Neste ano, 163.386 alunos já ficaram sem aula em decorrência de confrontos armadosDivulgação / Prefeitura do Rio
Publicado 01/08/2023 11:36 | Atualizado 02/08/2023 12:37
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Rio - Um levantamento feito pela Secretaria Municipal de Educação (SME) revela que, só no primeiro semestre deste ano, 2.129 escolas municipais ficaram fechadas por conta da constante violência armada que assola a cidade do Rio. Este número representa um aumento de quase 100% em relação ao mesmo período de 2022.
Segundo a SME, no primeiro semestre do ano passado, foram registradas 1.078 unidades escolares fechadas. A pasta informou que ao longo de 2022 houve 2.128 fechamentos: número inferior ao primeiro semestre de 2023.
Ao DIA, Daniel Hirata, professor de sociologia e coordenador do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (UFF), disse que os impactos no sistema escolar são reflexos do aumento de conflitos armados no Rio. Além disso, Daniel relembrou uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
"Este ano tem sido mais conflituoso do que 2022. Temos confrontos entre milícias, facções, além das operações policiais ocorrendo de forma mais intensa. Importante lembrar que existe uma decisão do STF, que diz sobre a segurança eficaz nos perímetros escolares. Passado mais de um ano desta decisão, a pergunta que fica é: quais as providências que estão sendo construídas para resolver essa situação?", indagou o professor.
Hirata, ainda, explicou sobre as consequências da falta de uma política de segurança assertiva. "Além do acesso às escolas, a insegurança pública impacta outras dimensões da vida coletiva no Rio, como a saúde, a impossibilidade das pessoas de irem trabalhar: existe uma interrupção forçada na rotina. É importante que se construa uma política eficaz. Além de alunos sem aula, temos estatísticas alarmantes de jovens vítimas de bala perdida. Uma situação dramática", completou.
Cerca de 160 mil alunos foram impactados em decorrência da violência armada em 2022, e 405 unidades tiveram, pelo menos, um dia letivo interrompido. Já neste ano, 163.386 jovem foram afetados e 500 escolas perderam um dia de aula.

O secretário de Educação, Renan Ferreirinha, comentou sobre o levantamento. "Existe toda uma geração de alunos que estão tendo seu ensino prejudicado por conta da insegurança e dos confrontos armados. É inconcebível um aluno perder 21 dias letivos, como já aconteceu em uma de nossas escolas este ano, por causa da violência", disse o secretário.

O programa Acesso Mais Seguro tem o objetivo de garantir a segurança de alunos e de toda a comunidade escolar. No entanto, segundo a SME, com o crescimento da violência armada, seja em operações policiais, brigas entre facções ou disputas da milícia, é impossível que o programa pedagógico não seja comprometido.
O especialista em segurança pública, José Bandeira, detalhou sua visão diante dos números divulgados pela SME. "Estes números são um reflexo das política de enfrentamento empregadas no Rio. Além das ações policiais que desencadeiam em tiroteios, também há uma expansão do crime organizado - tanto do tráfico, quanto da milícia. E os confrontos armados causam efeitos colaterais catastróficos, principalmente para estudantes de colégios em regiões conflituosas. Vale lembrar, que esta política de enfrentamento não resultou na retomada de nenhum território dominado", disse.
José afirmou que enxerga uma solução. "Investir em ferramentas de inteligência e investigações, que são capazes de impedir que drogas, armas e munições cheguem às comunidades conflagradas. E, através destas ferramentas, a polícia consegue fazer operações mais assertivas. Quanto ao alunos, que necessitam estudar nessas escolas em áreas de risco, a situação é delicada. São traumas irreversíveis. É preciso que as secretarias de Educação e Saúdem implementem uma política pública de saúde mental para esses jovens", disse o especialista.

Ferreirinha também contou sobre o cenário incerto que as escolas vivem diariamente. "É surreal que tenha passado a ser parte da nossa rotina entender se todo dia vamos conseguir abrir nossas escolas ou não. Isso não pode ser normal. Tem alguma coisa muito errada na segurança pública quando a gente deixa de se concentrar no aprendizado pra poder entender se vamos conseguir abrir as unidades escolares".
*Reportagem do estagiário Leonardo Marchetti, sob supervisão de Iuri Corsini
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