Antiga casa onde foi gravado O Sítio do Picapau Amarelo foi restaurada e é aberta à visitaçãoPedro Ivo / Agência O Dia
Publicado 18/09/2023 06:00 | Atualizado 18/09/2023 10:38
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Rio – A casa cenográfica do 'Sítio do Picapau Amarelo' está ao alcance de um ingresso. O sítio onde foi gravada a quarta versão do programa infantil, baseado na obra de Monteiro Lobato (1882-1948), foi totalmente restaurado e está aberto à visitação do público mediante reserva e pagamento de uma taxa de R$ 20.
Localizado na Estrada Roberto Burle Marx, em Barra de Guaratiba, Zona Oeste, o ambiente serviu de locação para a TV Globo produzir a série entre 1977 e 1986. Após a transferência das gravações para um sítio em Jacarepaguá, mais próximo da Central Globo de Produção, o lugar definhou por falta de recursos da família proprietária. Os belos cenários que marcaram as travessuras de Emília, Narizinho e Pedrinho se transformaram em mato, lama e limo. Com a morte do patriarca, os filhos lotearam o imóvel, que foi vendido em partes. A artesã Marlete Galdino, de 51 anos, conseguiu se apropriar da casa e arredores. O espaço onde ficava instalada a fictícia cidade Arraial dos Tucanos, onde as personagens Tia Anastácia e Dona Benta faziam compras, foi adquirido por outro proprietário.
Vizinha do sítio desde que nasceu, Marlete cresceu com o movimento das gravações praticamente no seu quintal. O sítio fica a poucos metros da casa onde morava com a família. Quando criança, ela chegou a participar de alguns episódios como figurante. Em 2017, vendeu a casa e o carro e comprou o lote, que vem restaurando desde então.
A renovação contemplou o telhado, janelas, vidros, poço artesiano, fogão à lenha, móveis e utensílios. Além de não contar com nenhum item ou objeto, a casa estava em ruínas, e tinha até pichações. O telhado e as janelas tiveram que ser refeitos, respeitando as formas originais. Já o poço artesiano teve que ser construído novamente, pois dele só restava a marcação no chão.
Atualmente, os reparos acontecem em pequenos detalhes, como a porta do fogão à lenha, recentemente pintada pela própria Marlete. As novidades ficam por conta de uma cozinha fora da casa, onde a artesã prepara café da manhã e da tarde para o visitante que deseja ter uma refeição no cenário de suas memórias de infância, ambos com bolinhos de chuva feitos na hora. O café simples é servido com café, leite e pão, e o completo leva pão, bolo, frutas, frios, angu doce, ovos, suco, achocolatado e leite.
Aberto ao público como a 'Antiga Casa do Sítio' (por causa de direitos autorais, não se pode usar a denominação 'Sítio do Picapau Amarelo'), o lugar busca despertar a nostalgia do passado, realizando o sonho de muita gente.
A esteticista Patrícia Duarte, de 48 anos, já visitou o sítio cinco vezes em um mesmo ano. Ela diz que ainda neste mês fará a sexta visita à casa:
"Estou sempre indo ao sítio, inclusive fui no dia em que a atriz Izabella Bicalho, que interpretou a Narizinho, estava por lá. A primeira vez que eu fui e até hoje é muita emoção. Pois assistia ao 'Sítio' na década de setenta e me vieram muitas lembranças. Eu sempre assistia com a minha avó e era lindo. Indo ao sítio, tudo volta à mente e é extremamente emocionante", recorda Patrícia, que colaborou com o acervo da casa ao presentear o local com uma licoreira idêntica à usada nas gravações.
Nando Brito, de 52, ator e produtor de São Paulo, chegou a visitar o lugar quando ainda estava abandonado, mas ainda o descreve como mágico: "O sítio estava em uma situação complicada, e foi triste ver, pois é um lugar que tem uma memória emotiva muito grande para mim. Mas ao mesmo tempo fiquei feliz por estar lá, mesmo nas condições que o lugar se encontrava, achei bem interessante estar naquele lugar em que várias histórias e magias aconteceram".
"Eu assistia ao Sítio com cerca de quatro anos. O programa era o culpado por eu não escovar os dentes e nem lavar o rosto pela manhã, pois eu acordava e já ia para a sala ver a série. Na verdade, nem café eu tomava, eu já ia para frente da TV assistir ao programa. Eu amava a Emília e amava a atriz Reny de Oliveira, que vivia o papel. Mesmo criança, eu conseguia perceber quando trocava a atriz que interpretava a personagem, e a que eu mais gostei foi a Reny, eu era apaixonado por ela”, completa Nando que, coincidentemente, trabalhou no Teatro Taib, onde Reny começou a carreira de atriz e foi "descoberta" por um olheiro da Rede Globo.
A visita ao sítio provocou em Nando sentimentos que foram além da série televisiva: "Foi um resgate de toda a minha infância. Lembrei do meu pai e da minha mãe que não estão mais comigo. Às vezes eu cheiro um pão da época que assistia ao Sítio e até aquele aroma me traz lembranças de quando eu era menino. Era uma época maravilhosa. O Sítio significou tanto para mim que fui três vezes ao lugar. É um lugar mágico que me lembra da melhor fase da minha vida. Pretendo ir novamente muito em breve", garante.
Recordações cercadas de emoções também tomaram conta do enfermeiro Renato Portes, 48, de Caraguatatuba, litoral de São Paulo. Ele veio ao Rio de Janeiro com um destino certo: A Antiga Casa do Sítio. Este foi o único motivo da viagem.
"A partir do momento que eu cruzei aquele portão a minha vida retrocedeu para a minha infância. Foi a realização de um sonho, foi a vivencia de algo que eu esperava muito. Eu aguardava a qualquer momento a Tia Anastácia sair da cozinha, a Emília e o Visconde de Sabugosa andarem por aquele quintal, a Narizinho sair da varanda com o Pedrinho. Senti que realizei uma grande parte do meu sonho que era viver esse momento no sítio, olhar o azulejo, a casa restaurada, a janela onde o Minotauro apareceu. Eu coloquei no celular cenas daquela época e fui assistindo durante a minha visita ao sítio, comparando os lugares onde eu estava e Emília, Visconde e Tia Anastácia estiveram. Foi um momento único e sublime da minha vida, nunca vou esquecer", afirma, comovido.
Marlete cuidou com esmero dos cenários, dando tratamento de época aos ambientes. Sem nenhum objeto ou mobília disponível na casa, ela seguiu à risca a cenografia criada pelo figurinista Arlindo Rodrigues, responsável pela ambientação do programa de 1977, para reproduzir o universo criado para a série. Com as referências, garimpou e encomendou móveis, objetos e prateleiras, além de ter ganhado presentes. A prateleira de ferro que compõe o fogão, por exemplo, foi feita pelo marido de Patrícia, que é serralheiro, enquanto o Galo do Vento, instalado no telhado, foi levado por uma visitante de Minas Gerais. Já os objetos do quarto de Narizinho foram criados por Marlete. Aos poucos, a casa vai se tornando completa. Pronta para resgatar memórias de infância ela já está.
Serviço:
Endereço: Estrada Roberto Burle Marx, 6.820 – Barra de Guaratiba.
Valores: A visita custa R$ 20 (criança paga meia). O café simples sai a R$ 25, e o completo, a R$ 50.
Funcionamento: quarta a domingo, das 9h às 16h.


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