Publicado 23/10/2023 15:31
Rio - A família de Carlos Alex Iris, de 49 anos, morto durante uma operação da Polícia Militar no Morro da Caixa d'Água, na Zona Oeste do Rio, esteve no Instituto Médico Legal (IML), na região central da cidade, para liberar o corpo nesta segunda-feira (23). O irmão de Carlos, Alexandre Iris da Conceição, afirmou que ele não tinha envolvimento com o crime, como a PM alegou, e estava trabalhando no momento da ação.
"A polícia matou meu irmão. Ele trabalha de moto e é funcionário de um hospital, tem carteira assinada há muito tempo. Na comunidade, você não tem direito de trabalhar à noite, de andar à noite. Não estamos contra a polícia, que tem o direito de fazer o serviço dela. Todos na comunidade aceitam o serviço da polícia. Só que não aceitamos o que eles têm feito. Se matou um bandido e um trabalhador, fala que é trabalhador. Não dá mais para aceitar isso. Colocar todo mundo junto em um mesmo saco", disse Alexandre.
"Tudo para a gente, na comunidade, é mais difícil. É porque temos uma casa mais feia, então é mais difícil. Se mora na comunidade e é da cor, é mais difícil. Para quem mora na 'pista', Copacabana, é fácil. Quem mora na comunidade não tem chance", concluiu.
Em nota, a PM alegou que três homens trocaram tiros com agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) durante uma ação de patrulhamento no Morro da Caixa D'Água. Carlos e outros dois homens foram encaminhados ao Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, mas não resistiram. Os policiais apreenderam uma réplica de fuzil, carregadores de pistola, munições, rádios e drogas.
A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) informou que investiga a morte dos três homens durante a ação da PM com objetivo de esclarecer o caso. O comando do Bope instaurou um procedimento interno para apuar as circunstâncias.
O representante comercial Thiago Nascimento, amigo de Carlos há cerca de 20 anos, também esteve no IML. Ele contesta a versão da PM e diz que o mototaxista mora na comunidade desde que nasceu, é casado há 26 anos e nunca se envolveu com organizações criminosas.
"Infelizmente, as notas estão saindo que ele era um dos criminosos, mas ele não fazia parte de nenhum grupo criminoso. Era um cara honesto e trabalhador, que estava correndo atrás dos seus sonhos. Estava terminando de construir a sua casa. É uma pessoa íntegra, idônea, de coração enorme... Estamos tristes com tudo que aconteceu e, principalmente, por estarem tentando vincular ele a grupos criminosos que ele nunca fez parte. Não tivemos nenhum retorno oficial da Polícia Militar, mas nas redes sociais do Bope sinalizam que três criminosos foram mortos. Além de toda nossa dor, ver isso está sendo muito sofrido. Ele mora na comunidade desde que nasceu e é casado há 26 anos. Desejo que se faça justiça, não vinculem a imagem dele aos criminoso, é isso que a família pede. Sempre foi trabalhador e honesto", disse Thiago.
Carlos trabalhava como auxiliar de serviços gerais no Super Centro Carioca de Saúde, também conhecido como Hospital do Olho, localizado em Benfica, na Zona Norte. Ele tinha seis filhos, sendo que um deles, de 17 anos, tem problemas de saúde. Segundo Alexandre, Carlos passou a trabalhar à noite como mototaxista e entregador por aplicativo para aumentar a renda da família.
O Instituto de Desenvolvimento Institucional e Ação Social (Ideias), responsável pela administração do hospital, lamentou a morte do funcionário. "Respeitado por todos, foi um excelente profissional. O Instituto Ideias se solidariza com familiares e amigos", informou por meio de nota.
* Colaborou Reginaldo Pimenta
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