Maria Salvadora Machado esteve na DHNSG, no Centro de Niterói, acompanhada do advogado e do neto de 16 anosMarcos Porto / Agência O Dia
Publicado 04/07/2023 17:21
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Rio - "Só espero que, depois disso tudo, alguém faça alguma coisa por mim", desabafou Maria Salvadora Silva Machado, de 60 anos, enquanto se preparava para prestar depoimento na Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSG), no Centro de Niterói. A dona de casa procura pela filha Viviane Machado Modesto da Silva, desaparecida desde 2008.
"A polícia tinha que ter investigado quando eu pedi ajuda. E eu não pedi pouco, pedi muito. Coisa que era para a polícia fazer, eles não fizeram e quem fez fui eu. Deixei de trabalhar, deixei de viver a minha vida para ficar de cidade em cidade atrás da minha filha e do meu neto. Onde eu soubesse que eles poderiam estar, eu estava lá. Toda cidade que eu ia, as pessoas falavam para eu esquecer porque minha filha poderia estar morta, depois de tantos anos. Mas uma mãe nunca vai botar no coração que a filha morreu", disse Maria ao DIA.
Há cerca de um mês, ela encontrou o neto que desapareceu junto com a mãe quando tinha apenas 1 ano. Ele estava em uma casa no município de Cachoeiras de Macacu, junto com o pai Marcos Paulo da Silva Pinto, apontado por Maria como o responsável pelos desaparecimentos. A dona de casa afirma que o adolescente de 16 anos não frequentou escolas e passa por tratamento psiquiátrico.
Viviane desapareceu em 2008 após viajar para Cabo Frio, na Região dos Lagos, com objetivo de ver o filho e participar de uma festa de aniversário organizada por Marcos. Desde então, Maria procurou a Polícia Civil para investigar o caso, mas não foi atendida da maneira que gostaria.
"A Justiça precisa me prestar contas porque eu pedi muita ajuda. Eu fui na delegacia das mulheres e me responderam: 'não tem corpo, dona Maria?'. Eu respondi que não, estava dando queixa porque ela estava desaparecida. Falei sobre meu neto e me responderam que 'pai não rapta filho'. E o que o pai fez com meu neto? Isso não é normal. Uma criança de 16 anos que não vai ao colégio, não sabe jogar bola, não teve infância porque o pai deixava trancado", lamentou.
Maria decidiu investigar o desaparecimento por conta própria. Em 2018, ela descobriu um endereço onde Marcos estaria morando, em Búzios. Ao chegar ao local, foi atendida pela filha do ex-marido de Viviane, que disse ter muito medo do pai e passou o endereço do local de trabalho dele, uma pousada. No estabelecimento, explicou o caso e o dono da pousada a levou para a 127ª DP (Búzios).
"O delegado disse que não conseguiria fazer nada, porque não tinha chegado nenhum documento da delegacia de São Gonçalo. Se tivessem ido na casa, teriam encontrado minha filha. Meses depois, chegou um recado que, na casa onde eu fui, minha filha estava dopada, em cima de uma cama e, quando eu saí da cidade, o Marcos havia matado minha filha", disse Maria sobre a última notícia que teve de Viviane.
Inicialmente, a ocorrência foi registrada na Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de São Gonçalo como sequestro e cárcere privado. Na especializada, o inquérito correu e foi encaminhado para o Ministério Público do Rio que, em 2015, recomendou o arquivamento à Justiça do Rio. 
Procurada, a Polícia Civil informou que o caso está em andamento na Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHSNG), onde corre sob sigilo.
"Como a operação está sigilosa, não podemos tecer muitos comentários a respeito. Com relação à investigação anterior, se tivesse sido conduzida da forma correta, a Viviane ainda estaria com a gente. O que acontece de fato é que pretos, pobres e favelados não têm voz na sociedade. Essa é a verdade. Se fosse o filho de um 'bacana' da Zona Sul, a história seria diferente. Com essa repercussão midiática, acreditamos que a investigação será conduzida da melhor forma", comentou o advogado Marcos Moraes, que representa a família de Viviane.
* Reportagem do estagiário Fred Vidal, sob supervisão de Thiago Antunes. Colaborou Marcos Porto
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