Publicado 08/08/2023 12:09
Rio - "Nós estamos dilacerados", assim terminou o desabafo de Joyce Tavares, filha de Jorge Tavares e sobrinha de Zico Bacana, mortos durante um ataque a tiros na tarde da última segunda-feira (7), em Guadalupe, na Zona Norte do Rio. Ela, acompanhada de outros familiares, esteve no Instituto Médico Legal (IML) no Centro do Rio, para reconhecimento e liberação dos corpos na manhã desta terça-feira (8), onde alegou que seu tio, assim como a família, sofriam ameaças "todos os dias".
Além dos irmãos, Marlon Correia dos Santos também morreu, mas ainda não se sabe se ele estaria junto ou não de Zico. Uma quarta vítima, que seria segurança de Bacana, ficou ferida. O ataque ocorreu na na Rua Enéas Martins esquina com Francisco Portela.
Em meio a muitas lágrimas, Joyce contou que seu tio se recusava a sair do bairro e o deixar entregue à criminalidade, mesmo correndo risco de vida e sob ameaças de criminosos.
“Eles foram mortos ontem covardemente numa padaria, eles foram nascidos e criados ali [no bairro], se recusavam sair do bairro. Ele [Zico] falava: 'Minha sobrinha, se eu sair daqui, Guadalupe acaba, vai ter que todo mundo ir embora porque os bandidos querem tomar conta disso aqui. Enquanto eu estiver vivo, vou lutar porque eu, como policial, ainda tenho voz'. Ele chamava a polícia porque a gente estava vivendo coagido. Eu tive que sair da minha casa, porque os bandidos foram na minha porta”, expôs.
Além dos irmãos, Marlon Correia dos Santos também morreu, mas ainda não se sabe se ele estaria junto ou não de Zico. Uma quarta vítima, que seria segurança de Bacana, ficou ferida. O ataque ocorreu na na Rua Enéas Martins esquina com Francisco Portela.
Em meio a muitas lágrimas, Joyce contou que seu tio se recusava a sair do bairro e o deixar entregue à criminalidade, mesmo correndo risco de vida e sob ameaças de criminosos.
“Eles foram mortos ontem covardemente numa padaria, eles foram nascidos e criados ali [no bairro], se recusavam sair do bairro. Ele [Zico] falava: 'Minha sobrinha, se eu sair daqui, Guadalupe acaba, vai ter que todo mundo ir embora porque os bandidos querem tomar conta disso aqui. Enquanto eu estiver vivo, vou lutar porque eu, como policial, ainda tenho voz'. Ele chamava a polícia porque a gente estava vivendo coagido. Eu tive que sair da minha casa, porque os bandidos foram na minha porta”, expôs.
A mulher ainda relatou que seu tio sofria ameaças diárias, com requintes de crueldade, dos traficantes da região e que, mesmo assim, não sentia medo de continuar no local.
“Meu tio sofria ameaça todo dia, a gente sofria ameaça, eles falavam que iam arrancar a cabeça do meu tio que iam matar, iam fazer acontecer e ele lutava em prol do bairro. Ele estava aí, tem nas redes sociais, lutando para ter esgoto, saneamento, ajudava a população. Podem ir lá em Guadalupe e perguntar aos moradores o que que ele fazia”, disse.
Em uma dessas ameaças, ela precisou abandonar sua casa, ao lado de suas duas filhas, após um dos criminosos ir até a sua casa.“Em março desse ano, eu tive que sair com a minha filha bebezinha, com a minha outra maior e meu marido foi expulso da minha casa. A gente vivia coagida”, relatou.
Em seu relato, Joyce assumiu que a família tem certeza que o crime foi orquestrado pelo tráfico local, já que, após o anúncio da morte dos três, os criminosos realizaram um baile com música alta e até mesmo soltaram fogos.
“Tenho certeza que foi o tráfico de drogas. Eles fizeram baile ontem, tocaram músicas altas, soltaram fogos. Eles comemoraram. Eles são lá de trás, do gogó [os traficantes que atuam na região], todo mundo sabe, só que tem medo. Agora como vão ficar meus parentes lá? Eu tenho os tios, tenho os primos, primas, está todo mundo com medo, todo mundo silenciado”, comentou.
A mulher ainda falou sobre os rumores do seu tio ser envolvido com a milícia e negou que fosse verdade: “Meu tio não era miliciano, ele não merece morrer com esse rótulo, ele não merecia morrer, mas merece ser lembrado como um policial, um político que lutava pelo bairro, era um pai de família, um tio, um irmão. E meu pai, um homem trabalhador, íntegro, aposentado. Eles estavam lá só bebendo a cervejinha deles e não faziam mal para ninguém”.
O deputado federal Pedro Paulo (PSD) usou as redes sociais para se despedir do amigo e fazer uma homenagem. Na publicação, ele conta que os dois estavam juntos no último sábado (5).
"Hoje, perdi um amigo. Jair Barbosa Tavares, carinhosamente chamado Zico Bacana, porque era mesmo, e muito! Ex-policial, ex-vereador, o conhecia de alguns esbarrões da política e de encontros com amigos em comum. Contudo, nesses últimos dois anos e meio, estávamos muito próximos. Tudo culpa de um amigo de nós dois. A partir daí, o trabalho pela região e pela política me fizeram conhecer um pouco mais uma outra face desse baixinho do bem. Pai amado, Filho querido, Irmão generoso e Marido dedicado, um grande amigo, leal, correto. Humilde e ralador. Zico Bacana foi baleado de forma vil, covarde, a poucos metros de sua casa. Ele e seu querido irmão Jorge. Estive com meu parceiro, aliás, com o Jorge também, neste último sábado. Trabalhamos duro, visitamos obras, anunciamos outras, planejávamos mais outras tantas, todas na Zona Norte, em especial de Guadalupe, seu bairro do coração", diz parte do texto.
Quem era Zico Bacana?
Jair Barbosa Tavares, de 53 anos, conhecido como Zico Bacana, era ex-policial militar e foi citado na CPI das Milícias, em 2008, por uma possível ligação com milicianos que atuavam em Guadalupe. Ele chegou a ser ouvido como testemunha no processo que investiga o assassinato de Marielle Franco. O ex-vereador já havia sido alvo de uma tentativa de homicídio em novembro de 2020. Na ocasião, ele foi baleado de raspão na cabeça em um bar em Ricardo de Albuquerque, também na Zona Norte.
Horas antes do ataque desta segunda, o ex-vereador gravou vídeos mostrando a realização de uma obra da prefeitura na Rua Manuel Barata. Ele era muito engajado e usava as redes sociais para falar sobre assuntos relacionados à política. Zico também tinha uma relação próxima com o prefeito do Rio, Eduardo Paes. Em julho, durante uma entrega de obras, Paes exaltou a importância do ex-vereador para o bairro de Guadalupe.
Zico deixa mulher e três filhos. Ele será sepultado na manhã desta quarta-feira (8) no Cemitério de Irajá, na Zona Norte do Rio, às 11h. O velório começa às 7h. Já o garçom Marlon dos Santos, de 35 anos, será enterrado também nesta quarta-feira (8) no Cemitério de Ricardo de Albuquerque. Ainda não há informações sobre o enterro de Jorge Tavares, irmão de Zico.
Jair Barbosa Tavares, de 53 anos, conhecido como Zico Bacana, era ex-policial militar e foi citado na CPI das Milícias, em 2008, por uma possível ligação com milicianos que atuavam em Guadalupe. Ele chegou a ser ouvido como testemunha no processo que investiga o assassinato de Marielle Franco. O ex-vereador já havia sido alvo de uma tentativa de homicídio em novembro de 2020. Na ocasião, ele foi baleado de raspão na cabeça em um bar em Ricardo de Albuquerque, também na Zona Norte.
Horas antes do ataque desta segunda, o ex-vereador gravou vídeos mostrando a realização de uma obra da prefeitura na Rua Manuel Barata. Ele era muito engajado e usava as redes sociais para falar sobre assuntos relacionados à política. Zico também tinha uma relação próxima com o prefeito do Rio, Eduardo Paes. Em julho, durante uma entrega de obras, Paes exaltou a importância do ex-vereador para o bairro de Guadalupe.
Zico deixa mulher e três filhos. Ele será sepultado na manhã desta quarta-feira (8) no Cemitério de Irajá, na Zona Norte do Rio, às 11h. O velório começa às 7h. Já o garçom Marlon dos Santos, de 35 anos, será enterrado também nesta quarta-feira (8) no Cemitério de Ricardo de Albuquerque. Ainda não há informações sobre o enterro de Jorge Tavares, irmão de Zico.
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