Castelo da Fiocruz recebe projeções antirracistas no Dia da Consciência Negra

Rio - O Castelo de Manguinhos, sede e símbolo máximo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vai projetar frases antirracistas na noite desta segunda-feira (20), Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. A ação tem o objetivo de chamar a atenção para a importância do enfrentamento permanente ao racismo. Apesar de vir iluminando o prédio histórico com cores diversas, de acordo com datas temáticas, há alguns anos, esta é a primeira vez que a estrutura terá dizeres.

A iniciativa foi realizada pela Coordenação de Comunicação Social (CCS/Fiocruz), em parceria com o Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) e da Coordenação de Equidade, Diversidade, Inclusão e Políticas Afirmativas (Cedipa/Fiocruz). A última foi criada em março de 2023, para implementar ações que assegurem a efetivação das políticas institucionais para equidade, diversidade, inclusão e políticas afirmativas, reconhecendo a pluralidade da instituição como um valor.

Responsável pelo eixo Relações Étnico-Raciais da Cedipa e integrante da coordenação colegiada do Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fundação, a assistente social Roseli Rocha descreveu as projeções como um marco e oportunidade de destacar a relevância da data. 

"Uma oportunidade importante para dar visibilidade às pautas do movimento negro e mostrar o compromisso da Fiocruz com as práticas antirracistas (...) A Fiocruz acaba de aprovar a sua Política de Equidade Étnico-Racial e de Gênero e essa iniciativa se insere em uma proposta político-pedagógica que busca mobilizar a comunidade para a relevância da data e ampliar esforços no enfrentamento ao racismo", afirma Rocha. 

A assistente social destacou ainda que as frases pretendem transmitir a importância das lutas históricas do movimento negro. "A projeção é uma grande inovação e as frases foram pensadas a partir de dois eixos: um que transmita a noção de celebração da data e a outras lutas históricas do movimento negro, e outro que expresse o protesto e a reivindicação do enfrentamento do racismo. As frases e palavras, para além da celebração, mostram que estamos vivos, apesar de muitos não desejarem isso, e resistimos ao processo de embranquecimento e às múltiplas expressões do racismo que permanecem em curso". 

De acordo com Roseli, os negros representam mais de 75% das vítimas de homicídios do país e, sendo a maioria constituída por jovens negros entre 15 e 29 anos. O grupo também é a maioria da população encarcerada, em situação de rua e em condições precárias de trabalho e moradia. Ela também lamentou que o Dia da Consciência Negra seja feriado somente nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Alagoas, Amapá e Mato Grosso e em alguns municípios.

"Há uma quantidade imensa de mulheres negras que sofrem violência obstétrica e elas também têm altos índices de mortalidade materna, entre tantos dados que revelam o racismo estrutural. E este se manifesta de diferentes formas, tais como o racismo religioso contra as religiões de matrizes africanas, em que crianças negras adeptas dessas religiões são apedrejadas e hostilizadas nas ruas, e até em ambiente escolar. E como o racismo recreativo, que expõe pessoas negras a situações vexatórias, por meio de apelidos e ações que ridicularizam e desumanizam", disse Roseli, que é formada em Serviço Social, com mestrado em Política Social e doutorado em Serviço Social, além de professora na pós-graduação do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF) da Fiocruz.

Segundo a Fiocruz, as palavras e frases selecionadas reforçam o compromisso com a luta antirracista e, entre outros temas, abordam a cultura negra, a importância das vidas negras, as ações afirmativas, a ancestralidade, a resistência e a Política Nacional da Saúde Integral da População Negra: "Essa Política, que foi instituída em 2009, infelizmente ainda continua pouco conhecida, mesmo nas graduações e pós-graduações de formação para profissionais de saúde. Embora a equidade seja um dos princípios do SUS, muitos profissionais de saúde não sabem de sua existência. Também lembram que o racismo é crime e que as ações afirmativas, que muitos, infelizmente, ainda veem como benesse, são, na verdade, uma importante política de reparação histórica". 

Além das projeções, durante todo o mês, a Fiocruz vai promover a Agenda Novembro Negro, que tem o objetivo de reunir as atividades desenvolvidas pelas unidades da Fundação e representa o compromisso com a promoção da igualdade racial, a valorização da diversidade e o enfrentamento ao racismo. "Em uma sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista", completou Rocha, citando a frase da escritora americana Angela Davis.