Publicado 17/07/2023 10:50
Rio - "Tenho certeza que morreu pelo susto, porque ela já estava se recuperando". O sentimento de indignação é de Elaine Marques 52 anos, filha de de Arlene Marques da Silva de 82 anos, que morreu após ficar sem atendimento médico durante a agressão de pai e filha contra uma médica plantonista do Hospital Municipal Francisco da Silva Telles, em Irajá, Zona Norte do Rio, que ocorreu na madrugada deste domingo (16). Os familiares da idosa estiveram no Instituto Médico Legal na manhã desta segunda-feira (17) para realizar a liberação do corpo.
De acordo com o delegado Geovan Omena, da 27ªDP (Vicente de Carvalho), André Luiz do Nascimento Soares e Samara Kiffini do Nascimento Soares foram autuados por homicídio doloso com dolo eventual por não se importarem com a vida dos pacientes ao invadir a sala vermelha da unidade.
De acordo com o delegado Geovan Omena, da 27ªDP (Vicente de Carvalho), André Luiz do Nascimento Soares e Samara Kiffini do Nascimento Soares foram autuados por homicídio doloso com dolo eventual por não se importarem com a vida dos pacientes ao invadir a sala vermelha da unidade.
Segundo testemunhas, André chegou a unidade com um corte no dedo, sem gravidade, acompanhado da filha. A confusão teria iniciado após funcionários pedirem que os dois aguardassem porque outros pacientes mais graves estavam sendo atendidos. No entanto, insatisfeitos com a demora, pai e filha quebraram vidros de portas e janelas do hospital e André agrediu com um soco a única médica que estava de plantão. A mulher teve um corte na parte interna da boca e precisou receber cinco pontos.
Em entrevista ao DIA, Elaine contou acreditar que a mãe levou um susto muito grande com a confusão e por isso não resistiu. "Eu quero fazer Justiça, porque isso não justifica, por causa de um cortezinho no dedo tirar a vida de uma pessoa que estava na sala vermelha. Tenho certeza que ela morreu pelo susto que ela teve, porque eu fui lá na hora da visita, mas por falta de segurança, aconteceu o que aconteceu. Disseram que ele (André Luiz) simulou que estava armado mas na verdade estava com uma pedra", contou.
Ainda de acordo com Elaine, Arlene já estava se recuperando após um infarto e provavelmente iria receber alta na próxima semana. "Ela já estava almoçando, jantando, eu ia lá cuidar dela, mas não podia dormir, então eu vinha para casa, mas ela já estava bem, não estava tão ruim assim. A médica falou que talvez já ia dar alta para ela semana que vem, ela estava lá há duas semanas", contou.
A vítima deixa 8 filhos, muitos netos e bisnetos. "Minha mãe era muito amada, muito querida e bem tratada demais para morrer dessa forma", disse a filha. O sepultamento de Arlene está marcado para às 16h15 no Cemitério de Irajá, na Zona Norte.
Elaine reforçou também que toda a família está sofrendo com a partida da matriarca. "Ela queria receber alta para ir para casa comer mocotó. Eu só quero Justiça! Me contaram que o cara chegou pedindo para ser socorrido porque tinha cortado o dedo, ele simulou que estava armado, entrou na sala vermelha, todo mundo correu, quando minha mãe viu ela começou a passar mal e a médica não pode socorrer porque ele estava socando o rosto dela. Agora está todo mundo sofrendo", lamentou.
Ainda de acordo com o delegado, após o episódio, já na delegacia, Samara ainda ameaçou a médica de morte e por isso também foi autuada também pelo crime de coação no curso do processo.
"A filha, virou para a médica que estava sendo ouvida e falou: 'Olha toma cuidado que isso não vai ficar assim não, quando eu sair eu vou te matar de tanto te agredir'. Nessa hora, ela recebeu voz de prisão também pelo crime de coação no curso do processo, porque quando a ameaça é em razão de um inquérito ou procedimento judicial que já está sendo apurado o crime é coação no curso do processo, que é a pena é bem mais grave", esclareceu.
Defesa alega inocência
A defesa do pai e filha, representada pelo advogado Cláudio Rodrigues, alega que os dois não têm culpa da morte da paciente e acusa o hospital de atendimento precário.
"A ré Samara também foi agredida na unidade hospitalar e está cheia de hematomas sobre o corpo. Tudo isso em razão da ausência de atendimento, pois quem conhece o PAM de Irajá sabe que o atendimento é bem precário. Inicialmente a defesa entende com a máxima vênia que acusar os réus de homicídio de um paciente que já estava internado naquela unidade possivelmente com um quadro clínico ruim, réus esses que também estavam naquela unidade desesperados por um atendimento que não alcança, é forçoso demais!", disse.
Ainda segundo a defesa, a verdade dos fatos deve ser apurada, visto que havia apenas uma médica de plantão na unidade.
"Equivocado querer culpar duas pessoas, um pai e uma filha que estão sofrendo, que também são vítimas do péssimo estado de saúde do estado é forçoso demais. Querer culpar duas pessoas com a idoneidade comprovado pela ineficiência do estado não me parece justo. Uma ressalva importante é que as testemunhas são pessoas envolvidas. As enfermeiras e a médica. Havendo dúvidas, os réus devem ser soltos e responder em liberdade até ser apurada a verdade real dos fatos", complementou.
O advogado também alega que a investigação foi realizada de forma simplória.
O que diz a SMS
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde explicou que no setor de clínica médica desta unidade, o plantão noturno é composto por dois médicos, mas que um dos profissionais escalados para esta noite teve um problema de saúde e não pôde comparecer.
"Todas as unidades da SMS contam com profissionais de vigilância desarmados. Em caso de alguma intercorrência, as autoridades policiais são acionadas", disse.
A direção da unidade informou ainda que repudia agressões a profissionais de saúde. "Cada vez que uma situação como esta ocorre, torna-se mais difícil a contratação de profissionais para a composição dos quadros funcionais", finalizou.
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