombadas na cidade pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). O templo tem traços nos estilos rococó e barroco, o que o torna um verdadeiro marco histórico, cultural e devocional da fé católica.
Antes da cerimônia, o arcebispo do Rio agradeceu a intervenção de empresários na reforma do espaço, que segundo ele, faz parte da história da cidade e do país. "Essa igreja é um marco da história do Rio de Janeiro. Desde o século XVIII, tem aqui uma devoção dos mercadores. Durante alguns anos, ela esteve fechada devido a questões de problemas de segurança. A Arquidiocese, que não é dona da igreja, fez uma intervenção na Irmandade, que não tinha mais condições, e nomeou uma pessoa para ser comissário e motivou muitos empresários para tomarem conta e restaurarem a igreja. Agradecemos muito esse interesse dos empresários. Pode ser um sinal da história do Rio de Janeiro que é restaurada e nos impressiona toda importância que ela tem para nossa cidade e pro Brasil", explicou Dom Orani.
Para o prefeito Eduardo Paes (PSD), a reforma do espaço significa a retomada de um ponto importante para o Centro do Rio, o que contribui para a história do Brasil. "O Rio não é só o centro da nossa cidade e sim o centro histórico do Brasil. Onde essa nação foi construída. A partir desse centro aqui que a gente conta a história desse país. Toda vez que a gente vê uma joia como essa aqui, um espaço como esse recuperado, sem dúvida é um motivo de alegria e de celebração. Que a gente possa ter mais coisas assim no Centro do Rio de Janeiro", discursou.
Nomeado comissário administrativo da igreja pela Arquidiocese do Rio, Cláudio André de Castro falou sobre o trabalho de recuperação. O homem, que é diretor de uma corretora de imóveis, além de ser Cavaleiro da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém, explicou que o fechamento do templo prejudicava a história da cidade.
"A gente atua há muitos anos na revitalização do Centro do Rio de Janeiro. Além disso, eu sou católico, apostólico romano e cavalheiro da Ordem do Santo Sepulcro. Fui convidado pelo Dom Orani para reativar essa igreja que estava abandonada, precisando de muitos reparos e tinha fechado por uma interdição da Defesa Civil há quatro anos atrás. Olhando essa igreja como um farol de história, a gente via que a região perdia muito com ela fechada. Foi por essa razão que a gente aceitou esse encargo. Nos fins de semana que fazíamos as obras, limpezas e etc, a gente abria as portas. Teve um sábado que entrou 1400 pessoas aqui sem serem convidadas. Só por Deus", disse Castro.
A igreja havia sido interditada pela Defesa Civil depois que um pedaço da fachada despencou na calçada. Agora, ela receberá missas todos os sábados e domingos, às 12h. Nos dias de semana, as portas ficarão abertas para visitação, de 8h às 15h.
Fiéis celebram reabertura
A primeira missa na igreja após quatro anos fechada recebeu diversos fiéis. As cadeiras do espaço ficaram lotadas de pessoas que foram na Rua do Ouvidor para prestigiar a reforma e louvar a Deus. Para a advogada Carla Didiane, 43 anos, a reabertura contribui com a movimentação do turismo no Centro do Rio.
"Eu acho que é muito importante para a cidade a reabertura e volta da igreja porque isso é um patrimônio que já estava com problemas. Agora os católicos e as pessoas que transitam pelo Centro podem contribuir com a sua fé e ter um lugar para orar. Isso é importante não só para o Centro já que ajuda a movimentar e trazer os fiéis para cá em um lugar tão bonito com uma estrutura dessa. Acho que só traz um grande benefício para cidade, para toda população e para todos os fiéis. Hoje foi um dia muito especial. Eu pretendo voltar sempre", afirmou.
A administradora Dara Chapman, 57, também esteve neste sábado (10) no local junto com a filha de 12 anos. Segundo ela, os estrangeiros não possuem conhecimento que o Rio tem patrimônios como a igreja e o espaço precisa ser divulgado.
"Viemos hoje para dar apoio a todo trabalho feito e achei maravilhoso pois o Centro tem tanto para contribuir com o turismo do mundo inteiro. Precisa divulgar isso. As pessoas não sabem que o Rio tem belezas como essa igreja aqui. É maravilhoso o trabalho. Só posso parabenizar. Que eles continuem com outros lugares históricos", disse.
A cerimônia contou com com a presença da soprano Juliana Sucupira, responsável pelo grupo Astorga Coral e Orquestra, que cantou na reabertura. Ela agradeceu a oportunidade de voltar a trabalhar no templo e comemorou sua reforma.
A cerimônia contou com com a presença da soprano Juliana Sucupira, responsável pelo grupo Astorga Coral e Orquestra, que cantou na reabertura. Ela agradeceu a oportunidade de voltar a trabalhar no templo e comemorou sua reforma.
"Antes dela ser fechada, eu já tinha tocado aqui. Tinha casamentos, mas ela foi deteriorando e ficou fechada um tempo. É muito importante porque é uma joia da nossa cidade oficialmente reconhecida. As igrejas antigas tem uma arquitetura que favorece a música. É como se fosse um trabalho em conjunto entre a arquitetura e a música. As igrejas eram construídas antigamente pensando nisso. Para a gente, é uma emoção muito grande fazer parte desse momento histórico", contou.
Voluntários trabalharam nas obras
Para a retomada do espaço, foram feitas obras de recuperação da fachada, das instalações elétricas e hidráulicas, descupinização e retirada da vegetação que brotou em colunas e paredes. Todo o mobiliário e obras de arte remanescentes da igreja também passaram por uma revitalização.
O trabalho foi feito com a ajuda de voluntários, que também estiveram na cerimônia deste sábado (10). O advogado Danylo Rodrigues, 28, contou que o objetivo era devolver o espaço da melhor forma possível. Pensando em sua contribuição histórica, o homem se voluntariou para participar nas obras.
"Eu também ajudei dando apoio com um pessoal especializado. O nosso objetivo era devolver essa igreja, que remonta um período dos vice-reis, ao povo carioca. Essa é uma joia do Centro do Rio de Janeiro que deve ficar aberta para visitação pela sua importância cultural, histórica e turística da nossa cidade. É importante destacar que a reabertura dessa igreja também vem de encontro com o movimento de revitalização e reviver o centro da nossa cidade. Por isso, ficamos super satisfeitos de participar", explicou.
Já o professor Searon Cabral, 23, aproveitou o voluntariado para aprender mais sobre a história do Rio e do país. "Escolhi ser voluntário pela importância de devolver pro Centro do Rio essa parte histórica muito importante para a construção da nossa cidade. Também pela oportunidade de aprender coisas novas. Por exemplo, para tocar em algumas esculturas a gente tinha que ter cuidado. Foi um grande aprendizado para mim nesse sentido", disse.
Rica história
O nome original da igreja era Igreja de Nossa Senhora da Lapa. O local ganhou a adição ''dos Mercadores'' devido à presença de muitos comerciantes na região. A igreja desempenhou um papel importante na vida religiosa da comunidade local ao longo dos séculos. Ela foi local de celebração de missas, batismos, casamentos, além de abrigar festividades religiosas e devoções populares.
O templo guarda uma bala de canhão que atingiu a torre dela durante a Revolta da Armada, em 1893. Na ocasião, a imagem de Nossa Senhora da Fé caiu de uma altura de 25 metros, sem sofrer grandes danos, tendo quebrado apenas parte de dedos da mão.
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