Publicado 30/06/2023 14:38
Rio - O esconderijo de Leandro Xavier da Silva, em um bunker do tráfico de drogas, expôs a aliança entre a milícia e o Terceiro Comando Puro (TCP), responsável pela guerra pelo controle de territórios contra o Comando Vermelho (CV). A disputa entre os grupos rivais vem provocando mortes e uma rotina de violência na Zona Oeste. Playboy da Curicica morreu, nesta quinta-feira (29), após ser baleado em uma ação da Polícia Civil, que o localizou na comunidade da Vila do Pinheiro, no Complexo da Maré, na Zona Norte.
Playboy estava escondido na comunidade com a proteção de traficantes do TCP, após a formação de uma aliança entre os grupos. As investigações identificaram essa união em janeiro, que foi estabelecida como forma de proteger as regiões comandadas pelo miliciano - como Curicica, Praça Seca, Gardênia Azul, Muzema, Rio das Pedras, Terreirão e Tijuquinha - de invasões do Comando Vermelho. Desde o ano passado, a facção tenta expandir os pontos de vendas de drogas em áreas historicamente dominadas por grupos paramilitares.
A aliança também vinha realizando ataques contra rivais e Leandro era um dos responsáveis por puxar as guerras, para ter o máximo de territórios sob domínio e conseguir expandir as atividades criminosas. A união entre a milícia e o TCP também funcionava como uma espécie de "troca de favores" entre os grupos, permitindo que o tráfico vendesse drogas nas áreas chefiadas por Playboy, enquanto os paramilitares exploram serviços como TV à cabo, internet, fornecimento de gás, transporte alternativo, grilagem de terrenos e venda de imóveis irregulares, além de extorsão de moradores, em comunidades dominadas pela facção.
Em entrevista após a morte de Playboy da Curicica, o delegado Mauro César, da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco), destacou que a partir da descoberta dessa união, foi possível elaborar relatórios sobre a necessidade da transferência de criminosos para presídios federais, como forma de evitar a atuação deles como líderes de facções criminosas, mesmo presos. Na terça (27) e quarta-feira (28), o Governo do Estado transferiu 13 traficantes do Complexo de Gericinó para penitenciárias em Catanduvas, no Paraná, e em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.
O delegado Fabrício Oliveira, da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE), afirmou que as investigações continuam para prender mais criminosos. "Não há diferença entre grupos de milicianos e grupos de narcotraficantes, eles estão realizando alianças e promovendo guerras no Rio de Janeiro. Essas guerras já levaram às mortes de inúmeros inocentes, provocam o caos e o terror para a população. A Polícia não vai descansar enquanto não conseguir capturar cada um desses líderes das organizações criminosas, sejam das facções do tráfico de drogas, sejam das milícias que estão provocando esse terror na Zona Oeste e em outros pontos do Rio de Janeiro", declarou.
Playboy da Curicica
A Draco e a Core pretendiam cumprir uma mandado de prisão contra o miliciano, encontrado na Vila do Pinheiro, nesta quinta-feira, mas ele resistiu à prisão e trocou tiros com agentes das especializadas. No confronto, Playboy e um segurança acabaram baleados e chegaram a ser socorridos para o Hospital Municipal Evandro Freire, na Ilha do Governador, mas nenhum dos dois resistiu aos ferimentos. Com eles, foram apreendidas duas pistolas com a numeração raspada.
Leandro era alvo de investigações desde o ano passado, por homicídio qualificado, roubo, extorsão, tortura, receptação, formação de milícia e organização criminosa. Com mandado de prisão em aberto, os agentes tentaram por pelo menos duas vezes prendê-lo, em maio e junho de 2022. A localização de Playboy foi resultado de um intenso trabalho de monitoramento e levantamento de informações, que levou cerca de dois meses. Nesse período, os policiais identificaram a residência onde o criminoso estava escondido.
Em agosto de 2022, a Draco, junto com policiais da 41ª DP (Tanque), conseguiram prender Playboy, mas ele foi colocado em liberdade no mês seguinte e assumiu o controle da milícia. Consolidado dentro do grupo paramilitar, ele explorava cobranças de taxas ilegais de segurança, comércio ilegal de gás, serviços de internet e TV à cabo clandestinos, transporte ilegal de passageiros, além de grilagem de terrenos e venda ilegal de imóveis.
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