Pedro Ricardo Conceição da Rocha, o King, de 19 anos, é suspeito de criar grupos no Discord para cometer crimesReprodução
Publicado 06/07/2023 18:47 | Atualizado 06/07/2023 18:55
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Rio - A juíza Mariana Tavares Shu, do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ), manteve, após audiência de custódia realizada nesta quinta-feira (6), a prisão temporária de Pedro Ricardo Conceição da Rocha, de 19 anos, suspeito de ser o líder e criador de um grupo na plataforma Discord para promover estupro de vulnerável.
Em sua decisão, a magistrada julgou a legalidade do mandado de prisão contra o jovem e destacou que o documento é válido para manter a sua detenção. Pedro foi preso na terça-feira (4) na casa da avó, em Teresópolis, na Região Serrana do Rio, durante a operação Dark Room realizada por agentes da Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV).
O Discord é um aplicativo de comunicação com suporte a mensagens de texto, voz, chamadas de vídeo e entre outros, concebido inicialmente para a comunidade gamer, mas que acabou se popularizando entre os jovens e adolescentes para outros fins, onde usuários com interesses comuns se reúnem em grupos do aplicativo, chamados de servers (servidores).
Segundo investigações da DCAV, três servidores da plataforma eram utilizados por um mesmo grupo de jovens e adolescentes de várias regiões do país para cometerem atos de extrema violência contra animais e adolescentes, além de divulgarem pedofilia, zoofilia e fazerem apologia aberta ao racismo, nazismo e a misoginia. Pedro, conhecido como King na plataforma, é suspeito de ser o criador do maior dos três grupos.
Vídeos publicados na plataforma, e obtidos durante a investigação, mostravam ainda mutilações e sacrifícios de animais como parte de desafios impostos pelos criadores e administradores dos servidores como condição para membros ganharem cargos na comunidade, o que se traduzia principalmente em permissões e acesso às funções dentro do grupo. A maioria dessas ações era transmitida ao vivo em chamadas de vídeo para os integrantes dos servidores.
Adolescentes também eram chantageadas e constrangidas a se tronarem escravas sexuais dos líderes e eram vítimas dos estupros virtuais que eram transmitidos ao vivo por meio de chamadas de vídeo para os integrantes do servidor. Durante a sessão de sadismo as vítimas eram xingadas, humilhadas e obrigadas a se despir e se automutilar. Ao comando do seu “dono” faziam cortes com navalha nos braços, pernas, seios, genitália e tudo mais que mandassem fazer. Muitos espectadores daquilo que chamavam de 'panela' riam e vibravam com a crueldade, uma prática conhecida como "LULZ" (trolar e rir do sofrimento alheio).
Grupos públicos nas redes sociais eram criados posteriormente para publicar os vídeos e expor as vítimas dos estupros virtuais, numa prática conhecida como "exposed".
As vítimas, de várias regiões do Brasil, eram escolhidas no próprio Discord, em perfis abertos das redes sociais ou até mesmo indicadas por outros integrantes do grupo. Utilizando engenharia social e pesquisas em sites de bancos de dados de consulta de crédito e até de hospitais, os líderes obtinham e reuniam informações pessoais delas, numa prática conhecida como "DOXX". A partir daí iniciavam uma série de chantagens até conseguirem exercer domínio sobre a vítima.

Na primeira fase da operação, que ocorreu no último dia 27, dois adolescentes foram apreendidos. O de 17 anos, capturado em Pedra de Guaratiba, na Zona Oeste, era considerado um dos principais líderes do grupo. Mais de 12 pessoas foram presas/apreendidas pela Polícia Federal e Polícias Civis dos estados do país desde o início da força-tarefa.
Os envolvidos podem responder pelos crimes de associação criminosa, estupro de vulnerável e de vender ou expor a venda e armazenar foto, vídeo ou outro registro com cena de sexo explícito ou pornografia infanto-juvenil.
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