Publicado 15/09/2023 18:30
Rio - Um evento histórico-cultural tem chamado a atenção de cariocas e turistas no Centro do Rio. Aos sábados e domingos, o restaurante Sobrado da Cidade e a Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores promovem uma experiência que remete ao fim do século XIX, com um banquete de café da manhã completo, passeio em pontos históricos e uma missa com coral de 15 vozes e orquestra.
O cardápio oferecido pelo restaurante foi elaborado em parceria com uma pesquisadora que estudou as receitas saboreadas pelos antigos cariocas. A refeição é apresentada por Nathalia Vivaqua, especialista em gastronomia cultural e mestranda em História, que conta detalhes sobre os costumes da época. Para deixar o café ainda mais agradável, a estrutura do estabelecimento, um casarão construído em 1865, impressiona com seus azulejos holandeses originais.
A grande sensação do banquete é a rabanada servida com redução de vinho do Porto. Em conversa com o DIA, a dona do restaurante, Carla Esteves Teixeira, contou sobre a importância de conhecer a parte da histórica da cidade e se deliciar com as iguarias preparadas dentro do tema de época.
"A gente aborda a gastronomia dos últimos 10 anos do século XIX, a época Vitoriana. Temos um cardápio em francês, onde a pesquisadora explica o porquê das pessoas sentarem em forma de banquete e o motivo de serem consumidos aqueles alimentos. Ela conta o aspecto histórico, trazendo um olhar gastronômico da época. O Rio de Janeiro é uma cidade que oferece muitas oportunidades para quem busca diversão, entretenimento. A parte histórica é o coração dessa cidade porque é o coração da história do Brasil. Tudo começou ali. A questão da abordagem histórica é realmente preservar a nossa cultura. Nossa comida é temperada com cultura", comentou.
A interação no restaurante dura cerca de 1h30 e, em seguida, Nathalia convida os clientes para um passeio nos principais pontos históricos que ficam no entorno do estabelecimento, na região da Praça XV. Por ali, aconteceram importantes eventos, como a chegada da família real no Brasil, em 1808, e o Dia do Fico, quando Dom Pedro proclamou, em 1822, que não cumpriria as ordens das Cortes portuguesas que exigiam sua volta a Lisboa.
O passeio termina na Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, reaberta em junho deste anos após uma reforma promovida pelo empresário Cláudio André de Castro. Inaugurada em 1750, a igreja é uma das primeiras construções tombadas na cidade pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e conta com traços nos estilos rococó e barroco.
Ao DIA, Cláudio ressaltou que, em breve, terminará a restauração do carrilhão, um conjunto de 12 sinos com diferentes notas que são comandadas por um console - como se fosse um piano. Doado à igreja pelo Barão da Lagoa, este é o primeiro carrilhão de sinos do Brasil e estava desativado desde o século XIX.
"De março para cá, restauramos a igreja inteira, colocamos o relógio dela para funcionar, o sino para tocar de hora em hora... A missa tem sido um grande sucesso de público, está lotando mesmo em dias de chuva! A região vem florescendo muito e creio que com essa iniciativa da igreja, desde que ela começou a ficar tão linda, muita coisa aconteceu. Acabou de abrir uma galeria de arte em frente, restaurantes… Então, nós fizemos essa parceria com o restaurante Sobrado da Cidade. Eu e a Carla nos encontramos no dia da inauguração e ela se apaixonou por ver a igreja totalmente restaurada, exatamente como ela era no século XIX", contou.
"A Carla já tinha um plano antigo de fazer um Café Histórico e, quando viu a missa na Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, ficou fascinada. Finalmente poderia dar ao cliente uma experiência de terminar a refeição, caminhar pelo Centro, na região que está linda, super ativa, super segura e policiada, e, ao fim de uma hora de caminhada, a pessoa chega meio-dia em ponto na frente da igreja, onde os sinos estão tocando, para assistir a missa em latim. É uma missa que fazemos com procissão de entrada, com vários acólitos, arte sacra do século XVIII, cruzes processionais, estandarte com a Irmandade… Estamos fazendo lá tudo que se usava no século XVIII em uma bela liturgia católica", concluiu Claudio.
Para dar um desfecho inspirado na época Vitoriana, a missa solene conta com um coral de 15 vozes e orquestra que apresenta músicas clássicas. A cantora Juliana Sucupira afirma que belas harmonias têm feito sucesso e atraem cada vez mais interessados.
"Nessas missas, nós trazemos ao público peças eruditas, clássicas, como Händel e Mozart. São peças para coro e orquestra belíssimas que têm contribuindo para atrair muita gente para essas missas que contam com verdadeiros concertos ao longo do ritual religioso. O passeio é mais um movimento que vem somar ao processo de revitalização pelo qual vem passando o Centro Histórico do Rio. O Centro estava tão abandonado, vazio, com tantos imóveis sem uso, e o que vemos são empresários investindo e acreditando na região que é tão bonita, de uma riqueza arquitetônica e histórica. Nesse contexto, o meu coral e orquestra fazerem parte disso é uma honra, um orgulho", celebrou Juliana ao DIA.
O evento dura quatro horas, começando às 9h30 no restaurante e se encerrando após a missa que inicia ao meio-dia. Para participar, os interessados devem fazer a reserva junto ao estabelecimento por meio do WhatsApp de número (21) 97978-4353. Sempre aos sábados e domingos, são 48 lugares disponíveis e o custo total é de R$ 300 por pessoa.
Leia mais
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.