Comando Vermelho utilizou esquema de empresa paraguaia para comprar armamento pesadoWikimedia Commons/Reprodução
Publicado 11/12/2023 16:40 | Atualizado 11/12/2023 16:54
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São Paulo - A Polícia Federal identificou integrantes do PCC e do Comando Vermelho que compravam arsenal de grande poder destrutivo — pistolas, fuzis, munições — e drogas da organização desmontada pela Operação Dakovo, investigação sobre 'complexo e multimilionário' esquema de importação e tráfico internacional de armas a partir do Paraguai junto a países europeus, Croácia, Turquia, República Tcheca e Eslovênia.
De acordo com os investigadores, Professor e Vietnã, quadros das principais facções criminosas do País, negociavam os armamentos e drogas com Angel Antonio Flecha Barrios, um intermediário do esquema.
Foi a partir da interceptação de conversas entre os faccionados e o traficante de armas que a PF chegou ao "núcleo de compradores" no Brasil. Segundo a PF, "pessoas pertencentes a facções criminosas, que negociam junto a outros membros da organização criminosa a internalização ilícita de armas e drogas para abastecimento de suas organizações".
Também fazem parte desse núcleo outros seis alvos da Operação Dakovo: Bolt, Sem Cabelo, Avião, Beio, Adilson de Souza Pereira e Edgar Jose de Souza Espondola. A Justiça Federal na Bahia, estado onde fica baseada a Operação Dakovo, decretou a prisão preventiva de todos os suspeitos.
Os compradores das armas ilegais estão na ponta do esquema centralizado na empresa IAS-PY, International Auto Supply S.A. Sediada em Assunção e comandada pelo argentino Diego Hernan Dirisio, ela importava grande quantidade de armas da Europa e as revendia no mercado clandestino, especialmente para grupos criminosos sediados Ciudad Del Este — que faz fronteira com Foz de Iguaçu —, para abastecimento de facções criminosas no Brasil.
As armas da IAS não eram negociadas diretamente pela empresa com as facções criminosas. Elas eram adquiridas por grupos criminosos atuantes da fronteira, normalmente com serviço de raspagem dos números de série incluído, e, então, as quadrilhas revendiam os armamentos para facções e milícias no Brasil.
As negociatas entre os compradores de armas e os intermediários do esquema de tráfico internacional permitiram à PF mapear o fluxo de armamentos para as principais facções brasileiras.
Compradores
Fhilipp da Silva Gregório, o Professor, apontado como um dos principais líderes do Comando Vermelho. Em meio às mensagens trocadas entre Professor e Angel, a PF identificou diálogos para a compra de armas e drogas, inclusive com envio de imagens de fuzis e de plantações de maconha.
Ainda de acordo com a PF, trabalham com Professor os investigados Allan David Omena da Rocha, o Bolt, e Ricardo Rangel da Silva, o Sem Cabelo.
Bolt, segundo os investigadores, é um dos responsáveis por operacionalizar a chegada de armamentos e drogas e sua distribuição no Complexo do Alemão, na Zona Norte. Ele teria ido até o Paraguai para se encontrar com Angel, buscar as armas e trazê-las para o Brasil.
Sem Cabelo é apontado como comprador de armas da IAS e facilitador da entrada do arsenal no Brasil. Ex-policial militar, ele foi preso em julho de 2022 com carregamento de drogas. A Polícia Federal constatou sua ligação com outro intermediário do esquema de tráfico internacional de armas a partir do Paraguai, Júlio Cesar Cubas Cantero.
Marcos Paulo Nunes da Silva — conhecido como Baianinho', Vietnã ou Djaga — é apontado pela Polícia Federal como 'integrante de destaque do PCC e um dos principais compradores de armas e drogas no Brasil. Segundo os investigadores, ele é responsável pela coordenação executiva da facção, com 'alto grau de hierarquia na estrutura' da quadrilha. Também tem uma 'antiga e extensa' ficha criminal.
A PF recuperou conversas entre Marcos Paulo e Angel Barros, indicando que este fornece entorpecentes regularmente e com grande frequência ao elo do PCC. Na representação à Justiça, os investigadores argumentaram como o "tráfico de drogas está fortemente conectado com o tráfico de armas uma vez que os grupos organizados que comercializam drogas necessitam de armas para combater grupos rivais e forças de segurança".
Marcos Paulo e Angel teriam se encontrado no Paraguai, entre 8 e 12 de julho do ano passado, de acordo com os investigadores. Os indícios desse encontro estão ligados a uma conversa em que ambos tratam da viagem.
A PF também identificou um "possível desentendimento acerca de pagamentos por cargas ilícitas encaminhadas, inclusive acerca de uma dívida de 700 quilos de entorpecentes que teriam sido apreendidos".
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