Publicado 18/06/2023 00:00
Assim que o carro entrou na Rodovia Washington Luís, no início da tarde do último domingo, a placa de Duque de Caxias sinalizou o caminho na estrada e surgiu como um aconchego para mim. De volta de um fim de semana na Região Serrana do Rio, logo pensei: "Agora, eu estou em casa!" Era assim que a minha mãe costumava falar quando saíamos de Caxias e ela visualizava algum cenário familiar no trajeto de volta. Sempre que ela dizia isso, eu tinha a sensação de que, a partir dali, não era mais necessário recorrer a bússolas para nos guiar até o nosso lar. Afinal, a alma já sabia muito bem o percurso a seguir.
Aquela memória permaneceu comigo até em casa. Entrei pelo quintal e, já na área, lá estava o meu pai. Ele parecia esperar a minha chegada, embora eu não tivesse dito o horário exato em que voltaria na parte da tarde. Da mesma forma, a gatinha me recepcionou. Ela segue pelos arredores após ter sido adotada pelo Bryan, nosso pastor canadense que nos deixou no ano passado.
Nas boas-vindas, ela miou, fez as gracinhas típicas de quando me vê — rolando o corpo de um lado para outro —, e ainda piscou os olhos, num registro que consegui capturar com a câmera do celular. Aliás, já soube que esse é um sinal positivo na sua comunicação comigo. Sim, descobri que também é possível aprender com felinos que cada um tem o seu modo particular de demonstrar afeto.
De lá para cá, fiquei pensando em como é especial viajar, respirar novos ares, conhecer outros mundos... Isso dá nova energia à alma. Mas também é muito boa essa sensação de voltar ao lar e encontrar, por exemplo, uma carne assada deliciosa para o almoço de domingo. Há comidas que são temperadas com afeto e memórias. Essas jamais serão vendidas lá fora.
A sensação de estar em casa, no entanto, nem sempre depende de um espaço físico. Muitas vezes, nos sentimos assim nos braços ou na escuta de um amigo. É um aconchego estar perto de alguém que entenda as nossas tristezas e comemore as nossas alegrias. É um refúgio estar com uma pessoa que não nos deixa apreensivos sobre como devemos nos comportar, conversar ou interagir. O lar, enfim, segue conosco mesmo que estejamos a quilômetros de distância da casa física.
É também curioso como a gente pode se encontrar no nosso cantinho interior, mesmo que ele pareça bagunçado diante do olhar do outro. É como acontece no meu quarto: meu pai pode achar que nada faz sentido na disposição dos itens, mas não é à toa que a plaquinha de 'afeto cura' está na frente do laptop onde escrevo sobre os meus sentimentos.
Assim, eu me sinto em casa de diversas formas. Longe ou perto do meu CEP. Seja olhando as artes, memórias e fotografias que contam a minha história, ou saboreando a comida que só tem aqui. Ou ainda reforçando a descoberta de que a escrita é uma ótima moradia. Que sorte a minha ser habitante das palavras.
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