Projeto levou atendimento jurídico a presídio na Baixada FluminenseReprodurção / TJRJ
Publicado 28/10/2023 13:13
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Rio - O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, em parceria com outras instituições, promoveu, nesta sexta-feira (27), um mutirão na Penitenciária Milton Dias Moreira, em Japeri, na Baixada. A ação, que integra o programa Justiça Itinerante nos Presídios, levou cidadania para os detentos.
"Eu estava muito angustiada por não me identificar como homem. Fico agradecida e aliviada pela oportunidade que o Justiça Itinerante está me proporcionando. Ao sair daqui só quero saber de estudar e trabalhar sendo eu mesma ", disse a detenta Kelly (nome fictício), que recebeu a requalificação civil para o gênero feminino. Ela foi uma das primeiras a contar com o atendimento jurídico voltado para a população LGBTQIAPN+ dentro das unidades.
Nesta edição, o programa fez 159 atendimentos, sendo três de redesignação e outros três de registro tardio. A iniciativa acontece dois meses depois de uma reunião entre a coordenadora do Justiça Itinerante, desembargadora Cristina Tereza Gaulia, o juiz Marcel Laguna Duque Estrada, da Vara de Execuções Penais (VEP), e a secretária de Administração Penitenciária (Seap), Maria Rosa Lo Nuca Nebel.

O juiz da Comarca de Japeri, Leopoldo Mendes Júnior, que participou pela primeira vez de uma audiência de redesignação, considerou o trabalho importante. "Nossa atividade de juiz criminal é um pouco limitada e poder participar dessa ação, de uma maneira mais direta, é muito interessante e gratificante. No caso da Kelly, observei que ela estava angustiada e é natural. Afinal, ela se sente mulher. Ela chegou a perguntar: 'Posso pedir para as pessoas me chamar de Kelly?', e eu disse: 'Você agora assina como Kelly', sem questionamentos", contou o magistrado.

Nascida em São João de Meriti, na Baixada, Lorraine (nome fictício) contou que foi obrigada a deixar a sua casa aos 13 anos após revelar para a família não se identificar como gênero masculino. Abandonou os estudos e foi morar na comunidade do Jacarezinho, na Zona Norte, e acabou se envolvendo com o crime. Aos 29 anos, cumpre pena por assalto à mão armada.

“Minha história começou desde nova, quando fui reprimida pelos meus pais. Me sinto mulher desde a adolescência e, a partir de agora, vou recuperar a autoestima que tento ter há tanto tempo a partir da iniciativa do Justiça Itinerante no Presídio”, disse Lorraine.

Leonardo Leal do Nascimento, agente penitenciário do Milton Dias Moreira, disse que a penitenciária abriga presos que não se identificam com nenhuma facção criminosa - são cerca de 20 internos LGBTQIAPN+ dentro do universo de 2.040 detentos. Para ele, o mais importante é manter o diálogo aberto.

"Desde que eu cheguei na unidade, há três meses, tenho sempre me preocupado em ouvir os detentos. A própria Secretaria tem uma coordenação destinada ao público LGBTQIAPN+, e as demandas são passadas para a direção", esclareceu o servidor.

Desde junho de 2021, uma parceria entre o TJRJ e o Governo do Estado garante a identificação civil da população carcerária. O projeto conta, ainda, com as parcerias da Secretaria de Estado de Administração Judiciária (Seap), do Detran, do Ministério Público e da Defensoria Pública. As informações estão no site do TJRJ.
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