Viúva e filha do cinegrafista Santiago Andrade chegando no TJRJ para o julgamentoMarcos Porto/Agência O DIA
Publicado 12/12/2023 14:55 | Atualizado 12/12/2023 17:35
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Rio - A mulher e a filha do cinegrafista da TV Bandeirantes, Santiago Andrade, morto em 2014, compareceram nesta terça-feira (12) ao Tribunal de Justiça do Rio para o julgamento do caso. A viúva Arlita e a filha Vanessa Andrade reforçaram o pedido de condenação dos réus Caio Silva de Souza e Fábio Raposo Barbosa.

Caio e Fábio são acusados de acender o artefato explosivo que atingiu Santiago durante um protesto no Centro do Rio. O repórter cinematográfico estava no local para fazer a cobertura para a TV Bandeirantes. Ele chegou a ser socorrido e encaminhado ao Hospital Souza Aguiar, mas morreu quatro dias depois.

"Eles disseram que queriam atingir um policial. Disseram na delegacia, mas atingiram o Santiago, que era um ser humano igual ao policial. Ele estava de costas, filmando a confusão. Então nem conseguiu se defender. O que acho mais doloroso é que ele caiu de costas e todo ensanguentado, segurando a câmera, a companheira dele. É uma imagem que não sai da minha cabeça", disse a viúva.

Abalada, Arlita disse que a tristeza continua mesmo após quase 10 anos. "Queremos que todo mundo saiba que continua uma mágoa, uma angústia. Gostaria que isso fosse resolvido. Uma pessoa que não fez mal a ninguém. Uma pessoa que me acolheu. Mesmo mais jovem do que eu, ele me aceitou. Eu era divorciada e já tinha três filhos, mas ele me aceitou", disse.

A viúva reforçou ainda a falta que faz o marido. "Ele conheceu alguns dos meus netos, que ele chamava de netinhos do coração, mas morreu antes de conhecer a dele de sangue. Ele não teve o prazer de ver ela. Quando ela pergunta pelo vovô, a gente fala que ele está no céu. Às vezes, ela vê a foto dele e fala: 'olha o meu vovô São Tiago', porque ela não sabe dizer"

Tanto ela quanto a filha, Vanessa Andrade, esperam que os réus paguem pelo crime. "Eu gostaria que esses meninos pagassem pelo que eles fizeram. Eles já vinham com esse rojão na mochila e estavam com uma intenção que não era boa. Tanto não foi, que meu marido hoje não está entre a gente", disse Arlita.

Arlita chegou a comentar a repercussão do caso e a última imagem que tem do marido. "Todo mundo, no mundo inteiro viu. Vão achar que foi uma brincadeira? Fizeram isso porque eram jovens? Como assim? O mundo todo presenciou meu marido com a cabeça toda estourada. Ele caído com 45% da massa encefálica no chão, junto dele. Ele ao lado da câmera dele", finalizou a viúva.

Enquanto a filha reforçou ser inadmissível alguém achar que os acusados saíram de casa sem a intenção de machucar outras pessoas. "São quase dez anos da gente esperando que aconteça alguma coisa. Hoje estamos muito perto de tornar nosso sonho realidade, que é ver esse crime com a pena que ele merece de homicídio doloso. A partir do momento que eles acendem e atiram um rojão diante daquela multidão, com tanta gente ali que poderia ser vítima, inclusive qualquer um de nós, eles tinham a intenção de machucar ou até matar alguém, e infelizmente foi o meu pai", disse.

Vanessa explicou também o vazio e a dor da família durante a espera pelo júri. "Não dá para a gente aceitar nesses 10 anos que isso fique impune. A gente já está sofrendo muito. São muitos anos de uma família sentindo essa falta e vazio. Uma dor que não conseguimos mensurar. Que hoje seja o início do fim! Queremos encerrar essa página e ter um novo caminho para trilhar. Esperamos que o júri entenda assim e nos tire esse nó da garganta. Que eles nos deem o direito de ter essa Justiça", pediu.

A filha voltou a dizer que os dois não podem ficar impunes e os chamou de assassinos. "Meu pai não merecia isso, foi um sofrimento que nenhuma família deveria passar. Eles estão impunes, enquanto nós estamos presos em uma prisão solitária, cansativa, com uma dor que ninguém consegue imaginar”, lamentou.

Por fim, Vanessa espera que o julgamento seja encerrado e que os dois réus condenados para que a família possa ter um pouco de conforto. "Somos eu e minha mãe seguindo um caminho e perguntando quando teremos o privilégio de ter uma vida sem ressentimento, mágoa de ter um caso concluído. Eles estão aí, seguindo a vida deles, tendo a oportunidade de refazer a vida, mas e a família? Quanto tempo mais vamos ter que esperar por isso?".
Réus vão a júri popular
De acordo com a advogada Carolina Heringer, que representa a família de Santiago, os dois vão a júri popular. "Serão ouvidos primeiro as testemunhas de acusação, em seguida as de defesa, depois os réus serão ouvidos. Haverá também um debate das defesas e depois os jurados darão o veredito", disse.
O julgamento iniciou por volta das 13h no III Tribunal do Júri da Capital. Dentre as testemunhas de acusação estão Maurício Luciano, Domingos Rodrigues Peixoto, Carlos Henrique e Eduardo Fazzolo. 

Já as testemunhas de defesa de Caio são Marcelo Shaurel, Luiz Rodolfo de Barros Correa. Todas as testemunhas de Fábio foram dispensadas.
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