Publicado 31/07/2023 14:44
Rio - O marido de Nathalia Cristiny Candido Lacerda, de 33 anos, afirmou que não havia blitz nas proximidades da comunidade da Ficap, na Pavuna, Zona Norte do Rio, no momento em que ela foi baleada por policiais militares, no domingo (30). Segundo a PM, o veículo em que a dona de casa estava não teria obedecido a uma ordem de parada, na esquina da Avenida Coronel Phidias Távora com a Rua Benjamim da Silva, e um agente atirou, acertando a mulher.
Por volta das 5h, Nathália voltava de uma festa em Vista Alegre, também na Zona Norte, junto com o marido, a filha de 7 anos e outras três pessoas, e estava sentada no banco de trás com a menina, o companheiro e uma amiga. De acordo com o ajudante de carga e descarga, que não quis se identificar, a viatura da PM estava escondida na Rua Benjamim da Silva, que estava com pouca iluminação, quando os policiais correram e fizeram um disparo.
Ainda segundo o marido, o grupo acreditou que os agentes teriam atirado para cima, como alerta, e pararam o carro. No momento que desciam, a mulher disse que suas costas estavam ardendo e caiu no banco do automóvel. O homem diz ainda que os policiais se aproximaram e um deles, ao ver a dona de casa, disse: 'baleei uma mulher' e teria ficado nervoso. Nathália foi colocada na viatura para ser levada ao hospital, mas o companheiro precisou pedir para que os PMs ligassem o giroflex, ou não chegariam a tempo de socorrê-la.
Depois que a vítima deu entrada no hospital, os ocupantes do veículo foram levados para a 39ª DP (Pavuna) para prestar depoimento. Na distrital, o ajudante relatou que os agentes afirmaram que o carro estava em perseguição e que teria furado um bloqueio. A versão foi negada por ele, que reafirmou que estavam trafegando em baixa velocidade, por causa dos quebra-molas na via, e que o veículo não tinha os vidros escuros.
"(O sentimento) é de impunidade. Se a gente não corre atrás, o socorro ia ser precário, chegando é como se fosse um bandido, joga no hospital e dane-se. Veio outro policial e acompanhou a gente, fomos para a delegacia e entre meia hora e uma hora depois, os policiais que estavam na ocorrência foram aparecer, já foram com outra versão, falando que a gente estava em perseguição, que a gente furou bloqueio com blitz. Quero saber que blitz é essa, quero o documento deles mostrando que ali tinha uma blitz nessa hora", disse o marido.
Por causa do ferimento, a mulher passou por uma cirurgia para a retirada de um dos rins, além de partes do intestino e do fígado. De acordo com o marido, ela está em coma no Centro de Terapia Intensiva (CTI) do Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha. A Secretaria de Estado de Saúde informou que o estado de saúde de Nathália é grave. "A criança (filha da vítima) está traumatizada, porque viu tudo. Ela é uma criança esperta, tanto que ela falou: 'Se é só a gente que está no carro, esse tiro era para mim'", relatou o ajudante.
Procurada, a PM informou que o comando determinou a instauração de um Inquérito Policial Militar (IPM) pela Corregedoria para investigar as circunstâncias da ação e que as imagens das Câmeras Operacionais (COP) serão analisadas no inquérito. "É importante informar que para casos como este, o procedimento ensinado em todas as escolas de formação é que seja montado um cerco tático, por meio do acionamento de viaturas, para que os policiais possam interceptar o veículo em fuga e realizar a abordagem policial", informou a corporação.
A PM ressaltou ainda que "não compactua com nenhum desvio de conduta ou cometimento de crimes por parte de seus entes, punindo com rigor os envolvidos quando constatados os fatos. Os policiais envolvidos foram afastados do serviço nas ruas e a instituição colabora integralmente com as investigações da Polícia Civil".
Em nota, a Polícia Civil informou que as investigações estão em andamento para esclarecer os fatos.
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