MPF investiga a responsabilidade do Banco do Brasil no tráfico de pessoas negras escravizadasReprodução
Publicado 03/10/2023 19:35 | Atualizado 03/10/2023 21:11
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Rio - Representantes do Movimento Negro e ativistas vão se reunir com o Ministério Público Federal (MPF) nesta quarta-feira (4), no Centro do Rio, para discutir reparações aos descendentes da população negra escravizada após a abertura de um inquérito pela Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão no Rio de Janeiro (PRDC/RJ), que apura as responsabilidades e a participação do Banco do Brasil na escravidão e no tráfico de pessoas negras no século 19.
A reunião tem como objetivo cobrar por reparações de instituições brasileiras, tanto estatais quanto privadas, que de alguma forma tenham participado ou fomentado a escravidão no país. Durante o encontro, também será apresentada uma nota de apoio à iniciativa do MPF.
Uma pesquisa feita por um grupo de 14 historiadores de 11 universidades aponta que houve negação e silêncio sobre a participação das instituições brasileiras na escravização de pessoas.
No caso do Banco do Brasil, os pesquisadores constataram uma relação de "mão dupla" da instituição financeira com a economia escravista da época, evidenciada pelo quadro de sócios e pela diretoria do banco, formados em grande parte por pessoas ligadas ao comércio clandestino de africanos e à escravidão.
Também estarão presentes o procurador regional dos direitos do cidadão do MPF, Júlio Araújo, e a presidente da Comissão Especial de Combate ao Racismo da Câmara do Rio, vereadora Mônica Cunha, além de membros da sociedade civil.
Investigação
O despacho do MPF, assinado pelos procuradores Jaime Mitropoulos, Julio José Araujo Junior e Aline Caixeta, dá um prazo de 20 dias para que o banco apresente suas considerações sobre a pesquisa que deu origem a investigação, informe sua posição a respeito da sua relação com o tráfico de pessoas negras escravizadas, informe a existência de pesquisas financiadas pelo Banco do Brasil para avaliar a narrativa sobre a sua própria história, preste informações sobre a relação do banco com traficantes de pessoas e sobre financiamentos relacionados com a escravidão.
Por fim, o órgão pede que sejam informadas as iniciativas do banco com finalidades específicas de reparação em relação a esse período. Pede também que seja agendada uma reunião com presidência do Banco do Brasil no próximo dia 27 de outubro.
Em nota, o Banco do Brasil informou que "busca promover a igualdade racial e está à disposição do Ministério Público Federal para continuar protagonizando e envolver toda a sociedade na busca pela aceleração do processo de reparação", diz o comunicado. Confira abaixo o posicionamento na íntegra.
"O Banco do Brasil considera que a história do país e suas relações com a escravidão das comunidades negras precisam ser um processo de reflexão permanente. Em relação à reparação histórica, o BB entende que essa é uma responsabilidade de toda a sociedade. É essa necessidade de amplo envolvimento do país com o tema que norteou a criação dos ministérios dos Direitos Humanos, Dos Povos Indígenas, da Igualdade Racial e Da Mulher. Também foi recriado o Ministério da Cultura. Tudo isso para acelerar a tomada de consciência e a criação de medidas efetivas de reparação.

O Banco do Brasil tem sido uma das empresas brasileiras que mais tem contribuído nesse sentido. Em julho deste ano, o BB assinou Protocolo de Intenções com o Ministério da Igualdade Racial, a fim de unir esforços em ações direcionadas à superação da discriminação racial, à inclusão e à valorização das mulheres negras, com o objetivo de fixar e promover:

- o ingresso de jovens negras no mercado de trabalho;
- a valorização de iniciativas e produções de mulheres negras, sobretudo aquelas que se referirem a projetos culturais;
- ações de fomento ao empreendedorismo e fortalecimento de micro e pequenos negócios de mulheres negras;
- o estímulo à ocupação equilibrada de espaços de lideranças no BB, considerando o respeito à diversidade étnica e de gênero;
- e apoio mútuo e intercâmbio de experiências no sentido de ampliar as políticas afirmativas internas de raça e gênero, trazendo uma perspectiva interseccional às iniciativas em curso ou a serem realizadas no BB.

Em agosto deste ano, o Banco do Brasil tornou-se embaixador de três importantes movimentos de Direitos Humanos da Rede Brasil do Pacto Global da ONU: “Elas lideras 2030”, “Raça é Prioridade” e “Salário Digno”, que buscam mobilizar empresas e organizar empresas para o alcance do ODS.

No mesmo mês, o BB foi selecionado para compor a carteira do índice de diversidade da B3 (iDiversa B3), que inclui 79 ativos de 75 empresas, abrangendo dez setores econômicos. O BB ocupa lugar de destaque, com maior peso na composição do índice, pois possui um dos conselhos de administração mais diversos do mercado, composto por 50% de mulheres e 25% de pessoas autodeclaradas negras.

Também em agosto, em parceria com a Universidade Zumbi dos Palmares, o Banco do Brasil, renovando a parceria assinada em 2018, assinou a carta de adesão à Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, que é um movimento formado por empresas e instituições comprometidas com a promoção da inclusão racial e a superação do racismo no ambiente corporativo e em toda a sua cadeia de valor.

Como empresa que busca promover a igualdade racial, o Banco do Brasil está à disposição do Ministério Público Federal para continuar protagonizando e envolver toda a sociedade na busca pela aceleração do processo de reparação".
 
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